Obrigado. (15)

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  Na sala de aula, Diego sentou no mesmo canto de sempre, Rodrigo estava estranho, ficou andando de um lado para o outro e encarando a porta, quando Bruno apareceu ele foi atrás do rapaz e o arrastou para fora da classe, Diego ficou preocupado e foi atrás deles, Rodrigo não parecia nervoso, porém muito estranho.

- Bruno, eu soube do seu pai. -disse encostando o rapaz na parede, enquanto Diego ouvia tudo escondido em um canto. - Eu sinto muito, deve estar sendo difícil para você.

- Tudo bem, ele vai melhorar.

- Sim... Você está bem, precisa de alguma coisa?

- Não obrigado.

- Se quiser pode ficar na minha casa, minha mãe é legal, ela vai entender.

- O Diego já está me ajudando...

- O que?! -perguntou em tom de revolta. - Você ainda está andando com aquela coisa feia, ele não é boa amizade para você, já viu a cara dele?

- Não e isso não me importa, nunca julguei ninguém pelo o que é por fora, não é agora que vou começar. -Bruno empurrou ele, mas Rodrigo voltou a o segurar.

- Espera, você sabe que no fundo eu gosto de você...

- Claro, gosta tanto que ano passado tentou me espancar!

- Eu estava confuso, não queria aceitar meus sentimentos.

- Como eu disse, não me importo com aparências, mas ações levo muito em conta e jamais ficaria com alguém que tem prazer na humilhação alheia!

  Bruno o empurrou e saiu, Diego correu para a sala, com medo de ser pego os olhando, ele conseguiu chegar antes e sentar, Bruno entrou e o encarou.

- Por que sumiu na entrada? -perguntou tentando não demonstrar que estava nervoso.

- Não queria atrapalhar a conversa com seus amigos.

- Bobagem... Ainda bem que você é uma pessoa boa.

  Diego sabia exatamente a razão dele dizer aquilo, porém no fundo ele sabia que não passava perto de ser uma pessoa boa, as lembranças de seus atos do passado confirmavam o contrário das palavras de Bruno, isso fez Diego pensar, que mesmo se sua aparência fosse aceita, ainda teria que contar para Bruno que antes de ficar com cicatrizes, era uma pessoa horrível por dentro.

  A aula acabou, nada de fora do comum aconteceu, Diego e Bruno foram em um táxi para a casa, em silêncio, pois cada um matinha pensamentos adversos, os quais lhes causavam muita preocupação, quando chegaram em casa Bruno foi direto para o quarto, Diego ficou na cozinha tentando colocar seus pensamentos em ordem, mas tudo aquilo o estava enlouquecendo.

  Após pensar muito foi até o quarto de Bruno, ele estava deitado com o rosto escondido no travesseiro, Diego se aproximou.

- Geralmente sou eu quem ficou com a cara escondida. -Bruno não respondeu. - Tudo bem? -o rapaz tirou o travesseiro da cara, os olhos azuis estavam vermelhos de tanto chorar. - O que aconteceu?

- Me sinto mal... -Diego abraçou ele.

- Fala comigo.

- Estou com medo, confuso, triste e com fome.

- E por que se isolou no quarto?

- Não queria que você percebesse.

- Por que?

- Porque você faz parte do fato de eu estar confuso. -Diego soltou ele e tentou secar as lágrimas, os dois se olharam e de repente começaram a rir. - Que droga!

- Sabe do que você precisa?

- De um psicólogo?

- Também, mas principalmente, aumentar os níveis de colesterol no seu sangue! -Diego foi até a porta. - Eu já volto!

  Ele foi até a cozinha, minutos depois ele voltou segurando com dificuldade vários doces e salgados.

- Se eu comer tudo isso vou morrer?

- Provavelmente não na hora, mas daqui alguns dias talvez.

- Legal.

  Diego colocou uma música animada para tocar, sentou ao lado de Bruno e deu os doces para o rapaz

- Como você vai comer com essa marcará? -perguntou Bruno.

- Eu não como essas coisas.

- Como assim?!

- Desde que eu era criança parei...

- Mas essas são as melhores coisas da vida!

- É que eu era gordinho... As crianças não me aceitavam muito bem, acho que por isso tenho tanto medo de tirar a máscara, tenho medo de ser rejeitado novamente, antes do acidente eu tinha conseguido ficar perfeito para os padrões...

- Diego, você não precisa agradar ninguém. -Bruno pegou bolinhas de chocolate e deu para ele. - Não precisa me mostrar seu rosto se não quiser, mas comer comigo sim!

- Okay, obrigado por ter tentado se aproximar desde o começo.

- Obrigado por estar comigo agora.

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