PNF - Capítulo 17

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[Rodrigo Aguilar]

—Eu não tô acreditando nisso... Eu... eu, que decepção, eu nunca esperaria uma coisa dessas vindo de você, Yuri. – Esbravejei.

—Pai...

—Não.– Interrompi antes que ele começasse a justificar a merda que tinha feito. – Não fala comigo.

—Não vou poder falar contigo nunca mais?

—Eu esperava tudo, menos isso de um filho. Saiba que você me decepcionou muito hoje. Eu olho pra você e não acredito que você foi capaz de fazer uma coisa dessas.

—Exagerado.

Ele dizia risonho como se não importasse com o desgraçamento que causou na minha vida. A gente cria um filho com todo o amor do mundo pra ele ir lá e fazer uma coisa dessas. Pode isso? Filho meu, sangue do meu sangue...

—Eu vi coisas que não podem ser desvistas, mas eu vou te perdoar. Amanhã você vai pintar esse cabelo de novo e deixar da cor normal.

Onde já se viu platinar o cabelo? Que coisa mais ridícula. Quem em sã consciência faz uma coisa dessas por vontade própria? Perguntei a mim mesmo e aos céus que pareciam estar de sacanagem com a minha cara. E desde o momento em que ele apareceu na minha casa com aquele cabelo ridículo, eu vinha tentando entender o porquê disso.

—Eu vou tirar. – Ele riu. – Mas é porque eu também não gostei.

—Você deveria ter vergonha de andar com isso daí. O que a sua namorada pensa? Suponho que nessa altura ela já comprou uma passagem de volta para o país dela.

—A Clara? – Questionou sério, me fazendo pensar em quantas namoradas ele tem pra ficar em duvida assim. – Ela ainda não viu... e ela não é minha namorada.

Larguei a televisão de lado, ignorando como o participante foi tão burro a ponto de errar o ponto da massa e me batendo mentalmente por ainda insistir nessas reprises. Eu só passava raiva.

—Faz o que? Duas semanas que ela chegou, né? Você tá esperando o que pra tomar uma iniciativa, meu filho? Aparecer outro? – Adverti. – Você sabe que brasileiro são tudo ousadia e alegria, né, vão ver uma gringa lindinha igual ela solta por aí... aí já viu.

Neguei com cabeça diante de tanta lerdeza. Ele gosta da menina, tem quase certeza de que ela também gosta dele, quase teve um treco quando soube que ela viria morar aqui e fica nesse frescura. Esse não deve ser meu filho, preciso me certificar com a Fernanda.

—É só... que, sei lá.

—Só que sei lá? – Repiti.

—Eu não quero estragar a amizade que a gente construiu nesse tempo, pai.

—Oxe, mas quem é que estraga a amizade com sexo? Alias, relacionamento é amizade com sexo. – Ok, tudo bem, talvez eu não seja a melhor pessoa para dar conselhos amorosos pro meu filho, mas ninguém poderia me julgar, eu estava tentando. – O que eu estou querendo dizer é que, a relação de amizade que vocês construíram não precisa necessariamente acabar. Namorados, ficantes, peguetes, são amigos também, não são? E se por acaso ela não te quiser, você arma um plano de vingança contra ela e sua família.

Ser maduro e dar bons conselhos às vezes cansa.

—Pai... – Ele suspirou desistente, acabando por sorrir depois. Não é porque era meu filho não, mas o trem era bonito, e fofinho, e... macio. Qualquer um ficaria encantado, tirando aquela droga de cabelo platinado, claro. – Você não acha que é meio coisa de velho eu ir falar de sentimentos, ainda mais nos dias de hoje?

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora