Leo
Quando dois meses se passaram, foi quando parei de acreditar nas desculpas do meu pai.
Eu já andava desconfiado há muito mais tempo, mas foi só agora que fui capaz de tomar alguma atitude.
— Onde a minha mãe está? — perguntei pausadamente, estreitando os olhos enquanto esperava uma resposta.
Meu pai se sentou ao meu lado, ajeitando seu terno sempre bem passado e parecendo reformular mais uma desculpa, até olhar para mim e perceber com pesar que eu não cairia mais em nenhuma delas.
Já estava cansado de todos os dias ouvir a porta se abrir e a minha cara murchar ao perceber que não era a minha adorada mãe que passava por ela.
Antonio engoliu em seco, olhando para todos os lados, menos para mim e antes que eu pudesse me manifestar da forma como estava tentado a fazer, ele começou a chorar de uma forma que nunca o vi chorar antes.
Não era escandaloso, mas estava longe de ser discreto. Era como se a sua máscara de homem forte e independente caísse diante dos meus olhos, revelando um homem frágil e tão ferido que marejava os olhos de qualquer um que o fitasse.
Com um aperto agonizante no peito, coloquei meus braços amorosos ao seu redor como o bom filho que eu era.
No inicio ele relutou, mas ao encontrar os meus olhos assustados e preocupados, acabou cedendo.
Jamais deixaria alguém chorar na minha frente sem que eu lhe desse um abraço. Um abraço não faria a dor passar, mas tinha esperanças de que ao menos a amenizasse.
Não nos soltamos e nem queria que nenhum de nós o fizesse. Para que meu pai chorasse daquela maneira, estava claro que era algo terrível e eu estava com medo de ouvir.
— Ela morreu — disse com a voz quase morrendo, tremendo em meus braços que ficaram enfraquecidos assim que sentiram as farpas cortantes de suas palavras.
Algo morreu dentro de mim quando essas duas palavrinhas queimaram em meus ouvidos. As palavras mais assustadoras e dolorosas da minha vida.
Eu não assistiria mais televisão com ela. Ela não faria mais o melhor bolo do universo para mim, nem seguraria mais o colar de pingente vermelho quando estivesse nervosa ou intrigada, nem me mandaria dormir com os anjinhos antes de me dar um beijo de boa noite e me cobrir para dormir...
Ela se foi...
O ar escapou de meus pulmões e não consegui mais respirar durante aqueles curtos segundos de choque.
Senti meu coração vazio, que costumava sempre estar cheio de amor para dar, se estraçalhar como se as unhas afiadas de um gavião tivessem lhe rasgado sem dó e que como consequência, estava prestes a arrancar lágrimas quentes de meus olhos.
Ela estava morta esse tempo todo...
Após o acidente que comprometeu a minha memória, tudo o que vivi até então não passou de uma mentira.
Doía tanto e não havia nada que pudesse ser feito para que a dor simplesmente desaparecesse, nem mesmo o melhor dos abraços, embora eu ainda achasse que o abraço certo pudesse ao menos tornar mais fácil respirar.
— Não te contei antes porque o médico pediu para que eu não desse nenhuma notícia que pudesse piorar o seu estado — Ele me fitou, com a expressão culpada ressaltada em seus olhos tristes. — Ela morreu quando...
Meneei a cabeça, em meio a lágrimas implorando para que não continuasse.
Eu não queria saber de mais nada, não queria detalhes de um passado cruel. Saber o que aconteceu com a minha mãe só pioraria tudo e nada disso poderia de forma alguma trazê-la de volta.
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Não ouse me esquecer ✅
Roman d'amourPLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. Leonardo Borges sempre soube que era diferente. Talvez por isso ele tenha se apaixonado por Ícaro, o ser grossei...