Esconder. (2)

7.8K 896 147
                                    

   Angela estava dando algumas orientações para as empregadas, de repente Diego surgiu usando uma blusa larga de manga, com capuz de cor vermelha, calça preta, uma máscara de enfermeiro, luva na mão esquerda e segurando a mochila.

- Por que está vestido assim?

- Eu vou para escola. -disse ajeitando a máscara.

- Sério? -perguntou Angela surpresa, Diego confirmou mexendo a cabeça. - Que bom, vou chamar o motorista. -animada, ela foi até o lado de fora, rapidamente voltou e pegou uma bolsa. - Eu vou lhe acompanhar.

- Mãe, não basta eu estar nesse estado, ainda quer dar mais um motivo para os alunos me zoarem?

- Desculpa... Tudo bem, pode ir sozinho, mas se precisar de qualquer coisa me ligue, eu já expliquei para a diretora sua situação, você só precisa ir até a sala dela para saber qual é sua turma.

- Ok... Tchau.

- Tchau querido, tenha um bom dia.

  Diego olhou para o lado de fora, se certificando de que não havia ninguém na rua, rapidamente saiu, foi direto até o carro e entrou, o motorista ajeitou o retrovisor e olhou para trás sorrindo, ele era um homem de aproximadamente trinta e sete anos e muito simpático, mesmo quando tratado mal.

- Bom dia senhor Diego, fico feliz de o ver fora de casa, tenho certeza que vai ser bom para você voltar a frequentar a escola.

- Chega de papo, apenas dirija logo até a droga da escola. -o motorista olhou para baixo meio desapontado, tinha esperança de que o rapaz tivesse mudado e se virou para frente.

- Sim senhor... -ele dirigiu até a escola, que se localizava próxima sem dizer nada, Diego também se manteve calado. - Chegamos... Espero que tenha um bom dia.

  Diego paralisou olhando os alunos entrarem, respirou fundo e saiu do carro sem responder o motorista, de cabeça baixa ao contrário de como costumava andar antes do acidente, foi rápido em direção a entrada da diretoria, alguns alunos olharam curiosos, afinal ele estava todo encapuzado. Ao chegar na porta da diretoria bateu forte, uma mulher deu permissão para ele entrar, dentro da sala a senhora de cabelos grisalhos e usando um vestido longo florido, digitava algo no computador.

- No que posso lhe ajudar?

- Eu sou aluno novo, minha mãe disse que já conversou com você, meu nome é Diego Seles.

- Sim, sua mãe me ligou a alguns minutos,  eu sou a Diretora Sandra, espero que se sinta bem em nossa escola, vou lhe acompanhar até a sala...

- Não precisa, eu não sou nenhum deficiente, só me diga qual é e eu vou com minhas próprias pernas.

- Eu só queria ajudar, mas se prefere assim... Sua sala é a onze, pode ir.

  Ele saiu deixando uma péssima impressão para a diretora, Diego andou devagar, pensando no que dizer para os professores, caso pedissem para tirar a máscara. Ao chegar na porta da sala deu um longo suspiro e bateu, um senhor de óculos abriu.

- O que deseja? -perguntou o encarando.

- Eu sou novo aluno.

- Certo, bem vindo... -o professor encarou a máscara. - Para que isso garoto?

- Eu sofri um acidente, se quiser pode falar com diretora.

- Tudo bem, pode entrar. -Diego entrou. - Novo aluno galera, tem uma cadeira vazia bem ali.

  Ele apontou para uma mesa na frente da sala, perto da janela, ao lado havia um rapaz, Diego o encarou, tinha cabelos escuros com belos cachos, pele de bronzeada, olhos azul claro e usava óculos redondo, sua empolgação era notada a distância e ele ainda não tinha olhado para Diego, que sentiu como se um choque atravessasse seu corpo, fazendo ele sentir um frio esquisito na barriga e o coração parecer que iria parar, de todas as pessoas no mundo Diego era uma das que menos acreditava em sentimentos verdadeiros, mas aquela sensação estranha de que aquela pessoa lhe traria algo, fez seus pensamentos entrarem em atrito. O rapaz finalmente o olhou e sorriu, Diego virou a cara, andou até a mesa e sentou tentando esconder o rosto se virando para a janela ao lado.

- Qual seu nome?

  Perguntou o rapaz em um tom de voz animado, Diego pensou em responder, mas não queria ter contato com ninguém, então simplesmente ignorou a pergunta, apesar de sentir uma grande vontade de conversar com aquele rapaz, porém seus receios e pensamentos foram maiores.

- Ei você me ouviu? -perguntou insistindo e puxando devagar a blusa de Diego. - Você é surdo?

- Não... -respondeu baixo e tirando a mão dele. - Só não quero falar com você.

- O que eu fiz?

  O rapaz ficou confuso, pensando que havia feito algo errado, Diego o ignorou novamente, em outros tempos ele provavelmente daria boas resposta e usaria sua lábia para conseguir tirar algo do rapaz, mas naquele momento tinha vergonha de ser olhado por qualquer um.

Deformidade. Onde histórias criam vida. Descubra agora