Capítulo 2

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Termino de escrever a última das vinte cartas que mandarei para as meninas do reino e suspiro jogando a caneta na mesa.

Não era dessa forma que eu pretendia arranjar uma esposa, mas infelizmente é preciso, vivo uma vida em que não tenho escolhas.
Tenho certeza que não vou achar alguém que me ame de verdade, apenas garotas jovens que estão loucas para aparecer na televisão e posteriormente ficarem ricas, Elizabeth disse que com o tempo e convivência eles começarem a se amar, e eu só espero que aconteça a mesma coisa comigo e com a tal escolhida.

Mal sabe essas meninas que estão prestes a cometer uma grande loucura, a partir do momento que entrarem no palácio a vida delas irá acabar, não terão mais liberdade, passarão a viver cercada de regras e limites. Tenho tanta dó dessas meninas, e mais ainda da escolhida.

Eu não quero e nem sei se consigo ser rei, eu tenho que comandar as coisas, tenho que ser severo e digamos que não consigo, eu literalmente, sou uma mosca morta. Como vou comandar, colocar moral nisso, se meu coração é mole?

Eu não sei quase nada desse reino, passei a metade da minha vida trancado em um colégio que ensina coisas do tipo, mas eu não tive vontade e consequentemente não aprendi nada.
Eu só queria saber dos meus pais, só queria ir embora para a minha casa e conviver com meus pais, ser amado por eles, mas não, eles nunca se importaram comigo, e agora do nada, cismaram que eu tenho que vir comandar isso.

Levanto-me da cama e vou para a varanda, sentir o ar fresco da noite irá me fazer bem. Ali naquela varanda do hotel em que estou hospedado, vendo lá ao longe uma torre do palácio, comecei a me perguntar o que estou fazendo de minha vida vida, mesmo sendo sido criado para ser rei, eu nunca tive responsabilidades antes e não é agora que terei.

Depois de um longo tempo ali, resolvo voltar ao quarto, antes mesmo de sentar-me na cama, ouço batidas na porta e depois de bufar e xingar mil e uma coisas, vou até lá, abrindo a mesma, tento sorrir ao ver Elizabeth ali, mas tenho certeza que a única feição que consegui fazer foi de "Você aqui?" Ou "O que eu fiz pra merecer isso"

- Andrews, meu filho. Vim te chamar para o jantar. - Ela adentrou meu quarto, sem minha permissão. Pelo menos ela não desvendou a minha cara, certeza que ela iria começar com seus dramas, "Ó Andrews. Por que você não me ama? O que eu te fi?" Minha vontade é de responder "Vai ver que é porque você, junto com seu maridinho, me abandonou aqui e deixou com que eu passasse minha infância e adolescência inteira dentro de uma escola real."

Esses dois vão se arrepender de ter me abandonado ali, ó se vão, eu vou fazer com que eles se arrependem amargamente por ter me colocado naquela escola desgraçada.

- Estou sem fome, Elizabeth.

- Mãe, Andrews, sou sua mãe.

Infelizmente.

- Você não almoçou e pelo o que sei, não pediu café à tarde.

- Como já disse, estou sem fome. - Murmuro indo até a sacada.

- Andrews. Seu pai deseja vê-lo, não o faça ficar irritado.

- Ó... É mesmo... Havia me esquecido que tenho que fazer tudo que o rei quer. - andei até a porta, e ao não sentir sua presença, viro-me para trás. - Vamos?

- Sim, meu filho amado.

"Amado" É rir pra não chorar.

Subimos as escadas rapidamente e ouço Dominic me chamar assim que a porta se abriu. Belo jeito de chamar atenção. - Que saudade de você. - Ele me deu um abraço apertado

Se queria tanto chamar atenção, era só ter me avisado que eu viria pelado.

- Nos vimos não tem nem 1 hora, Dominic. - Falei, me sentando em uma cadeira, um pouco afastada de tudo.

- Foram 18 anos longe filho. Você não imagina a falta que fez.

Sentiram tanto a minha falta que nem se deram ao trabalho de ir me visitar, e olha que eles vieram milhares de vezes aqui, a trabalho, claro.

- Sei. - Murmurei revirando os olhos.

- Não vejo a hora de apresentar esse meu filho lindo à todas as damas de Luxúria.

- Essa minha ideia de criar uma seleção foi otima, não é? - Elizabeth assentiu sorrindo. Puxa saco.

- Já tenho minha favorita, Thalia Barks, ela é linda, educada e filha de um grande amigo nosso. - Elizabeth falou sorrindo.

- São todas da casta A?

- Não, várias da casta B e uma da casta C, Aurora Benfica, uma neguinha filha de costureira e sapateiro.

- Ela não é negra, Dominic.

- Passou de branco pra mim, é negro.

O que uma garota da casta C estaria fazendo lá?

- As cartas já estão prontas.

- Um guarda irá pegá-las.

Continuei a comer enquanto os mesmos discutiam sobre o reino.
Então já sei de algumas coisas sobre o que me espera em Luxúria, e com essas descobertas minha vontade de sumir, aumentou ainda mais.

- Você não acha, Andrews? - Elizabeth falou me fazendo sair dos devaneios.

- Perdão, eu estava em outra era. - Ri fraco.

- Um quase rei não deve falar dessa maneira, Andrews, e deve estar sempre atento com tudo. Tenho certeza que naquela escola te ensinaram isso.

Se ensinaram, eu esqueci, ou como sempre, não prestei atenção na aula.

- Voltando ao antigo assunto... Você não acha que devemos fazer uma festa? O futuro rei de Luxúria tem que ser recebido com festa.

- Não, Elizabeth. Não quero festas.

- Mas Andrews.

- Espero que respeite esse meu desejo. - Tentei soar sério.

- Está vendo? Andrews não gosta de festas.

Mal sabe ele que eu fugia da escola todas as noites para ir em festas com os amigos.

O resto da noite foi tranquilo, meu pai começou a falar sobre negócios e eu apenas fingia que estava o ouvindo. Consegui saí de lá quando um guarda foi me pedir as chaves do quarto para pegar as tais cartas, e com a desculpa que estava muito cansado, consegui fazer com que eles me liberassem.

O início e fim de uma seleçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora