Vergonha. (5)

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  No dia seguinte, Diego ainda estava pensando no que Neusa disse, ao descer para o café da manhã viu sua mãe com várias malas e tirando uma foto no celular, provavelmente para expor nas redes sociais sua riqueza.

- Já vai? -perguntou cruzando os braços.

- Sim, mas eu volto e vou ligar sempre que der.

- Tchau. -Diego abraçou ela, Angela ficou surpresa, mas retribuiu. - Você seria capaz de me odiar?

- Claro que não.

- Mesmo que eu não fosse como você quer?

- Eu te amo querido.

  Angela deu um beijo na testa dele, um homem entrou pegou as malas e ela saiu com ele, Diego tomou café e entrou no carro, Fernando estava digitando uma mensagem e parecia preocupado.

- Algum problema?

- Nada demais, meu filho estava meio doente hoje de manhã, mas o teimoso insiste em ir para escola mesmo assim, é igual a mãe dele!

- Falando nisso, e sua esposa?

- Morreu a muitos anos... -Fernando ficou um pouco triste.

- Sinto muito.

- Mas e você, como vai a busca para ser alguém melhor?

- Bem... Nando, você acha que alguém seria capaz de amar uma pessoa, feia? -o homem riu.

- O verdadeiro amor existe quando a pessoa consegue amar até seus defeitos, e o importante é a beleza interior.

- Tô perdido! -suplicou desanimado.

- Desculpe a intromissão, mas está apaixonado?

- Claro que não, é impossível se apaixonar em um dia! -Fernando o encarou em um tom de dúvida. - Não estou, ele é totalmente diferente de mim e não merece ter alguém, horrível por dentro e fora como eu.

- Então é um rapaz?

- Falei demais. -Fernando riu.

- Tudo bem, eu entendo, meu filho é gay também.

- Não sou gay, eu ia dizer ela, mas me confundi.

- Sério? -perguntou olhando nos olhos de Diego, que já estava se sentindo um tonto por deixar ele perceber.

- Não é ele mesmo, e isso é mais um motivo para eu não poder estar me apaixonando por ele, seria muita loucura.

- Eu não acho, aprendi isso com meu menino.

- Vamos simplesmente esquecer e fingir que nada aconteceu, agora vamos para escola.

- Você que sabe...

  Fernando dirigiu até a escola, Diego correu direto para sala, de cabeça baixa, sentou na mesa de antes, alguns alunos já estavam na sala, Bruno chegou logo em seguida com cara de quem havia acabado de ser atropelado por um trator, assim que ele sentou, os amigos dele começaram a perguntar o que ele tinha, Diego ouviu curioso.

- Acordei mal, deve ser praga do traste do Vitor, ontem ele me procurou... -disse Bruno com a voz rouca. - A gente ficou gritando na rua até ele ir embora, depois fiquei meio gripado.

- Esse cara não sai do seu pé. -afirmou uma garota.

- Pois é, só quero que ele me esqueça, bem que meu pai avisou...

  Diego começou a tentar entender quem era Vitor e o motivo de estar atrás de Bruno, mas não conseguiu chegar a nenhuma conclusão definitiva. Durante a aula ele ficava olhando para o lado, Bruno passava boa parte das aulas desenhando no canto do caderno, ou em qualquer folha vazia, ele era muito bom nisso, até os desenhos simples ficavam incríveis, Diego queria o elogiar, mas ficou com vergonha de falar qualquer coisa. No intervalo Diego ficou atrás de uma árvore de novo, mas Rodrigo decidiu ir atormentar ele novamente.

- Se escondendo? -perguntou se aproximando, Diego pensou em sair, mas foi cercado por dois outros rapazes.

- O que você quer?

- Ver sua cara, vai tirar essa máscara por bem ou por mal? -Diego tentou sair, mas foi segurado.

- Não! -mesmo com ele lutando, Rodrigo tirou a máscara, ao ver o rosto de Diego tirou seu sorriso do rosto.

- Eu planeja lhe zoar, mas seu rosto é tão deformado, que nem preciso, com uma aparência assim ninguém nunca vai querer ficar perto de você, nossa você parece um monstro horroroso, aposto que nem sua família aguenta olhar seu rosto!

- Não!!!

  Diego se soltou e empurrou Rodrigo, que caiu no chão, ele pegou a máscara e correu para o banheiro, não tinha ninguém dentro, Diego se olhou em um dos espelhos do lavatório e começou a chorar, não apenas pelo seu rosto, mas porque já tinha sido alguém pior que Rodrigo, de tanta raiva ele deu um soco no espelho e o quebrou, no mesmo momento a porta se abriu e Bruno entrou.

- Não me olha!!! -gritou se virando para o canto e colocando a máscara.

- Que susto, eu não vi você aqui... -Bruno olhou para o lado, Diego se virou novamente com o capuz e a máscara...

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