Nem tudo o que é, parece. (4)

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  Ao voltar para casa Diego foi até a cozinha, sua mãe estava falando ao telefone, mas parou assim que o viu, a empregada estava arrumando os talheres na mesa.

- Bem vindo querido, como foi o primeiro dia de aula?

- Bom...

- Ótimo, preciso falar com você, se sente. -ambos sentaram próximos na mesa.

- O que foi?

- Primeiramente, o médico lhe mandou os cremes para queimadura e cicatrizes que você já deveria estar usando para acabar com essas marcas de uma vez, ele disse que se usar tudo certo daqui um ano não vai dar nem para reparar e se passar a frequentar a clínica, menos tempo ainda.

- Estava demorando... -suplicou Diego, vendo a sacola de cremes.

- Filho, não quer voltar a ser o menino lindo de antes?

- Não vou ser mais aquele rapaz nem com todos os cremes do mundo. -Angela revirou os olhos.

- Acho bom usar... Mas tenho outro assunto importante agora, seu pai nos deixou uma herança muito grande e valiosa, ele tem negócios em vários países, alguém precisa cuidar disso, então eu vou viajar por algum tempo, para cuidar dos negócios, mas tenho certeza que o Fernando e a Neusa vão cuidar muito bem de você...

- Muito obrigado mamãe! -disse se levantando. - Parecia que você se importava um pouco, mas pelo visto continua se importando apenas com o dinheiro!

  Diego saiu, direto para o jardim de trás da casa, arrancou a máscara e o blusão, chutou uma estátua em forma de pássaro e sentou no banco do canto, a empregada se aproximou segurando um livro e sentou ao lado dele.

- Não fique tão nervoso Diego...

- Como não? -ele encarou a senhora. - Ela sempre me tratou como objeto, depois do acidente estava até sendo legal, mas agora vai começar tudo de novo!

- Sua mãe tem pontos de vista diferentes, mas ela te ama, tenha um pouco de paciência.

- Neusa, você sabe que ela não vai mais voltar para essa casa, desde de o início ela estava preparando tudo para eu viver aqui sozinho, sem atrapalhar a nova vida dela de viúva... -ele mordeu o lábio tentando segurar a vontade de chorar. - Eu não tenho mais ninguém, meus amigos me esqueceram depois do acidente, meu pai já não ligava muito para mim, mas ao menos conversávamos às vezes e ela, sempre foi assim...

- Não diga isso querido, eu e o Fernando vamos continuar trabalhando aqui e vamos cuidar de você.

- Mas vocês trabalham para isso... -a senhora sorriu e ele pensou nas coisas do passado. - No entanto vocês sempre cuidaram de mim, mesmo sem ser sua obrigação e eu não reconhecendo isso...

- E vamos continuar.

- Obrigado Neusa. -Diego abraçou ela.

- De nada querido, agora pare de se lamentar, você precisa ficar forte, aliás acho que vai gostar de ler isso. -ela pegou o livro e deu para ele. - É a história de um rapaz, que teve muitas dificuldades em sua adolescência por causa da doença da mãe e a rejeição das pessoas ao redor por ele ser diferente e em aceitar sua sexualidade, minha filha disse que ajudou muito ela quando era mais jovem.

- Obrigado, vou ler.

- Agora vou trabalhar, quando quiser pode vir jantar.

- Ok.

   Neusa saiu, Diego olhou a capa azul do livro, folheou as páginas e começou a ler a sinopse, achou interessante e começou a ler, quando chegou na segunda página percebeu uma coisa, se levantou e correu até a cozinha.

- Neusa, eu não sou gay! -gritou entrando, a senhora riu.

- Eu não disse isso... mas nós dois sabemos da verdade. -ela o encarou esperando uma resposta, mas Diego não sabia o que dizer.

- Não vamos falar mais disso.

- Ok, mas não pode se esconder para sempre, uma hora vai ter que mostrar seu rosto, sua sexualidade e quem realmente é.

- Mas não precisa ser agora.

  Diego foi para o quarto, as palavras de Neusa ficaram martelando em sua mente, a senhora poderia ser velha e parecer não entender nada sobre, mas com certeza ela era totalmente o oposto, dava ótimos conselhos e tinha uma mente muito aberta, Diego ficou pensando se algum dia conseguiria sair na rua, sem máscara e... De repente ele se imaginou andando de mão dadas com Bruno.

- Não!!! -gritou ao ter esse pensamento. - Eu nem conheço ele, não posso imaginar essas coisas... -Diego passou a mão no rosto. - E ele não merece ficar com alguém assim...

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