Capítulo 27 - Quando foi que deixei de ser eu?

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Leo

Estava tudo acontecendo muito rápido ultimamente. Daiane e eu começamos a namorar há pouco tempo e quando fui ver, já estávamos morando juntos graças ao meu pai, que comprou um apartamento para nós com a maior boa vontade do mundo como se esse fosse o seu sonho.

Comecei a trabalhar naquele prédio enorme do Christian algumas semanas depois e ele parecia meio inquieto quando foi falar comigo, me encarando de forma estranha, mas não chegou a me tratar com indiferença, o que foi um alivio porque ele me deixava meio assustado.

Não me sentia confortável morando com Daiane sem estar casado com ela, mas foi bom para estabelecemos uma rotina e ver a nossa vida se fundindo conforme os dias se passavam.

Fiquei meio frustrado quando descobri que ela era alérgica a animais, fazendo com que o meu sonho de ter vários pequenos animaizinhos pulando pela casa fosse destruído, mas isso não me desmotivou a sonhar alto, sempre fui uma pessoa sonhadora.

Eu ainda podia criar um lugar para cuidar de animais abandonados como era o meu sonho. Ainda pretendia fazer faculdade de veterinária, mas esse parecia um plano bem distante levando em conta as circunstâncias.

Daiane e eu ficávamos todos os dias agarradinhos assistindo televisão enquanto devorávamos uma tigela de pipocas. Ela estava tagarelando sobre a sua faculdade de medicina quando de repente se interrompeu no meio de uma frase e desviou a atenção de mim, fitando a televisão com o olhar tão empolgado que parecia eu vendo Pokémon.

— Ícaro Tramontini! — berrou, me puxando pelo braço.

— Não, eu sou o Leo — pisquei, confuso.

— Não, seu bobo. Olha! — Apontou para a TV, onde um menino cantava num palco iluminado.

Ícaro Tramontini, o menino que aparentemente fazia parte do passado da minha mãe e consequentemente do meu.

Meus pensamentos se perderam quando ele começou a cantar, quando comecei a me perder em sua voz.

Ele cantava muito bem...

— Ele é incrível — observei, boquiaberto.

— Sim! — exclamou, quicando no sofá como uma fã alucinada. — E você vai me levar para o show dele, não vai amorzinho?

Assenti quase que automaticamente, estava tão inebriado com a voz daquele homem que nem sequer estava pensando direito. Era uma voz tão conhecida, mas eu tinha certeza de que nunca parei de fato para escutá-lo como fiz naquele momento. Será que a minha mente escondia mais de Ícaro Tramontini de mim? Para mim, ele não passava de um borrão, uma mancha inexplicável em meu passado, uma mancha que confundia completamente a minha cabeça e que eu me esforçava para esquecer, mas quanto mais eu tentava, mais ele aparecia para mim.

Ícaro Tramontini estava em todos os lugares, era impossível fugir dele!

Imaginei o quão desagradável seria eu me encontrar com o ex da minha mãe...

Procurei não pensar nisso e focar no sorriso que Daiane compartilhava comigo assim que concordei em levá-la ao tal show.

Eu não iria mais fugir do borrão que ele representava. Talvez tudo não passasse de um mal entendido e Ícaro e eu fossemos apenas grandes amigos e seria bom ter ele por perto e resgatar essa amizade que parecíamos ter.

— Vai ter uma sessão de autógrafos depois do show! — disse toda animada. — Ele é maravilhoso, não é? Parece um anjo cantando.

Olhei de novo para a TV e para o Ícaro, que continuava cantando com aquela voz angelical que derretia qualquer coração. Minha namorada se revelou uma grande fã dele e eu não tinha como culpá-la, ele era mesmo sensacional.

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