PNF - Capítulo 47

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[Rodrigo Aguilar Sobral]

—Peguei no pulo!

—Rodrigo, devolve.

Pediu mais uma vez, me perseguindo inutilmente pela casa, enquanto eu me acabava na risada e fugia dele igual a Bisteca foge dos banhos que eu tento dar nela.

—Olha só quantas! – Ri mais um pouco, tomando mais distância e passando manualmente as fotos para o lado. – Algumas eu nem lembro a ocasião, onde foi essa?

—Rodrigo...

Sua voz era calma, mas seu rosto era sério e como eu o conhecia bem, ele deveria estar borbulhando por dentro, pensando em todas as maneiras de me envenenar enquanto eu durmo pra ver se eu parava de graça. Eu deveria devolver a câmera e ficar preocupado, mas... bobagem.

—Queria poder voltar no tempo e falar pro Rodinho de 16 anos, triste e infeliz, que no futuro o Miguelito, agora seu marido, tira fotos dele escondido pra ficar babando depois. Ele ia surtar, bom, eu sei que eu estou surtando agora.

Cansei de fugir – a idade chega pra todos – e me sentei pra descansar no sofá. A maioria das fotos eu já havia passado duas ou três vezes e, em algumas, até tinha me surpreendido com o quão boa elas ficaram, eu parecia bem garoto tumblr, modelo despretensioso que não queria olhar pra foto, mas que sabia que estava sendo fotografado. Uh... eu ia pedir uma ou duas fotos daquelas pra poder atualizar o Instagram e trocar a foto de perfil do whats.

—Eu não fico babando depois. – Tentou se defender fracamente e sem nenhuma convicção, nem ele acreditava naquilo.

—Admirando então? Também serve.

—Da essa merda aqui. – Se jogou no sofá meio por cima de mim, me imobilizando e tomando a câmera da minha mão com brutalidade. – Não era nem pra esse cartão de memória estar na câmera. E eu não fico admirando, meu amor, eu só... só, só tiro foto de qualquer coisa pra testar a iluminação.

Qualquer coisa: Rodrigo distraído, Rodrigo dormindo e Rodrigo sorrindo. Torço pra que todo mundo um dia seja 'qualquer coisa' do jeito que eu aparento ser pra ele.

—Iluminação. Claro, como ninguém pensou nisso?

Abracei-o carinhosamente dando um beijo exagerado na sua bochecha e subindo por cima dele de forma espalhafatosa. Quem olhasse até pensaria que não tínhamos nada pra fazer na vida, mas ele havia acabado de chegar de uma sessão, deixando as câmeras e lentes em cima da mesa – por isso eu havia encontrado o cartão com as minhas fotos – e hoje era o meu dia de folga lá no restaurante.

E era bom ficar assim, especialmente porque às vezes a rotina dos nossos trabalhos acabava dificultando que ficássemos juntos todo o tempo que queríamos, já que quando eu chegava, ele já estava quase dormindo e no outro dia de manhã, quando ele acordava, eu ainda estava morrendo de sono, dormindo pelos cantos, pela noite intensa trabalhando. As tardes eram nossos momentos sagrados e preciosos que aproveitávamos o máximo de tempo juntos, trocando carinho, afeto e patadas claro, isso quando ele não estava ocupado com o novo trabalho na galeria da Senhora Simmons, um doce senhora que aparentemente não havia gostado da minha comida quando nos conhecemos, mas tudo bem, nem todo mundo tem bom gosto e sabe apreciar as boas coisas da vid...o que eu dizia mesmo?

Sobretudo, vínhamos conseguindo contornar a situação muito bem e vínhamos levando nossa relação saudavelmente como eu sempre imaginei que um dia faria, obrigado. Era leve, apesar da carga negativa que parecia nos acompanhar desde o nascimento, era bom, era amoroso e eu tive ainda mais certeza de que a outra ponta do meu fio da vida era ele que carregava. Valeu a pena esperar e lutar por isso.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora