Ícaro
Leo parecia concentrado com o meu laptop apoiado nas pernas enquanto eu inclinava a cabeça para tentar ver em que site ele entrava.
— O que é isso? — perguntei, enquanto via a sua expressão mudar com uma mistura louca de animação e espanto.
Virou o laptop para mim. Era uma imagem de um casaco amarelo esquisito com antenas.
— Que caralho é esse? — questionei, enojado.
— É só o melhor casaco do mundo! — Sua animação me fez revirar os olhos.
— É ridículo, tem antenas — observei. — Passaria vergonha com isso.
— Não são antenas — retrucou, irritado. — É a orelha do Pikachu.
— Você não andaria com isso na rua, não é? — Fiz uma careta e meneei a cabeça, inerte. — Nem fodendo eu sairia com você se usasse essa merda, nem pense em comprar isso.
— Eu ia comprar, mas não acho em lugar nenhum — murmurou, entristecido. — Eu mereço o melhor casaco do mundo.
— Fique feliz por não achar, esse casaco é ridículo — afirmei com sinceridade. — Vai passar a noite aqui? — Mudei de assunto para tentar desviar sua maldita atenção daquele casaco ridículo. Eu odiava ser deixado de lado.
— Se você não se incomodar — Deu de ombros ainda sem olhar para mim.
— Seu pai não se incomoda de você passar quase vinte e quatro horas por dia comigo?
Leo suspirou, fechou o laptop com um estalo e o colocou na cabeceira antes e se afundar no travesseiro com o rosto inexpressivo. Sempre ficava inexpressivo quando falava do pai.
— Não, ele não liga — disse, seco. Leo raramente era seco comigo e quando era geralmente era porque eu o provocava.
— O que ele faria se soubesse da gente? — Eu queria saber mais sobre que tipo de pessoa o seu pai era, já que ele não me dava abertura nenhuma para conversarmos sobre isso.
— Não sei — sua voz soou ainda mais dura. — Ele não se importa comigo.
Coloquei a mão em seu peito, que subia e descia no ritmo da sua respiração serena, e dei um rápido beijo em seu queixo, apenas para que soubesse que poderia parar de ser chato e começar a compartilhar mais as coisas comigo.
Ele me abraçou e fechou os olhos. Leo não estava tão alegre quanto antes, parecia imerso em pensamentos que se recusava a compartilhar.
Não seja chato, Ícaro...Nem todo mundo quer falar com você o tempo inteiro.
Quis estapear a minha consciência, mas me contive por não ter ideia de como fazer isso.
— Vai dormir? — Me afastei um pouco para olhar para ele.
— Eu odeio dormir — Abriu os olhos e me encarou daquele jeito que me deixava constrangido, como se estivesse me devorando com eles.
E olha que nem estávamos falando sobre sexo!
Se bem que falar nunca é tão bom quando fazer....
— Qual é o seu problema? É a melhor coisa do mundo! — praticamente berrei, tentando ignorar sem sucesso meus pensamentos obscenos.
— Não é não, é perda de tempo — disse mal humorado. Seu humor foi praticamente de mal a pior desde que mencionei seu pai. — Poderíamos estar fazendo algo produtivo, mas não, ficamos numa espécie de coma enquanto cada minuto da sua vida passa diante dos seus olhos. Praticamente um terço da sua vida você passa dormindo, perdemos um terço da vida dormindo!
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Não ouse me esquecer ✅
RomansaPLÁGIO É CRIME! É proibida a distribuição e reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia do autor. Leonardo Borges sempre soube que era diferente. Talvez por isso ele tenha se apaixonado por Ícaro, o ser grossei...