Capítulo 19 - Ele já devia estar sufocando

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Ícaro 

   Ele não atendeu nenhuma das trezentas e oitenta e quatro ligações, estava começando a me deixar puto e preocupado ao mesmo tempo. Grunhi, frustrado jogando o telefone na cama.

   Já era dia e Leo não me ligou no dia anterior e nem na manhã seguinte. Ele sabia muito bem que deveria ao menos me dar um bom dia. Ele não ficaria sem falar comigo por tanto tempo, eu era praticamente o ar que ele respirava.

   Ele já devia estar sufocando...

  Não era típico do Leo, mas eu devia parar de ser um namorado tão chato e grudento e me arrumar para a faculdade, já que teria um dia cheio. Caso não me ligasse até o fim do dia, iria até a sua casa com o pai dele presente ou não.

   Leo não tinha o direito de me deixar caidinho por ele e depois decidir me dar um gelo. Ninguém dava gelo em Ícaro Tramontini.

   Vesti minha roupa, sentindo uma saudade fodida da minha echarpe que praticamente hipnotizado, acabei dando a ele.

   Como eu ficava idiota quando estava com ele!

   A aula se arrastou e o estágio também. Eu estava quase morto quando cheguei em casa.

   Combinei com o meu pai que aguentaria mais uma semana antes de finalmente trancar aquela merda.

    O direito era desgastante!

    Já tinha assinado o contrato com a gravadora, então foi mais fácil para o meu pai ceder.

     Fiquei checando o celular a cada minuto e nada do Leo, estava começando a ficar irritado.

     Liguei para Alicia em busca de notícias, mas ela também não tinha ideia de onde aquele garoto de olhos coloridos tinha se metido.

     — Relaxa, ele deve tá se atracando com outro garoto — disse Lipe assim que descrevi meu desespero.

     Respondi seu comentário com um olhar ameaçador. Ele tinha prazer em me tirar do sério.

     — Calma, princesa — Ele ergueu os braços na defensiva. — Vamos até o palácio de seu príncipe para tirar isso a limpo.

     E me puxou pelo braço, arrastando-me até o carro e deixei, sem pestanejar.

    Quando chegamos ao prédio do Leo — no qual nunca entrei —, meu peito começou a apertar, como em tom de alerta.

     — Pode me informar em que andar moram os Borges? — perguntei ao porteiro assim que passei pela porta de vidro, segurando o braço de Lipe.

     — Eles não estão em casa — disse mecanicamente, enquanto conferia as correspondências sem sequer dar atenção a nós.

    Mascava chiclete de forma irritante, o que me fez gostar ainda menos dele.

    — E quando voltam?

    — Não voltam — respondeu, seco — Eles se mudaram ontem, levaram a maioria das coisas.

    — E para onde foram? — insisti, já com o coração apertado.

    — Sei lá, eles não me devem explicações — Tive vontade de arrastar a cara daquele homem no asfalto.

    Eu já tinha visto aquele filme antes. Era a mesma história, o mesmo protagonista, mas com um par romântico e um cenário diferente.

    Mas não deixava de ser a mesma merda.

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