Capítulo 32 - Ela foi tirada de mim

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Leo

Só quando saí da casa do Icky apenas no dia seguinte foi que a ficha finalmente caiu. Eu recebia diversas ligações de Daiane e ignorava todas, me sentia culpado e sujo. Completamente podre por dentro e por fora.

Não apenas por ter traído ela com o Ícaro, mas por tudo o que fiz e por todos que magoei e machuquei.

Segurei o colar entre os dedos — que peguei discretamente da sua mesa e coloquei em meu bolso durante nossos beijos — e me sentei em um dos bancos da praça dos anjos enquanto finalmente desabava em lágrimas tudo o que estava preso em meu peito.

Ícaro não conseguia me deixar triste. Confuso sim, mas triste jamais. Com ele eu esquecia completamente do mundo a minha volta, das minhas dores, dos meus erros, mas o problema era que eu precisava desse momento. Precisava ficar sozinho com meus pensamentos e procurar colocá-los em ordem para que eu não acabasse enlouquecendo.

Olhei para o parque a minha volta. As crianças não estavam brincando no parque como costumavam estar, devido ao tempo estranho de hoje. O céu estava nublado e com um estranho tom de cinza, exatamente como os olhos de Ícaro, mas eles não pareciam tristes como aquele céu.

Fechei os olhos, tentando me concentrar na imagem dela, como se o seu colar fosse como um passe livre para nos comunicarmos.

Consegui visualizar seu rosto na minha mente e não pude deixar de sorrir para essa imagem. Ela continuava linda como sempre foi e tive que controlar o impulso de abraçá-la, já que eu sabia que não poderia fazê-lo.

— Sinto muito, mamãe — falei mentalmente — Jamais quis te machucar.

Após meu pedido de desculpas, não pude mais ver seu rosto, foi como se eu não merecesse mais vê-lo.

E foi naquele momento que me vi mais perdido do que nunca.

                                                               ***

Depois de passar horas chorando até que eu não tivesse mais lágrimas nenhuma em meu corpo, foi que me sobressaltei com o meu telefone que começou a vibrar.

Estava prestes a ignorar de novo achando que se tratava de Daiane, mas era um número diferente então atendi, fungando.

— Senhor Borges? — uma mulher atendeu, tinha a voz gentil.

— Sim — Enxuguei as lágrimas com os dedos. — Sou eu.

— Desculpe incomodá-lo, estávamos tentando ligar para o senhor há algum tempo, mas soubemos que mudou de número e acabamos conseguindo com o seu novo patrão — explicou, me deixando mais confuso. — O senhor precisa visitar a senhora Borges.

— Minha mãe? Ela está morta — soltei, jamais me acostumaria com esse fato.

— Eu sei que o senhor está abalado, mas ela precisa de uma visita ao menos uma vez por mês. Mesmo que ela não se lembre do senhor, é extremamente importante para o tratamento.

Tratamento? Do que ela estava falando?

— Esse trote não tem a menor graça — falei, irritado.

— Não é nenhum trote, senhor — assegurou a mulher. — Sua mãe está no Hospital Psiquiátrico dos Serafins exatamente onde a deixou.

Senti minha alma revigorar com a notícia.

Minha mãe estava viva!

Eu não a matei...

Olhei para o céu e sorri agradecido a Deus por não permitir que a minha vida fosse totalmente destruída.

— Estou a caminho — murmurei, pulando do banco e praticamente correndo até o hospital onde a minha querida mãe estava.

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