[Rodrigo Aguilar - São Paulo, 1998]
—Oi. – Notei que ele se assustou com a minha resposta imediata, dando uns passos pra atrás enquanto eu abria mais a porta e mostrava meu quarto. – Entra.
Chamei, saindo da frente e dando espaço para que ele entrasse, eu já estava voltando lá pra baixo, mas né, de repente me pareceu bem mais interessante fazer com que ele entrasse ali... Não sei por quê.
Vi que ele vacilou, decidindo se ia ou vinha, se ficava ou voltava e isso foi fofo, parecia que ele estava com medo de que eu fosse fazer alguma coisa inesperada. Talvez até fosse, porque eu simplesmente não sei me controlar quando estou perto dele, mas só continuaria com o seu consentimento. Tipo aquele dia das nossas mãos... ah! Talvez eu tenha demorado pra lavar a mão depois disso e se eu demorei, ninguém precisa saber.
Depois de uma luta interna consigo mesmo, Miguel acabou por dar os passos que faltavam e entrou no meu quarto de vez, passando por mim e parando na metade do percurso. Encostei a porta, tentando fazer o mínimo de barulho possível para que ele não percebesse e se sentisse ainda mais ressabiado e parei para observá-lo varrer meu quarto com os olhos curiosos. Ainda bem que eu ainda não tinha bagunçado a ultima arrumação que minha mãe me obrigou a fazer. Amem?
—Você veio mesmo. – Comentei.
—Eu disse que viria. – Não, não disse não, mas deixei essa passar ao me dar conta que já tivemos um dialogo bem parecido com esse.
—Que bom. Então espero que goste, bom... de tudo.
Rodrigo já começou a falar merda, confere? Confere. Eu ia dizer pra aproveitar a festa, mas na metade do caminho me lembrei que nem lá estávamos, por isso saiu uma frase mal formulada. Ele concordou, de alguma forma entendendo, balançando a cabeça e logo depois se distraindo com a parede oposta a nós. Logo acima da minha cama, haviam algumas fotografias coladas de qualquer maneira na parede e, como um raio, ele foi atraído pra lá, se sentando na cama pra ver melhor.
—Foram tiradas por uma polaróide? – Me perguntou surpreso e deslumbrado.
—Sim. Não é demais?
Afirmei, o vendo passar a ponta dos dedos por elas.
—Demais. Eu quero uma faz tempo, meus pais disseram que irão me dar no meu aniversário.
Contou feliz, sorrindo e mostrando as covinhas. Ele tem covinhas. Puta que pariu, ele tem covinhas! Eu nunca tinha visto antes, talvez porque ele nunca sorriu assim tão abertamente, mas são lindas. Lindas ao nível de dar vontade de me matar pra ressuscitar três dias depois só pra falar que essas covinhas são as coisas mais lindas que eu já vi em toda a minha vida. Ok, ele gosta de fotografias, gosta muito pelo visto, a ponto de até se soltar e se esquecer de onde estava.
—Se você quiser, eu te empresto a minha por alguns dias.
Ofereci com sinceridade, eu nunca me importei de dividir minhas coisas e não era agora, especialmente com ele, que eu ia começar a me importar. Fiz o mesmo trajeto que o dele, chegando na cama e me sentando ao seu lado com as costas encostadas na parede.
—Nós não deveríamos estar na "festa"? – Me questionou de repente e com a voz sussurrada.
—Hey, não faça aspas com as mãos.
Repreendi ao que ele começou a sorrir divertido e sem se importar com aquilo. Não aguentei e acabei caindo na risada também, já que a festa estava realmente sendo um fracasso e o dono dela preferiu mil vezes ficar trancado no seu quarto com o... amigo?
Não poderia negar esse fato, como também não poderia negar que estar ali tão próximo dele me deu uns trem doido no coração. Por isso, tomando coragem, a mesma que tive naquele dia, deslizei minha mãos que estava apoiada nas minhas pernas outra vez para a mão dele que estava no colchão. De novo, meus órgãos internos só faltaram derreter e escorrer pelo buraco do umbigo enquanto nossos dedos entrelaçavam e o silencio tomava conta do lugar simbolizando que estávamos sozinhos. Pelo menos ali em cima sim.
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Por Nossos Filhos
Romance"-Quer saber... eu esperava que não, mas o tempo te fez um completo idiota. Seus pais finalmente conseguiram te tornar iguais a eles e a aquela briga idiota que nossas famílias tinham. Eu ainda tinha esperança, mas você não é mais o meu Miguel. Entã...