Primeiro dia. (3)

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  Nas primeiras aulas, Diego escreveu algumas coisas e passou boa parte do tempo olhando para a janela, na chamada descobriu que o nome do rapaz ao lado era Bruno e também que ele era um dos alunos mais participativos da sala, sempre dando resposta e conversando com todos ao redor. Ao bater o sinal do intervalo Diego se levantou, Bruno o estava encarando, parecia um pouco nervoso, provavelmente pela forma como foi tratado no começo da aula, Diego não deu importância passou reto por ele.

  Durante o intervalo Diego ficou escondido atrás de uma árvore no pátio, observando de longe as pessoas, não conseguia mais se ver no meio delas, em outros tempos estaria no meio de uma galera se vangloriando de ser lindo e rico, ou tentando parecer superior a alguém, de repente suas ações do passado pareciam vazias, ele não entendia o motivo de ter sido assim, uma vontade de nunca mais ser o rapaz do passado o atingiu, o fazendo perceber que apesar de estar rodeado de pessoas no passado, não foi amado verdadeiramente, nem pelos outros e muito menos por ele mesmo.

  Ao voltar para sala Diego continuou sem falar com ninguém e tendo suas reflexões, até que quando ouve a troca de aulas, um rapaz se aproximou rindo, ele era bem alto, forte e não parecia ter boas intenções.

- Eai, o pessoal está dizendo que você tem alguma doença, ou a cara toda deformada, qual dos dois é? -Diego não respondeu, apenas abaixou a cabeça, de certa forma ele se via um pouco naquele rapaz. - Vamos diga logo, ou vou arrancar esse negócio! -ele estendeu a mão para tirar a máscara, Diego se levantou. - Aposto que é um monstro horroroso. -Bruno estava apenas observando e quando viu o olhar perturbado de Diego, decidiu intervir.

- Rodrigo, deixa ele em paz! -pediu levantando e segurando o braço do rapaz, que era bem maior que ele.

- Fica na sua Bruno, o combinado foi de eu não mexer mais com você e suas viadagens, e não de eu virar seu cãozinho!

- Não ligo para o que você pensa, mas se mexer com ele, eu vou te pegar de novo!

  Rodrigo encarou Bruno com cara de nervoso e saiu, Diego sentou meio confuso, primeiro, por que um cara enorme teria medo de um rapazinho baixo, magrinho, de rosto fofo e por que Bruno o estava defendendo depois de ser maltratado?

- Tudo bem? -perguntou Bruno.

- Sim... Por que me ajudou?

- Por que não ajudaria? -ele sorriu.

- Eu não fui nada legal com você no começo da aula.

- Meu pai sempre diz que devemos retribuir o mal com o bem, não vou mudar meus ideias só porque você estava de mal humor.

  Bruno se virou e continuou escrevendo em seu caderno, Diego virou e o encarou, havia acabado de encontrar uma pessoa rara em sua vida, sem querer ele acabou sorrindo enquanto o olhava, Diego se surpreender com a própria ação, desde o dia em que viu seu rosto ferido pela primeira vez, disse que jamais sorriria novamente, era estranho de repente sorrir por uma simples atitude

  Ao sair da escola, Diego avistou seu carro parado, o motorista o esperava olhando para os lados como se procurasse algo, mas quando viu Diego imediatamente entrou no carro, o rapaz passou a mão na maçaneta da porta de trás, mas sentiu a necessidade de sentar na frente.

- Olá senhor Diego, como vai?

- Não me chame de senhor, eu não tenho nenhum mérito para receber esse título, ao contrário de você, sempre me tratou tão bem e eu nem sei seu nome... -disse se lembrando de todas as vezes em que o motorista estava presente para ajudar.

- Meu nome é Fernando, mas o pessoal me chama de Nando. -respondeu sorrindo.

- O que estava procurando?

- Meu filho... Ele estuda aqui, é um ótimo garoto e ganhou uma bolsa de estudos.

- Você não parece ser tão velho a ponto de já ter um filho no colégio...

  Diego encarou os alunos saindo, quando era mais novo seus pais não ligavam muito para ele, mas quando tinha algum problema na escola, Fernando sempre ia tentar resolver e defendia o rapaz.

- Sabe foi realmente bom vir para escola, eu já sabia que sou uma pessoa ruim, tive vontade de mudar, mas hoje, acho que descobri um bom motivo, você é uma das poucas pessoas boas que conheço, acha que posso me tornar alguém... Bom? -Fernando sorriu.

- Claro, mas o que fez lhe ter essa vontade?

- Muitas coisas, o acidente, ver o mal que causei a algumas pessoas, a morte do meu pai... Mas principalmente, a ação de uma pessoa, que me ajudou mesmo depois deu ter lhe tratado mal.

- Você já está indo no caminho certo, só precisa manter essa posição.

  Fernando passou a mão no ombro do rapaz, em seguida ligou o carro e foi em direção a casa.

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