Ícaro
— Ícaro — a garota sussurrou de forma gentil, chamando a minha atenção.
Pigarreei alto e terminei de assinar o CD sem realmente prestar atenção no que estava escrevendo e entreguei para a garota sem olhar para ela mesmo que tenha me dado um abraço apertado e ter dito que me amava.
Não lembro se eu disse de volta ou fiquei com aquela cara de palerma olhando para o Leo, que estava se aproximando de mim com dois CDs nas mãos, parecia aborrecido.
— Oi — Foi até mim assim que a garota se retirou.
— Oi — respondi, sem saber direito o que pensar.
Eu não sabia o que dizer. Queria gritar, mandar ele se foder por ter me feito achar que estava morto e por ter me abandonado sem nem ao menos me avisar, e ao mesmo tempo, queria abraçá-lo, beijá-lo e me deliciar com simples fato de ele estar vivo.
Ele me entregou dois CDs e estava me encarando de forma estranha, havia algo diferente naquele olhar. Antes ele me olhava como se eu fosse o centro do seu universo, agora me olhava como se mal me conhecesse.
— Leo — sussurrei, tentando fazer com que me enxergasse da forma como deveria. — Sou eu — Me senti muito idiota falando isso.
— Sei quem você é — Tratou-me com indiferença, parecia mesmo chateado. — Tem como você assinar para mim? — pediu, evitando me encarar.
— Leo — repeti, com a minha garganta quase rasgando. — O que aconteceu com você? — Meus olhos estavam cheios de lágrimas, eu ia acabar passando um vexame, mas tava cagando para isso. — Eu...eu... — Mal consegui falar. Eu ficava fantasiando noites e noites com o dia em que perguntaria isso a ele, que o questionaria, mas quando finalmente tive essa oportunidade, as palavras simplesmente sumiram.
Leo olhou para mim e franziu a testa, completamente confuso.
— Então nos conhecemos — disse com uma risada forçada.
Do que caralhos ele estava falando?
— Sim — arqueei a sobrancelha ao confirmar. Queria tanto abraçá-lo...
— Tem como a gente conversar depois? — choramingou, não parecia emocionado ao me ver, era como se eu estivesse causando uma espécie de dor nele, como se eu o machucasse.
Leo nunca me olhou daquele jeito.
— É claro — assenti, quase de imediato.
— Anote o meu número — Forçou um sorriso e começou a recitar o número estranho enquanto eu anotava na palma da minha mão.
Ficamos nos encarando por alguns segundos. Queria me beliscar para ver se tudo aquilo não passava de um sonho, que o Leo ia desaparecer assim que eu piscasse e eu estava fazendo de tudo para não piscar.
— Pode assinar os CDs? — pediu novamente. — É um meu e um da minha namorada, ela foi ao banheiro e me deixou nessa fila — Isso explicava a sua irritação.
Senti algo morrer dentro de mim quando ele falou isso.
Eu ouvi namorada? Ou eu de fato estava com problemas sérios de audição?
— Qual é o nome da vaca? — sussurrei baixinho com ódio e rancor na voz. Eu queria arrancar os olhos dele.
Como ele ousa vir até mim como se nada tivesse acontecido e ainda ter a cara de pau de dizer que tinha uma namorada? E não satisfeito ainda queria que eu assinasse o meu CD para ela.
Ele não estava morto, mas eu estava tentado a assassiná-lo.
— O que disse? — franziu a testa como se não tivesse de fato escutado.
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Não ouse me esquecer ✅
RomancePLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. Leonardo Borges sempre soube que era diferente. Talvez por isso ele tenha se apaixonado por Ícaro, o ser grossei...