Capítulo 21 - A Maldição de Ícaro

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Ícaro

    Quando pesquisei o significado do meu nome, descobri que descendia da mitologia grega.

    Ícaro era o nome de um ser teimoso e desobediente, que mesmo depois dos inúmeros alertas de seu pai, insistiu em voar perto do sol com as suas asas de cera.

    Consequentemente, elas derreteram e o incorrigível Ícaro caiu no mar.

    A minha realidade era mais ou menos essa.

    Mesmo após os alertas de minha mente racional, insisti em me aproximar de Leo, me entregar totalmente sem ao menos questionar, e quando por algum milagre questionava, meus desejos sempre acabavam ganhando essa guerra.

    Leo era meu sol e me deixou hipnotizado e encantado ao mesmo tempo com a sua bondade e gentileza. Sua luz me cegou tanto que nem ao menos notei que as minhas asas remendadas estavam se desfazendo e quando notei, já era tarde demais.

    Agora eu estava me afogando no mar, preso ao limbo solitário da minha vida e não tinha correnteza que me guiasse.

    Eu estava sozinho, perdido como uma bússola quebrada.

    E como previram os gregos, essa era a maldição de Ícaro.

   Leo

    Eu já estava em casa, mas ela não parecia a mais a mesma.

    Achei que o vazio que passei a sentir era a saudade de casa, mas eu ainda me sentia deslocado, como se algo estivesse faltando.

    Meu pai disse que a minha mãe estava viajando e quando pedi para ligar para ela, disse que não tinha sinal no lugar onde ela foi, o que era estranho, já que não minha mãe não era de viajar, ainda mais com o acidente que quase matou meu pai e eu.

    Ela teria ficado comigo, cuidando de mim até que me recuperasse.

    Na minha última lembrança, eu tinha dezoito anos e me lembrava com clareza daquilo, do desconforto da adolescência.

    Tinha algo faltando — além dos dois anos da minha vida que perdi — e não sabia exatamente o que era. Um vazio incômodo e que estava começando a me consumir.

    Eu me sentia perdido.

   Antonio

    Resolvi voltar para o apartamento por causa do Leo.

    Para ele, Márcia ainda estava viva como antes e morávamos na mesma casa.

    Falei para o porteiro que não dissesse a ninguém que continuávamos ali e ele mencionou um garoto que procurou por nós.

    Só podia ser ele...

    Ordenei que não dissesse nada, principalmente para aquele menino caso resolvesse voltar.

    Parecia tudo bom demais para ser verdade, como se Deus tivesse concebido a mim uma segunda chance.

   Uma nova chance de trazer o meu filho de volta.

   E eu não ia de forma alguma desperdiçá-la.

   Contratei uma jovem para cuidar dele, torcendo para que ele sentisse algo por ela.

   Leo não se lembrava do menino e nem das depravações que ele o ensinou, então era possível que seguisse o caminho certo dessa vez.

   Não estava rebelde como antes, parecia o mesmo menino inocente de dois anos atrás, porém, seus olhos sempre cheios de alegria estavam vazios e opacos.

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