Não me lembrava exatamente quando adormeci, nem quando o jogo passou a deixar de ser interessante e sucumbi ao mundo dos sonhos e pesadelos. Muito menos de estar praticamente entrelaçado com Ícaro numa posição indecifrável.
Eu tinha problemas para dormir — sérios problemas!
Sofria de insônia praticamente a minha vida inteira e dormir com uma facilidade tão grande era sem dúvida algo inédito.
Notei que a bebida ajudava, mas por experiência própria eu sabia que não ficava mais do que semi-inconsciente, qualquer barulho podia me acordar, fosse um estrondo ou uma pena caindo no chão.
Geralmente eu tomava remédios para dormir, mas eles não eram tão eficientes, já que eu demorava para adormecer e quando acontecia não passava dos primeiros estágios do sono.
Levantei a cabeça sentindo tudo girar à minha volta e descobri o que me acordou dessa vez: o meu celular que vibrava insistente contra a minha bochecha e parecia estar assim há séculos.
— Alô? — sussurrei com a voz rouca.
— Onde você está, Leonardo Borges? — uma voz furiosa cortou a minha sonolência e me deixou surdo ao mesmo tempo.
— Estou na casa de um amigo — respondi, bem baixinho para não acordar Ícaro, que adormecia praticamente embaixo de mim, estávamos espremidos um contra o outro — Vou voltar para casa mais tarde.
— Que horas? — esbravejou.
— Logo, eu prometo, papai.
— Tudo bem — ele cedeu, suavizando o tom de voz — Só não arrume problemas.
Antônio desligou, me deixando surpreso com seu alerta, jamais me meti em problemas.
Coloquei o celular no bolso silenciosamente e voltei para a mesma posição em que estava, bem perto do pescoço de Ícaro onde eu conseguia sentir seu cheiro maravilhoso com mais intensidade. Adormeci outra vez, ultrapassando todos os estágios possíveis do sono.
***
Quando despertei, Ícaro não estava mais ali.
Eu estava sozinho no sofá na mesma posição esquisita que ainda continha o cheiro dele no local onde havia deitado.
Levantei-me, ainda sonolento. A sala estava iluminada pelos raios de sol que atravessavam a janela aberta. O recinto era amplo, com uma decoração um tanto peculiar. Cortinas vermelhas dançando com a brisa fraca que escapava da janela, embora o tempo estivesse bom. Móveis não muito bem alinhados, que compartilhavam a mesma cor do carpete, que só ia até determinado ponto da sala. Ícaro era bem desorganizado, o cômodo exalava isso. Além disso, havia quadros de figuras abstratas penduradas na parede branca e uma cômoda com vários porta-retratos que me chamaram atenção logo de cara.
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Não ouse me esquecer ✅
RomancePLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. Leonardo Borges sempre soube que era diferente. Talvez por isso ele tenha se apaixonado por Ícaro, o ser grossei...