| FICÇÃO ADOLESCENTE | L |
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"É que a gente quer crescer
E quando cresce quer voltar do início
Porque um joelho ralado dói bem menos que um coração partido"
Era Uma Vez, Kell Smith
Allegra Martins é uma garota tão peculiar quanto o...
O melhor lugar no mundo É dentro de um abraço Pro mais velho ou pro mais novo Pra alguém apaixonado, alguém medroso (Dentro de um abraço, Jota Quest)
Depois de muito pensar, ela decidiu conversar com a avó. A senhora estava encarando as roupas do falecido marido enquanto deixava as lágrimas banharem o rosto marcado pelo tempo.
Allegra respirou fundo, tentando encontrar forças para aquilo. Ela pigarreou, atraindo a atenção da mulher. Esta virou o rosto em sua direção, lançando um sorriso fraco.
— Oi, vó.
— Está melhor de verdade, Allegra? — A garota fez que sim, sentando ao seu lado. — Sabe, me desculpa por aquilo. Pensei que você iria conseguir, querida.
— Não, tudo bem.
Ambas fitaram a cesta de roupas. Os olhares distantes e perdidos eram tão parecidos que dava um certo desconforto nas duas. O silêncio que as encobria era algo bastante desconfortável. Aquele clima era tão confuso. Ao mesmo tempo que gerava um certo mal-estar, também causava uma sensação de que não havia palavras para preencher aquele lugar. Talvez o silêncio fosse o ideal naquela circunstância...
— Eu sinto muita falta dele.
— Eu também. — A senhora suspirou, tocando os tecidos. — Muita falta mesmo. — Mordeu os lábios. — Achei que se eu me livrasse dessas coisas, eu não sofreria tanto, sabe? Achei que a dor não iria ser tão constante, mas acho que isso nunca vai mudar.
— Vó, eu te entendo.
— Você não entende, meu amor. — Ela soltou um pesaroso suspiro, virando o rosto em direção ao da garota. — Não é como se você tivesse convivido por mais de cinquenta anos com uma pessoa e a amado com todo o seu coração. Sei que ele era muito importante para você, mas você ainda não sabe o que é isso.
— Não faço a mínima ideia.
— Eu casei muito jovem. E meus pais meio que me abandonaram na primeira dificuldade que passei depois de casada. Eu também não queria a ajuda de ninguém. Nós não queríamos...
Alegria não conseguia mais lutar com aquela cascata que saía de seus olhos. A pobre mulher ao seu lado também não.
— Por mais que eu tente, eu nunca vou sentir essa dor menor. Não é o fato de eu me livrar das coisas dele que vai me deixar menos pior. Não importa! — Allegra segurou suas mãos com delicadeza. Seus olhares se encontraram. — Eu nunca vou conseguir deixar para trás as lembranças dele. Não tem como esquecer o que está cravado no coração.
— Ele sempre vai estar com a gente. Independentemente de qualquer maneira, o vovô sempre estará com a gente.
— Sim, ele estará.
Ambas se abraçaram forte. Se abraçaram como se aquela fosse a última chance de realizar tal ato. O choro foi o que as embalou naquela demonstração de afeto mais que rotineiro.
E era como se Allegra sentisse ou soubesse que seu avô certamente estaria num canto qualquer, sorrindo e chorando com aquela cena. Ele iria estar sorrindo, com certeza.
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