Cacos. (6)

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- O que aconteceu? -perguntou Bruno vendo o vidro do espelho quebrado e a mão de Diego sangrando.

- Nada. -respondeu sério e tentando andar até a saída, mas Bruno o segurou e pegou na mão dele.

- Veja, tem cacos de vidro na sua mão. -ele começou a tirar os cacos.

- Já não bastava uma mão queimada, agora tenho uma cortada!

- Queimada? -Bruno olhou para a outra mão e viu que Diego usava luva nela. - Não tinha reparado que você usava luva, o que aconteceu?

- Um incêndio...

- Entendi... -Bruno o puxou para perto da pia e começou a lavar o sangue. - Acho que não precisa de curativos, os cortes foram pequenos e já está parando de sangrar. -ele olhou nos olhos de Diego e sorriu.

- Obrigado... -disse virando a cara e tirando a mão. - Você é bom nisso. -não havia mais nenhum caco na mão.

- Dizem que sou habilidoso com as mãos.

- E é, te vi desenhando, é muito bom.

- Sério? -perguntou dando um sorriso enorme. - Gostou mesmo dos meus desenhos?

- Sim. -o sinal tocou.

- Vem, vou lhe mostrar mais alguns!

  Bruno pegou na mão de Diego com a luva e o levou até a sala, sem nenhuma vergonha dos alunos os olhando, ao contrário de Diego que ficou completamente vermelho e não sabia como reagir, ao chegarem na sala, Bruno o soltou e pegou uma pasta, parecia muito animado.

- Aqui está, são os meus novos, os antigos estão em outro lugar e eles não são tão bons...

   Diego sorriu vendo a cara de timidez de Bruno, ele pegou a pasta e começou a olhar, realmente o rapaz era muito bom em desenhar e pintar, parecia até um artista experiente, a cada desenho Diego sorria mais vendo que Bruno gostava de algumas coisas semelhantes.

- Incrível. -disse ao chegar no último desenho. - Você...

- Ei Bruno! -gritou Rodrigo entrando na sala. - Sai de perto dele, eu vi o rosto, não faz seu tipo!

- O que você sabe sobre meu "tipo?" -perguntou fazendo sinal de aspas com as mãos.

- Todo mundo sabe que você gosta de caras mais velhos!

- Não sou generalista e não tenho um "tipo"... -Bruno parou como se estivesse pensando. - Na verdade eu tenho e é: qualquer um que não seja parecido com você! -Rodrigo fez cara de nervoso e foi sentar. - Ele fez alguma coisa com você?

- Não... Ele tirou minha máscara, mas não quero brigar por causa disso, afinal, eu mereço. -Diego sentou ao ver o professor entrando.

- Claro que não, ninguém merece ser perturbado, ou humilhado!

- Pois é...

  Diego se virou para a janela, pensando no quão erradas eram suas atitudes do passado, Bruno não quis insistir e o professor começou a passar lição, o resto da aula foi passado com tranquilidade. Ao sair da escola, Diego correu para o carro e encarou Fernando como se algo surpreendente tivesse acontecido.

- Ele me tocou! -Fernando fez cara de espanto sem entender. - Aqui na minha mão e segurou essa outra, depois eu toquei na pasta dele! -o homem continuou com cara de confusão.

- Ok... O que aconteceu com sua mão?

- Eu soquei o espelho do banheiro, aliás depois peça para a diretora mandar a conta do prejuízo.

- Por que fez isso?

- Fiquei zangado depois que um cara tirou minha máscara.

- Tem que controlar seus nervos.

- Eu sei, mas é melhor eu socar o vidro do que a cara daquele doido. -Fernando concordou mechendo a cabeça. - Mas mudando de assunto, ele é... Incrível, talentoso e cheira bem. -o homem riu da forma que Diego falava.

- Tudo bem, então chame ele para tomar um sorvete e resolva logo isso.

- Claro que não, quem aceitaria sair com um monstro igual eu... mas acho que ele é gay.

- Então não sei o motivo de tanta frescura.

- Não é óbvio! -Diego tirou a máscara. - Ele só está sendo legal, como é com todo mundo.

- Eu acho, que você vai ter muito tempo para descobrir o que ambos sente.

- Tem razão, vou dar tempo ao tempo.

   Como dito, Diego começou a esperar para ver o que acontecia, conforme o tempo passava ele começou a ter certeza de que Bruno era bom e gentil com todos, exceto com Rodrigo e alguns outros garotos que viviam irritando os alunos e professores. Angela voltou para casa algumas vezes, mas não passava mais de um dia, enquanto isso Neusa e Fernando, cuidavam e ouviam Diego.

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