Capítulo 16 - Típico dos Tramontini

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Ícaro

  Bati na porta com as mãos úmidas por conta do nervosismo e o medo transparecidos em meu rosto.

    Leo apertou a minha mão e a soltou antes de lançar um rápido sorriso para mim.

    Caralho, é hoje que eu bato as botas...

    A porta se abriu e para o meu total horror, foi meu pai que nos recebeu. Ele parecia de bom humor, o que me deixou mais calmo.

    Apertou a mão de Leo, que estava tão pálido quanto eu. Coitado dele! Acabei o deixando apavorado quando mencionei meu pai.

    — E-e-eu sou o... — gaguejou, engolindo em seco antes de continuar, os lábios tremendo. — Leo...Leonardo...Ahm...

    — Prazer, Leo — respondeu meu pai de forma serena. — Sou Marcus, o pai do Ícaro.

    Ele era um pouco parecido comigo, mas tinha os cabelos loiros como os de Alicia. Era bem mais alto do que eu e Leo, o que deixou o coitado ainda mais apavorado. Queria consolá-lo, mas isso só pioraria as coisas.

    Meu pai pousou os olhos em mim e abriu um sorriso acolhedor enquanto corria para me dar um abraço.

    Deus, como eu sentia falta do meu pai!

    Assim que me soltou, ele apertou o meu nariz sabendo o quanto eu odiava e fiz uma careta franzindo o mesmo.

    — Continua chatinho — observou, revirando os olhos e se virou para Leo passando o braço em torno de seu pescoço.

    Leo se sobressaltou no começo, provavelmente achou que meu pai tivesse lhe dando uma chave de braço ou prestes a enforcá-lo, mas ele não seria tão obvio assim. Leo relaxou assim que meu pai começou a falar e o levou até a sala parecendo o entreter com uma conversa que não pude ouvir. Leo riu de algo que ele disse e semicerrei os olhos, incrédulo.

    — Sua mãe está na cozinha, Ícaro — disse sem se dar ao trabalho de se virar.

    Quanta desnaturalidade! Não vê o filho há quase dois meses e prefere dar atenção ao convidado do que ao próprio filho.

   Típico dos Tramontini!

   Virei-me irritado indo em direção à cozinha com passos largos e bufando indignado.

   Minha irritação se esvaiu assim que senti o cheiro familiar da comida da minha mãe. Meu estômago embrulhava só de lembrar das minhas gavetas recheadas de macarrão instantâneo devida a minha incapacidade de sequer fritar um ovo.

     Se não fosse por Leo, eu estaria vivendo apenas a base de miojo, mas nem mesmo os incríveis dotes culinários dele substituíam as maravilhosas comidas da minha mãe.

     Clara Tramontini cozinhava alegremente enquanto cantarolava. Assim como eu, ela fazia tudo cantando e sua voz era tão maravilhosa quanto à de pássaros, mas assim como meu pai, ela era uma advogada e ao contrário de mim, não se importava com isso.

    Assim que me viu, soltou um grito histérico e me abraçou. Aquele abraço caloroso que me deixou com aquele conforto que só mãe conseguia deixar.

    — Senti tanta falta de você, filho — Cheirou meu cabelo e beijou a minha testa.

    Quando se afastou, pegou uma colher de pau e bateu levemente na minha cabeça.

    — Aí! — exclamei, passando a mão na cabeça devido a pancada inesperada.

    — Isso é por você não ter mais nos visitado — Voltou-se para a panela, meneando a cabeça.

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