PNF - Capítulo 42

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[Miguel – Coral Springs/FL]


Fechei os olhos e deixei a brisa bater no meu rosto, varrendo os pensamentos angustiantes e amenizando a sensação ruim que teimava em não me abandonar nem por um segundo. O fim de tarde já se aproximava e, por mais que esse fosse meu momento preferido do dia, apesar da vista bonita que eu tinha diante dos meus olhos, nem isso conseguia me animar de fato. Ainda de olhos fechados, tentei fazer com que minhas respirações se tornassem lentas e ritmadas, fazendo meu peito subir e descer visivelmente.

Quando é que eu me resumi a isso? Quando é que minha vida tinha chegado àquele estágio? Porque sim, pensamentos iam e vinham e eu não conseguia deixar de me flagelar com esses questionamentos internos.

Pra falar a verdade eu sabia a resposta, nada nunca havia sido fácil, mas tudo tinha se complicado ainda mais quando eu resolvi desistir de enfrentar as coisas de frente.

Voltei a abrir os olhos, fitando minha velha e inseparável companheira fotográfica e passei pelas fotos salvas no cartão. Algumas recém-tiradas da paisagem a minha frente, porque eu simplesmente precisava aproveitar, outras, mais antigas e que eu não conseguia apagar, pois tinha um apreço especial. E foi exatamente nessas que eu me prendi. Parecia ridículo no momento em que as tirei e parecia ainda mais ridículo agora ao lembrar e passar por cada uma delas, mas era sem orgulho nenhum mesmo que eu exibia as inúmeras fotos que eu mantinha do Rodrigo, tiradas enquanto ele estava distraído e não fazia ideia de que eu estava com uma câmera na mão o flagrando. Era uma mais estranha e divertida que a outra, dedo queimado e um quase choro por isso, briga com a Bisteca porque, segundo ele, ela não estava comendo direito, o dia em que eu fui até sua casa tirar fotos dos seus pratos, dormindo de boca aberta enquanto murmurava 'eles estão próximos, fuja sem mim' e até uma dele dando conselhos a minha filha.

Olhando todas elas ficava impossível não sorrir e me lembrar de todos os momentos bons, me esquecendo do resto e focando no quanto era bom estar com ele, e no quanto eu tinha que admitir que o amava de verdade, ser o primeiro a ir embora, a abrir mão, não garante também ser o primeiro a esquecer. E eu queria voltar, eu mais que tudo queria voltar, mas talvez fosse tarde demais pra isso.

Voltei andando a pé pra casa quando a noite já caía e as estrelas estavam altas no céu, não foi uma caminhada longa, mas fora bom pra continuar distraindo minha cabeça com qualquer outra coisa que não fosse meu profundo arrependimento. Destranquei a porta de casa, dando de cara mais uma vez com os cômodos vazios e suspirei frustrado, tudo que tínhamos ou tinha sido mandado pro Brasil ou estava desmontado em um canto qualquer entre corredores, era uma coisa que eu realmente não tinha considerado quando estava voltando e agora estava precisando me virar com o que tinha. Comi a sobra do almoço que eu encomendei de um local próximo, pensando que assim não daria pra ficar por muito tempo e logo depois de tomar um banho me deitei pra descansar mais uma noite, e assim se seguiu mais duas depois de ter chegado ali.

...

Acordar de manhã depois de muitos anos sofrendo com isso já tinha se tornado um hábito, um bom hábito que eu mantinha em qualquer país que eu estivesse, apesar da diferença de horário. E dessa vez não foi diferente, levantei sem nem mesmo precisar do despertador e me peguei criando minha rotina enquanto tomava um banho, escovava os dentes e via o que tinha pra comer. Mas, batidas desesperadas na porta de repente me assustaram, obrigando-me a largar tudo pela metade e ir lá atender.

Deveria ser algum vizinho que viu que eu havia volta, ou algum...

—Rodrigo? – Me espantei ao deparar com ele parado ali na porta.

—Escuta aqui. – Apontou o dedo agressivamente pra mim, seu peito subia e descia e ele aparentava estar cansado. – Tem um copo de água?

—O... o que você tá fa-fazendo aqui?

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora