Cormier

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Cormier não era um sobrenome de peso para Delphine, mas era um sobrenome que compartilhava com sua esposa, criando um vínculo entre ambas, ela sempre tivera esse sobrenome, mas não era igual ao de sua mãe, tão pouco ao de seu avô, mas sabia que era de seu pai, não sabia o porquê, mais aquela indagação a fez recordar daquele detalhe, dentro de tantos outros detalhes relevantes.

Delphine sentia-se encurralada por sua esposa, não sabia se seu discernimento que estava demasiadamente afetado para contestar ou se ela que realmente tinha razão em suas palavras, mas uma coisa estava clara em seu interior, contar aquela história não era de seu agrado, não era um conto que seus lábios seriam capazes de proferir facilmente, tão pouco algo que queria.

Aquela dúvida, onde não sabia se cedia ao seu desagrado e ganas de manter seu passado em segredo ou se seguia o conselho lógico de sua esposa, a fez sentir necessidade de inspirar profundamente o ar, coisa que fez com tanta força que gerou a necessidade de expira-lo pela boca, como se estivesse proferindo um suspiro de impaciência.

Com o olhar contrariado levantou sua cabeça, voltando a fitar a figura feminina de sua bela esposa, uma mulher que a desequilibrava e surpreendia nos momentos mais inapropriados ou seria nos mais apropriados?

Realmente ela não sabia, a única coisa que tinha certeza era que aquela situação seria mais fácil se tal indagação inoportuna houvesse surgido em meio a uma discussão, pois facilmente ela se livraria daquele assunto com a velha desculpa '' não é de sua conta''.

Contudo infelizmente não era assim, mesmo sentindo certo nervosismo tomar seu corpo com a mera cogitação de contar e recordar sua longa história, sabia que seria mais fácil proferi-la naquele momento em que pouca ou nenhuma intimidade emocional tinha com aquela mulher, facilitando digerir o gosto amargo de uma possível rejeição ou aumento do asco que Cosima já havia alegado sentir por ela.

– Está bem – murmurou, chacoalhando levemente em um sinal positivo sua cabeça, semicerrando suas pálpebras e arqueando ambas as sobrancelhas rapidamente.

Os olhos castanhos de Cosima se abrandaram, como se sumisse a necessidade de ter razão e persuasão para pôr fim saber a verdade que tanto aguçava sua curiosidade, não temia o que estava preste a ouvir, pois realmente já havia presenciado o pior daquela mulher, nada a espantaria, como era de desejo de Sarah.

Para o alivio de Delphine um barulho ecoou pelo quarto, era um som que seu ouvido estava habituado, era alguém batendo na porta, deu graças pela primeira vez por aquela interrupção, afinal tardaria o início de sua história, sem mencionar que daria tempo para talvez reconsiderar ou recordar fatos que preferia esconder em um lugar esquecido de sua mente.

– Pode entrar – ordenou Delphine, pela primeira vez encontrando uma expressão de desgosto na face de sua esposa por uma interrupção.

–Trouxe seu jantar- anunciou Susan abrindo a portar, enquanto na outra mão segurava a bandeja.

– Deixa eu te ajudar- prontificou-se a senhora Cormier, segurando a bandeja em suas mãos.

– Não era necessário Susan – reclamou Delphine, incomodada com tamanhos cuidados e atenção.

– Era sim – respondeu prontamente a governanta - Não pode abusar – completou esboçando um suave sorriso – Vai comer agora senhora? – Indagou fitando Cosima

– Depois eu desço para comer – respondeu suavemente

– Com licença – proferiu Susan se retirando.

– Melhor deitar-se – sugeriu Cosima, segurando a bandeja e fitando Delphine

Contrariada, algo que deixou evidente em sua expressão, Delphine deitou-se sobre o leito, ajeitando habilmente os travesseiros em suas costas, ficando sentada, logo vendo Cosima pousar as pernas de madeira da bandeja em volta de suas coxas, deixando na altura de seu tronco aquela apetitosa refeição, que apenas pelo aroma já aguçava seu paladar e despertava sua fome.

Hidden TruthsWhere stories live. Discover now