Capítulo 24 - Você me dá nojo

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 Ícaro

A sede de Christian Leal era quase inacessível, tinham guardas por todos os cantos. Aquele prédio imenso e espelhado me intimidava um pouco, sem falar no pôster gigante do nosso querido presidente, como se nos fuzilasse com o olhar que dizia sem dó um sonoro‘‘Eu sou foda’’.

Foi difícil para um santo senhor caralho marcar uma hora com aquele homem. Tive que praticamente me humilhar para a atendente, teatralizando um choro estrangulado que me deixou com pena de mim mesmo.

Expliquei a minha situação patética para um dos seguranças que me barraram — claro que sem dar detalhes —, e ele acabou cedendo, me guiando para dentro do prédio sem desgrudar os olhos de mim.

Era um lugar grande demais para tão pouca gente. Havia muitos seguranças, mas não tinha muita gente circulando pelos corredores.

Eu não estava de forma alguma apresentável o bastante para o presidente e me senti até um pouco deslocado ao ver todo mundo praticamente vestindo a mesma roupa.

Todos usavam ternos e camisas de botões e eu um casaco jeans com uma camisa azul bebê nada formal.

O segurança me levou até uma sala de espera que parecia a prova de balas assim como todo o prédio. Fiquei feliz com a precaução deles ao fazer uma espécie de fortaleza e fiquei mais feliz ainda com a ideia de que talvez existam pessoas que gostariam de assassinar o presidente assim como eu estava tentado a fazer.

Fiquei sentado por um tempo relativamente longo, rodeado por aquelas pessoas de terno que me olhavam torto. Fiquei tentado a mandar todo mundo tomar no cu, mas me contive com um suspiro mental.

Fui o último a ser atendido, pude ver aos poucos a sala se esvaziando e eu entediado brincando com os botões do meu casaco pensando se eu tinha mesmo que estar ali.

Eu achava até legal as pessoas terem a oportunidade de falar pessoalmente com o Christian, ele deixava de ser aquela figura idealizada e inalcançável para se tornar algo mais palpável, mais humano, um de nós meros mortais.

— O Sr. Leal irá recebê-lo agora — informou uma mulher alta que já recitou essa frase milhares de vezes para todas as pessoas que estavam ali. Ela parecia falar com as paredes, já que nem teve a audácia de olhar para mim. — Me acompanhe — disse se virando sem checar se eu de fato a seguia.

Segui-a com passos arrastados em direção a um elevador, onde ficamos naquele silêncio constrangedor até chegarmos ao último andar.

Fiquei olhando para os meus pés enquanto ela permaneceu imóvel ao meu lado, como uma estátua de cera.

— É a única porta — Apertou o botão para descer.

Saí do elevador antes que as portas se fechassem de novo e automaticamente fiquei nervoso.

O que eu diria a ele?

Merda, devia ter ficado em casa mesmo!

Respirei fundo e limpei a garganta enquanto me sentia completamente perdido naquele corredor escuro.

As luzes se acenderam conforme fui andando. Era um corredor longo e estreito demais para uma simples sala.

Coloquei a minha mão suada na maçaneta quando finalmente encontrei a bendita sala e tentei sem sucesso controlar a minha tremedeira recente.

Por que eu estava tão nervoso?

Talvez porque você vai ficar sozinho numa sala com um possível assassino de gays.

Tive que mandar a minha mente calar a boca enquanto me preparava e girava a maçaneta devagar.

Estou fazendo isso pelo Leo, lembrei procurando manter esse pensamento fixo em mente.

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