Manchas do passado. (23)

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- O que foi? -perguntou Fernando, estranhando o rápido afastamento de Gabriel.

- Desculpa, até mais!

  Fernando ficou confuso, mas de toda forma estava feliz de reatar a amizade com Gabriel, ao entrar em casa viu Diego sentado sozinho no sofá com um olhar de preocupação.

- Largou meu filho?

- Ele foi fazer o jantar...

- Por que esse olhar de preocupação?

- Ainda não contei meu passado para o Bruno...

- Está com medo?

- Ele fez um desenho para mim, me considera uma pessoa boa... -Diego passou a mão na cabeça.

- Mas você é bom agora.

- Não era, Nando você sabe que eu já fiz coisas horríveis, o que ele vai pensar quando descobrir tudo, o Bruno não se importa com aparências, mas com ações sim.

- Vai ficar tudo bem, tenta contar aos poucos para ele, meu filho te ama, vai acabar entendendo que você não é mais a mesma pessoa.

- Obrigado.

   Minutos depois Bruno foi até a sala e os chamou para ajudar na cozinha, ou ninguém iria comer.

   Diego ficou pensando no que poderia fazer para mudar o passado e percebeu que não havia um jeito de fazer isso, porém ele poderia mudar o futuro, não só o dele, mas também o das pessoas que magoou no passado. Assim que voltou para sua casa, Diego começou a procurar na internet pela pessoa a qual mais fez mal durante muito tempo, um rapaz chamado Leo, Diego implicava muito com ele por ser alguém que nunca abaixou a cabeça para as maldades dele.

- E agora? -se perguntou após conseguir encontrar o endereço do rapaz. - Ele não vai me perdoar, nem o Bruno quando descobrir...

  Diego começou a chorar, lembrando do dia em que Leo encarou ele para defender um garoto de suas brutalidades, Diego se sentiu desafiado naquele dia, não só bateu nele como o humilhou na frente de parte dos alunos da escola. Ao lembrar de tudo o que tinha feito, nem ele mesmo conseguia se perdoar, o acidente e a presença de Bruno mudaram muita coisa na cabeça de Diego, não era mais o mesmo, por isso estava sofrendo pelas maldades que fez no passado.

  Ao amanhecer, Diego mandou uma mensagem para Bruno dizendo que precisa resolver alguns problemas e faltaria na aula, logo em seguida pediu para Neusa chamar um carro para ele, precisava ir até sua antiga cidade, no caminho ele começou a escrever algo em uma folha branca, não queria olhar pela janela do carro e ver o lugar onde passou por tantas coisas.

  Quase uma hora depois de sair de casa ele chegou a uma região pobre da cidade, pediu para o motorista estacionar na frente de uma casa, precisava ter certeza que era a de Leo, não demorou muito para o rapaz sair usando um uniforme, provavelmente do lugar onde trabalhava, Leo cumprimentou uma vizinha e saiu andando pela rua, Diego saiu do carro, andou até a casa humilde e bateu palmas, logo uma senhora de cabelos grisalhos, pele morena bastante enrugada e andando com dificuldade apareceu para o atender.

- Olá é aqui que mora o Leo? -perguntou mesmo sabendo a resposta.

- Sim, o que quer com meu filho?

- Eu sou um velho conhecido dele... Vim o visitar e saber como vão as coisas.

- Meu filho foi trabalhar e a noite ele vai para a faculdade, infelizmente raramente para em casa, meu menino de ouro sempre está se esforçando...

- É ele sempre foi muito esforçado. -Diego reparou que ela fazia uma expressão de dor. - A senhora está bem?

- Não muito, estou adoentada, já era para ter morrido, mas não quero deixar meus filhos desamparados, Leo é o único que tem juízo e tenta sustentar a casa.

- Eu sinto muito, espero que melhore.

- Obrigado rapaz.

- Não vou incomodar mais a senhora, mas depois procuro o Leo. -Diego saiu correndo.

- Claro... como é seu nome mesmo?!

  Quando ela perguntou ele já estava longe, Diego voltou para casa, ficou pensando em tudo e decidiu fazer algo, começou com algumas ligações. Enquanto Diego ligava e anotava várias coisas nem viu o tempo passar, de repente a porta do quarto dele abriu e Bruno entrou pulando direto na cama.

- Pensei que tinha acontecido alguma coisa, por que não respondeu nenhuma mensagem?

- Estava ocupado. -afirmou guardando alguns papéis que segurava e desligando o telefone.

- E eu preocupado, pelo menos dissesse que estava bem. -Diego sorriu feliz por Bruno se preocupar e importar.

- Desculpa, eu tinha algo muito sério para resolver...

- Tudo bem.

- Eu te amo, muito, vou dar meu melhor para te deixar feliz e orgulhoso.

- Eu já estou muito feliz e orgulhoso, também te amo muito!

  Disse sorrindo e o abraçando, mas Diego se sentia mal por esconder o passado, não queria decepcionar Bruno.

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