Nada muda (parte 2)

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- Delphine – murmurou Cosima, caminhando até a extremidade do balcão, pousando ambas mãos sobre o frio mármore, um frio que percorreu as extremidades apoiadas naquele lugar.

–Sim – proferiu seriamente, se dirigindo até a geladeira e agarrando a pequena jarra de suco.

–É- murmurou, buscando as palavras adequadas – Gostaria de poder sair, me sinto muito sozinha aqui afirmou, em um tom tranquilo, com os olhos sobre suas mãos e lentamente, um pouco temerosa os levando até sua esposa.

–Já providenciei um motorista para você – garantiu Delphne, levando o copo de suco até seus lábios e bebendo o liquido – Só me avisar onde pretende ir que ele a levará – afirmou, pousando o copo sobre o balcão.

Cosima amaldiçoou o fato dela não compreender o que ela realmente queria dizer, da mesma forma que amaldiçoou a falta de coragem dela em proferir o que realmente queria, de pedir o que realmente necessitava.

–É necessário mesmo isso? – Indagou, em um tom tranquilo, mas com certa impaciência se formando em seu interior – Não pretendo fugir – garantiu, tentando transparecer toda sinceridade.

–É necessário – afirmou Delphine, tornando sua expressão de impaciência, tal qual suas palavras, em um tom até que rude – Não pretendo correr riscos – garantiu rispidamente.

–Delphine... – tentou contestar, mas não sendo permitida a prosseguir.

–Cosima – proferiu Delphine, caminhando lentamente em direção a sua esposa- Não adianta me tratar bem, ser gentil, carinhosa, muito menos usar seu corpo para tentar mudar as coisas – garantiu em um tom ameaçador, voltando a ser a mulher do dia anterior – Não ouse a pensar que o que aconteceu na noite passada vai mudar as coisas – afirmou, parando a um passo de distância da mulher a sua frente – Você não fez mais do que sua obrigação como mulher – terminou, com um sorriso sórdido nos lábios

O sangue de Niehaus se pôs a ferver, não se fazia capaz de compreender como aquela mulher poderia possuir tantas facetas, mas no fundo ser a mesma sórdida e cruel, uma mulher desprezível.

–Você me dá asco – murmurou com os dentes cerrados, abrindo o mínimo possível seus lábios

–Ontem não dei ascos – afirmou ironicamente, com um sorriso nos lábios, como se aquela contradição a divertisse.

Sentindo perder o controle e um aperto em seu interior, acompanhado de um nó em sua traqueia que a fazia sentir ganas de se pôr a chorar, um choro que já podia sentir avermelhar seus globos oculares, não queria desvencilhar perante a seu carrasco, seus lábios formaram um bico, como uma criança que não obteve o que tanto ansiava, sem proferir uma palavra apenas lançou a sua esposa um olhar de magoa e injustiça, virando-se rapidamente e deixando aquele cômodo.

Não foi uma fuga, mas seu interior encontrava-se demasiadamente vulnerável para iniciar uma discussão que certamente iria perder ou ao menos acabar a levando para a cama com aquela mulher, todavia quando ela mostrava aquela faceta sórdida, pouca vontade tinha de compartilhar algo com ela.

Em questão de pouquíssimos minutos, já encontrava-se adentrando sua habitação, batendo a porta com força e controlando o choro de seu interior, recostando seu corpo na porta atrás de si.

–Sem chorar Cosima – ordenou, levando seu dedo para baixo de seu olho e secando a lágrima que ousara escapar.

Inspirando profundamente o ar, caminhou até seu leito, repousando seu corpo, assim que se cobriu, virou o corpo para o lado oposto da porta, sentindo uma magoa em seu interior, com um misto de solidão, se pôs a fitar o nada a sua frente, ou melhor o piso, sua mente não conseguia prender um único pensamento, mas com os ouvidos atentos a uma possível proximidade de sua carcereira, pegou no sono, entregando-se aos braços de Morfeu.

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