Capítulo 29 - Por que eu estava tão perdido?

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Ícaro

— Ícaro — a garota sussurrou de forma gentil, chamando a minha atenção.

Pigarreei alto e terminei de assinar o CD sem realmente prestar atenção no que estava escrevendo e entreguei para a garota sem olhar para ela mesmo que tenha me dado um abraço apertado e ter dito que me amava.

Não lembro se eu disse de volta ou fiquei com aquela cara de palerma olhando para o Leo, que estava se aproximando de mim com dois CDs nas mãos, parecia aborrecido.

— Oi — Foi até mim assim que a garota se retirou.

— Oi — respondi, sem saber direito o que pensar.

Eu não sabia o que dizer. Queria gritar, mandar ele se foder por ter me feito achar que estava morto e por ter me abandonado sem nem ao menos me avisar, e ao mesmo tempo, queria abraçá-lo, beijá-lo e me deliciar com simples fato de ele estar vivo.

Ele me entregou dois CDs e estava me encarando de forma estranha, havia algo diferente naquele olhar. Antes ele me olhava como se eu fosse o centro do seu universo, agora me olhava como se mal me conhecesse.

— Leo — sussurrei, tentando fazer com que me enxergasse da forma como deveria. — Sou eu — Me senti muito idiota falando isso.

— Sei quem você é — Tratou-me com indiferença, parecia mesmo chateado. — Tem como você assinar para mim? — pediu, evitando me encarar.

— Leo — repeti, com a minha garganta quase rasgando. — O que aconteceu com você? — Meus olhos estavam cheios de lágrimas, eu ia acabar passando um vexame, mas tava cagando para isso. — Eu...eu... — Mal consegui falar. Eu ficava fantasiando noites e noites com o dia em que perguntaria isso a ele, que o questionaria, mas quando finalmente tive essa oportunidade, as palavras simplesmente sumiram.

Leo olhou para mim e franziu a testa, completamente confuso.

— Então nos conhecemos — disse com uma risada forçada.

Do que caralhos ele estava falando?

— Sim — arqueei a sobrancelha ao confirmar. Queria tanto abraçá-lo...

— Tem como a gente conversar depois? — choramingou, não parecia emocionado ao me ver, era como se eu estivesse causando uma espécie de dor nele, como se eu o machucasse.

Leo nunca me olhou daquele jeito.

— É claro — assenti, quase de imediato.

— Anote o meu número — Forçou um sorriso e começou a recitar o número estranho enquanto eu anotava na palma da minha mão.

Ficamos nos encarando por alguns segundos. Queria me beliscar para ver se tudo aquilo não passava de um sonho, que o Leo ia desaparecer assim que eu piscasse e eu estava fazendo de tudo para não piscar.

— Pode assinar os CDs? — pediu novamente. — É um meu e um da minha namorada, ela foi ao banheiro e me deixou nessa fila — Isso explicava a sua irritação.

Senti algo morrer dentro de mim quando ele falou isso.

Eu ouvi namorada? Ou eu de fato estava com problemas sérios de audição?

— Qual é o nome da vaca? — sussurrei baixinho com ódio e rancor na voz. Eu queria arrancar os olhos dele.

Como ele ousa vir até mim como se nada tivesse acontecido e ainda ter a cara de pau de dizer que tinha uma namorada? E não satisfeito ainda queria que eu assinasse o meu CD para ela.

Ele não estava morto, mas eu estava tentado a assassiná-lo.

— O que disse? — franziu a testa como se não tivesse de fato escutado.

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