- Delphine – murmurou Cosima, caminhando até a extremidade do balcão, pousando ambas mãos sobre o frio mármore, um frio que percorreu as extremidades apoiadas naquele lugar.
–Sim – proferiu seriamente, se dirigindo até a geladeira e agarrando a pequena jarra de suco.
–É- murmurou, buscando as palavras adequadas – Gostaria de poder sair, me sinto muito sozinha aqui afirmou, em um tom tranquilo, com os olhos sobre suas mãos e lentamente, um pouco temerosa os levando até sua esposa.
–Já providenciei um motorista para você – garantiu Delphne, levando o copo de suco até seus lábios e bebendo o liquido – Só me avisar onde pretende ir que ele a levará – afirmou, pousando o copo sobre o balcão.
Cosima amaldiçoou o fato dela não compreender o que ela realmente queria dizer, da mesma forma que amaldiçoou a falta de coragem dela em proferir o que realmente queria, de pedir o que realmente necessitava.
–É necessário mesmo isso? – Indagou, em um tom tranquilo, mas com certa impaciência se formando em seu interior – Não pretendo fugir – garantiu, tentando transparecer toda sinceridade.
–É necessário – afirmou Delphine, tornando sua expressão de impaciência, tal qual suas palavras, em um tom até que rude – Não pretendo correr riscos – garantiu rispidamente.
–Delphine... – tentou contestar, mas não sendo permitida a prosseguir.
–Cosima – proferiu Delphine, caminhando lentamente em direção a sua esposa- Não adianta me tratar bem, ser gentil, carinhosa, muito menos usar seu corpo para tentar mudar as coisas – garantiu em um tom ameaçador, voltando a ser a mulher do dia anterior – Não ouse a pensar que o que aconteceu na noite passada vai mudar as coisas – afirmou, parando a um passo de distância da mulher a sua frente – Você não fez mais do que sua obrigação como mulher – terminou, com um sorriso sórdido nos lábios
O sangue de Niehaus se pôs a ferver, não se fazia capaz de compreender como aquela mulher poderia possuir tantas facetas, mas no fundo ser a mesma sórdida e cruel, uma mulher desprezível.
–Você me dá asco – murmurou com os dentes cerrados, abrindo o mínimo possível seus lábios
–Ontem não dei ascos – afirmou ironicamente, com um sorriso nos lábios, como se aquela contradição a divertisse.
Sentindo perder o controle e um aperto em seu interior, acompanhado de um nó em sua traqueia que a fazia sentir ganas de se pôr a chorar, um choro que já podia sentir avermelhar seus globos oculares, não queria desvencilhar perante a seu carrasco, seus lábios formaram um bico, como uma criança que não obteve o que tanto ansiava, sem proferir uma palavra apenas lançou a sua esposa um olhar de magoa e injustiça, virando-se rapidamente e deixando aquele cômodo.
Não foi uma fuga, mas seu interior encontrava-se demasiadamente vulnerável para iniciar uma discussão que certamente iria perder ou ao menos acabar a levando para a cama com aquela mulher, todavia quando ela mostrava aquela faceta sórdida, pouca vontade tinha de compartilhar algo com ela.
Em questão de pouquíssimos minutos, já encontrava-se adentrando sua habitação, batendo a porta com força e controlando o choro de seu interior, recostando seu corpo na porta atrás de si.
–Sem chorar Cosima – ordenou, levando seu dedo para baixo de seu olho e secando a lágrima que ousara escapar.
Inspirando profundamente o ar, caminhou até seu leito, repousando seu corpo, assim que se cobriu, virou o corpo para o lado oposto da porta, sentindo uma magoa em seu interior, com um misto de solidão, se pôs a fitar o nada a sua frente, ou melhor o piso, sua mente não conseguia prender um único pensamento, mas com os ouvidos atentos a uma possível proximidade de sua carcereira, pegou no sono, entregando-se aos braços de Morfeu.
YOU ARE READING
Hidden Truths
RomanceMentiras são ocultações da verdade, alguns podem considerar como uma verdade distorcida, ou algo oposto da verdade, todavia as mentiras machucam, ferem, doem e algumas vezes matam. O ser humano está condicionado durante a sua vida a contar uma ment...