Capítulo 15 - Serzinho desprezível

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Leo

Ele cantava de olhos fechados, como se a música o consumisse de forma tão avassaladora, que não viu quando saquei a minha pequena câmera que trouxe discretamente comigo e comecei a gravar aquele rosto perfeito que conseguia fazer meu coração praticamente pular do peito com apenas a sua voz.

O violão estava apoiado em suas pernas e meu pequeno Icky tocava com maestria, como se seus dedos tivessem sido feitos para aquilo.

Quando ele fez menção em abrir os olhos assim que a música parou, escondi a câmera rapidamente como uma criança que temesse ser pegar por um professor do primário ao fazer algo errado.

Ele sorriu para mim como sempre fazia ao terminar de cantar, tanto que eu nem sabia se o sorriso era direcionado a mim ou a satisfação que a música lhe proporcionava.

- Estou com fome - disse, colocando o violão de lado.

Assenti e sai da cama com um pulo, indo apressado em direção à cozinha com a sua voz ainda fixa na minha mente. Ele sempre estava cantando para mim em meus pensamentos.

Ícaro me seguiu como sempre fazia, ele adorava me ver cozinhar para ele. Comecei a fazer isso assim que descobri que ele não sabia nem ao menos fritar um ovo e quando perguntei o que ele comia, Ícaro me apresentou as suas três gavetas recheadas de macarrão instantâneo.

Até perguntei por que não pedia comida pelo telefone e Icky disse que tinha preguiça de pegar o telefone e que a comida demorava muito, tanto que acabaria devorando os móveis.

Sendo Ícaro, eu não duvidava nem um pouco disso.

Então, me comprometi a abastecer a sua cozinha com comida de verdade e a cozinhar para ele sempre que quisesse. Minha mãe sempre teve paciência para dividir comigo seus dotes culinários e eu adorava ajudá-la a cozinhar.

Ícaro se sentou na cadeira de frente para a pia com os cotovelos apoiados na mesa e aquele sorrisinho que eu adorava.

- O que vai querer hoje? - Abri o armário.

- Não estou a fim de comer comida - confessou - Tem como você fazer pizza? Suas pizzas são tão boas.

- Tá bom - Peguei os ingredientes necessários.

- Você quer ajuda?

Olhei para ele e meneei a cabeça.

- Não, meu amor - sibilei - Da última vez que tentou me ajudar você se cortou, é melhor ficar sentadinho aí se quiser manter todos os dedos.

Ele riu.

- Não quer ir ver televisão? Acho que vai demorar um pouquinho - informei, enquanto pegava os ingredientes para fazer a massa.

- Não, prefiro ver esse seu traseiro maravilhoso andando de um lado para o outro.

Reprimi uma risada sem graça enquanto eu ficava tão vermelho quanto os tomates que eu cortava.

Ele ficou ali com Chari - que estava inquieto correndo para todos os lados como um foguete - até eu terminar. Ícaro pegou-o no colo e começou a acariciar seu pelo enquanto ele o lambia, assim como fazia comigo. Com o tempo, Ícaro começou a gostar dele, o que já era previsível, já que aquele pequeno animalzinho era apaixonante.

Comemos a pizza enquanto despejávamos um no outro as loucuras de nossos cursos da faculdade e o inferno e pressão que eram os estágios que nos consumiriam muito mais se não tivéssemos os dias ímpares para nos aliviarmos.

Meu pai ligou, dizendo com aquela voz grossa e autoritária que me deixava tremendo da cabeça aos pés, que iria me buscar em trinta minutos, ele falava mecanicamente comigo, como se eu fosse um objeto inanimado, sem emoção alguma.

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