Capítulo 17

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AURORA NARRANDO

Eu nunca tive uma noite tão mal dormida como essa, acordei inúmeras vezes com a sensação de que o barco estava afundando, e aí juntava com a preocupação com minha família, medo e fome. Pior noite.

Agora me encontro encarando o mar, e tentando entender o que essas pessoas falam, pelo o que me parece eles não são daqui, e suponho que são escravos, todos tem marcas pelo corpo, olhar triste, sem brilho e olham para trás frequentemente, como se estivessem com medo de alguém aparecer.

- Acordada a muito tempo? - Ouço a voz rouca de meu marido e viro-me para trás, vendo-o deitado e ao seu lado Lupe que ainda dormia.

- Sim. - Murmuro indo até ele e me deitando em seu braço.

- Noite ruim?

- Sim. Você sabe se meus pais estão bem?

- Estão sim.

- Que bom...

- Feriram Dominic. - ele disse e não notei tristeza em sua voz.

- Sabe o estado de saúde dele?

- Não.

- Ele vai ficar bem.

- Assim espero, não estou preparado para comandar o reino.

- E nem eu para ser uma rainha.

- Percebo que todos estão olhando para um lugar específico e me levanto, vendo vários guardas guardas na ilha, meus irmãos estão em pé, olhando atentamente para cá.

Quando o barco chega no raso do mar, saio do mesmo e corro até eles, abraçando-os fortemente.

- Como chegaram até aqui? - Pergunto depois de abraça-los.

- De barco. Sente-se aqui e beba um pouco dessa água-de-coco, você precisa descansar.

- Descanso de dez minutos. - O chefe dos guardas grita.

- Quer algo para comer? - Andrews pergunta tirando sua mochila das costas.

- E para beber também. - Ele sorri e abre a mochila, me entregando um litro de iogurte e um pacote de biscoito. - Obrigada.

- De nada.

Andrews está tão calado, gostaria de saber o que aconteceu, mas algo me diz que é melhor não, em breve saberei.

- Alteza, precisamos ir agora, essa ilha é muito perigosa durante a noite.

- Okay. Vamos. - Andrews me olha e eu balanço a cabeça em positivo.

Levanto-me do chão e passo a mão pelo meu vestido, tentando tirar um pouco da areia que tem nele.

- Não solte. - Ele pega a minha mão e a aperta, aproximo-me dele e dou um selinho rápido em seus lábios.

- Eu amo você.

- Eu te amo mais. - Nos abraçamos e ao ouvir o chamado do guarda, começamos a andar.

O trajeto foi longo e cansativo, andamos a manhã e tarde inteira, paramos para descansar uma única vez, e nessa única vez comemos e bebemos o que restava na mochila.

Graças a deus chegamos no reino em que Isak acaba de ser coroado rei.

- Andrews... Aurora. - Ele e sua esposa vieram até nós, cumprimentei cada um deles com um beijo no rosto e meu esposo apenas apertou a mão de cada um.

- Tem notícias do estado de saúde do meu pai? - Ele perguntou desesperado.

- Sim. - Isak suspira.

Mesmo Dominic sendo um embuste, ele não pode morrer, não agora, eu e o Andrews não temos capacidade para comandar um reino, ainda mais na situação em que ele se encontra.

- O estado dele só piora, já teve varias paradas cardíacas...

- Não... Não. - Andrews gritou puxando seus cabelos.

Se milagres acontecem mesmo, esse podia acontecer.

- Tem um helicóptero à espera de vocês. Juan vai leva-los até lá. - Ele apontou para o homem que se aproximava de nós.

- Vamos logo. - Andrews falou, já indo na frente.

- Muito obrigada. Perdoem- me pela falta de educação do meu esposo.

- Entendemos ele, querida. - A esposa dele falou, vindo ate mim e me abraçando.

- Até mais. - Despeço-me e saio às pressas.

***

Chegamos no reino por volta das 2 manhã, e seguimos direto para o hospital, ao chegar lá um doutor nos esperava apreensivo.

- Como ele está?

- Seu estado só piora. - Fecho meus olhos e aperto ainda mais a mão de Andrews, desde que o helicóptero começou a voar, ele não soltou a minha por nada.

- Mas como? Estamos pagando os melhores médicos.

- Andrews, tudo que podemos fazer, estamos fazendo, só que a situação precária do hospital e o estado do seu pai não ajuda muito.

O rei tanto tirou verba do hospital, nem se preocupou com o povo e agora está nessa situação... O feitiço virou contra o feiticeiro.

- Droga... Droga... Droga. - Andrews grita enquanto soca a parede.

Eu nunca sei o que fazer quando ele "dá de louco", isso já aconteceu três vezes, e eu sempre me sentia uma inútil, ele poderia extravasar a raiva em mim, mas também poderia querer o meu abraço, ele mesmo diz que meus braços o acalmam. Deus. O que fazer?

O doutor me olha piedoso e eu apenas volto o meu olhar para Andrews, que murmurava coisas que eu não entendia e socava a parede.

Alguns guardas esvaziaram a recepção, deixando apenas eu e Andrews ali, sento-me no chão e encosto minha cabeça na porta.

Passou-se minutos desde nossa entrada e desde a conversa com o médico, Andrews não parou de socar a parede, de onde estou da para ver sangue sair de suas mãos, já tentei faze-lo parar, e por pouco suas mãos não vieram parar no meu rosto.

- Andrews... meu filho. - Era a rainha adentrando a recepçao. - Ó meu filho... Sinto muito. - Andrews tenta se afastar dela, mas ela o puxa com força e o abraça. - Ele vai se recuperar.

- Eu... Sinto que não, sinto que ele não vai se recuperar, a culpa é minha.

- Claro que não, Andrews. A culpa é desses malditos rebeldes.

- Não mãe, era pra eu estar naquela reunião, o pai pediu antes de eu ir viajar, mas não, eu segui meu coração e olha o que deu.

Abro a minha boca e fecho meus olhos ao imaginar que neste exato momento eu poderia estar no lugar de Andrews, e ele estar no lugar de Dominic. Não. Não.

- Andrews, seu pai já viveu muito, agora é sua vez, a sua vez de tomar decisões melhores que beneficiam o nosso reino. Ninguém sentirá a falta do seu pai, ao contrário de você, você acabou de casar, tem uma esposa linda que não aguentaria te perder. - Os dois me olham e eu apenas nego com a cabeça, deixando com que mais lágrimas caem de meus olhos. - Tem uma família linda pra fazer, amigos que te amam e pessoas que só querem o seu bem.

- Eu não estou preparado para comandar o reino.

- Eu irei te ajudar, você não estará sozinho. - Ela sussurra algo em seus ouvidos e ele vem andando até mim, o abraço apertando quando ele se ajoelha à minha frente. Ficamos assim por longos minutos, até um doutor chegar desesperado.

- Infelismemte... - Ele começa a falar e Andrews me aperta mais. - Ele não resistiu. - E nesse momento só se ouvia o choro desesperado de Andrews.

Eu passo o meu olhar pela recepção, Elisabeth se encontra encostada na parede, ela não demonstra tristeza como Andrews, mas também não demostra felicidade. Acho que ela não o amava e está até mais aliviada agora que aquele homem sem escrúpulo se foi.

O início e fim de uma seleçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora