O início e fim de uma seleção

Capítulo 10

Os dias se passaram lentamente, não fazíamos nada, além de frequentar as aulas de etiquetas, e de línguas estrangeiras.
É bem rara a minha saída do quarto, faço minhas refeições aqui. O tédio é enorme, passo a maior parte do tempo lendo ou ajudando as meninas a fazer meus vestidos, cada um mais lindo que o outro.
Eu e Andrews nunca mais conversamos, ele sempre aterafado com as tarefas do reino, e eu sempre fugindo dele, e posso dizer que está tudo bonito, assim que tem que ser. As vezes eu me pego pensando nele, mas sempre faço questão de afastar esses malditos pensamentos, o que eu sinto por ele não é recíproco, fim.

- Aurora. - Saio dos devaneios quando ouço Cleusa me chamar. - Arrume-se para descer. A família real almoçará com vocês hoje. - Suspiro-me e levanto-me da cama.

Caminho até o banheiro e lavo meu rosto, após secá-lo passo um rímel nos cílios, e um batom rosa claro na boca. Volto ao quarto e ando até as meninas, elas já estão com o vestido em mãos.

- Mude essa cara, menina. A família real irá estranhar.

- Dane-se. - Sento-me na cama e calço meus sapatos. - Já posso ir? - Pergunto a elas assim que me levanto da cama.

- Sim. Está linda. - Viro-me e saio andando.

Passo pelo corredor de cabeça baixa e me arrastando, literalmente, não cumprimento os guardas como de costume, não estou no clima.

- Aurora. - Escuto uma voz super conhecida por mim e que eu queria muito esquecer, parei no mesmo momento, não viro-me para trás, mas pelo seu cheiro sabia que ele estava proximo. - Como você está? - Ele parou na minha frente.

- Bem... E você?

- Estou indo, um pouco cansado, mas nada que a preocupe.

Eu não iria me preocupar.

- Uhn... - Seguro a barra do meu vestido e começo a descer as escadas.

- Após o almoço espere-me no salão principal. - Assinto devagar.

Espero que seja um encontro ligado ao reino e essa seleção bosta.

Quando entramos na sala de jantar todos os olhares vieram para nós, sentei-me um pouco afastada de todos e comecei a me servir.

O que será que Andrews quer? Pelo visto as outras meninas não estão sabendo, elas estão muito calmas e pelo o que acabei de ouvir vão tirar a tarde para cuidar "ainda mais" da beleza.

Minhas mãos começaram a soar e sem querer eu deixei com que uma almôndega caía no meu vestido.

- Merda. - Murmuro e pego um guardanapo limpando-me.

- Está tudo bem, Aurora? - Levanto a minha cabeça e arqueio a testa ao ver os olhares de todos direcionados a mim.

- Claro. - Forço um sorriso à rainha e abaixo minha cabeça vendo que o borrado do meu vestido está ainda maior, resolvo deixar aquilo de lado e focar no meu prato.

Depois de me retirar da mesa subo para o meu quarto, pouco me importo se Andrews pediu ou não para eu espera-lo, só irei descer quando terminar de me arrumar, não estou me arrumando para ele, claro que não, ou estou? NÃO. Provavelmente iremos sair, e não quero que as pessoas achem que eu sou uma desleixada.

- Desde quando você se importa com o que as pessoas acham? - Cleusa perguntou fazendo-me a olhar com o meu melhor olhar mortal.

- Desde sempre.

- Você está se arrumando para o Andrews, infelizmente. - Lupe falou, suspirando.

- Claro que não.

- Pare de mentir para si mesma, Aurora você está apaixonada por ele.

- Não estou. Não estou. - Falei a última frase olhando-as ainda mais séria. - Não voltem a afirmar isso. - Abro a porta do quarto e saio dali o mais rápido que posso.

Quando me preparo para descer as escadas vejo Andrews assentado no sofá.

Fui muito grossa com as meninas, afs.

- Demorou.

- Aonde vamos?

- No cinema.

Lembro-me de Carl desde a última eliminação eu não o vi, não pude nem remarcar a nossa ida ao cinema.

- Por onde anda Carl? - Ele estalou a língua no céu da boca e suspirou.

- Pra que quer saber?

- Estou preocupada.

Minto. Eu não estou preocupada com Carl, só vi nele um grande causador de ciúmes no Andrews.

- Ele está bem.

- Onde?

- Na Tailândia.

- Tão longe.

Murmuro.

- Saudades?

- Também.

Quando chegamos no final do corredor, um guarda abriu uma grande porta de maneira, Andrews agradeceu-o e entramos, arregalo os meus olhos e sorrio. Isso aqui é lindo. Tem uma televisão gigante na frente de tudo e uma cama enorme, essa cama deve ter uns quinze metros de largura, vai de um lado do quarto até o outro, tem vários travesseiros espalhados por ela.

- Gostou?

- Sim. - Murmuro baixo.

- Então vamos nos deitar. Eu escolhi um filme de ação, se quiser trocar.

- Não. Tudo bem. - Sento-me do lado oposto da cama e cruzo minhas pernas.

***

O filme acabou e eu continuava ali na mesma posição que estava, Andrews estava me encarando bastante e isso já estava me irritando.

- Vou pedir o jantar. - Ele se levantou e eu continuei a encarar os créditos, só encarar, por que ler mesmo não dava, as letras são minúsculas.
Pouco tempo depois Andrews apareceu de volta ao quarto, atrás dele vinha duas servas empurrando um carrinho.

Agradecemo-as e em seguida elas saíram, levanto-me da cama e ando até o carrinho pegando um prato - já com a comida - e os talheres.

- Sente-se aqui. - Andrews fala assim que eu me sento no sofá-cama, bufo e vou até lá. Modos, Aurora.

- Você pode parar de ficar me encarando? - Pergunto largando o garfo no prato e o encarando.

Já não aguento mais levantar minha cabeça e vê-lo me encarar, como se eu fosse um pedaço de carne.

- Você é linda. - Ele sorri e eu bufo, voltando a prestar atenção no meu prato e fazendo tudo para não perceber suas olhadas nenhum pouco desfarçada.

- Quer sobremesa? - Ele pergunta depois de acabarmos de comer. Estava uma delícia, pena que aqui eles são mão-de- vaca e só dão um prato, mas lá em casa também era assim, acho que desacostumei, porque no início era mil maravilhas, as vezes eu chegava a repetir três vezes. - É mousse de maracujá.

- Não gosto de maracujá, enjoativo demais. - Levanto-me e ando até um pequeno banheiro que tinha ali, lavo o meu rosto e minha boca, volto ao quarto e vejo Andrews assentado no sofá-cama.

- Precisamos conversar.

Arregalo os olhos e ando-me até a sacada, nem estou fugindo do Andrews.