PNF - Capítulo 43 - PARTE I

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[Rodrigo - Coral Springs/FL]

Pássaros cantam todas as manhãs como forma de agradecer. Todas as noites ele passam por um sufoco inimaginável ao pensar que a qualquer momento podem ser devorados por um gato ou por outro pássaro maior, que, quando o dia amanhece e eles veem que ainda estão vivos, cantam pra celebrar! E isso ocorre desde o período jurássico!

Eu acho que li em algum jornal... ou será que foi eu que inventei tudo isso em algum momento do sono profundo? Fica aí a grande questão.

Eu só sei que antes mesmo de abrir os olhos pra uma nova manhã, pude escutar o canto desses pássaros perto da janela do quarto onde eu dormi. Será que pássaros também cantam em línguas diferentes, tipo, pássaro no Brasil canta em português, e pássaro aqui nos Estados Unidos canta em inglês? É algo que eu nunca vou saber...

—Ei, eu sou o pai aqui! Então para de querer me dar conselhos e me dizer o que fazer.

Escutei o Miguel sussurrar em algum canto daquela casa que estava praticamente vazia e que por isso causava eco até se você fosse peidar. Eu sentia que ele não estava longe, no entanto, se ele levantou e foi pra outro lugar pra falar com mais privacidade, eu iria fazer um esforço pra não ficar ouvindo.

Quem eu quero enganar?

—Tá, tá tudo bem agora sim. E por aí?

Ele dava pequenas pausas, provavelmente ouvindo o que a outra pessoa dizia do outro lado da linha e logo depois acrescentava algo sempre no mesmo tom amoroso e gentil.

—Juízo, hein! Não, eu não sei... mas quando eu for voltar eu te aviso, tá? Beijo, te amo.

Só isso? Jura que eu fiquei ouvindo a conversa alheia pra não absorver nada de útil e revelador? Algo talvez sobre a minha pessoa, algo que pudesse ser usado ao meu favor sem ele nem imaginar que eu ouvi, algo do tipo: "eu realmente prefiro o Rodrigo de barba" ou " a comida dele deveria ter mais tempero" ou até mesmo "os exercícios que ele faz estão mesmo fazendo efeito". Não teve nada disso. Nada. Decepcionado estou.

Levantei depois disso, buscando minhas roupas jogadas pelo chão, até que ele apareceu poucos segundos depois com um sorriso no rosto e se surpreendendo por me ver acordado e de pé.

—Oi! Já levantou? – Perguntas óbvias. Por que seres humanos ainda fazem? – Eu estava falando com a Clara.

Comentou casualmente, percebendo que provavelmente eu teria ouvido boa parte, ou senão toda a sua conversa.

—Eu sou um pai muito ruim por não ter sequer cogitado a ideia de ligar pro Yuri pra saber como ele tá?

Parei de vestir a calça pela metade e olhei pra ele verdadeiramente preocupado. Veja bem, eu me considerava um bom pai, mas o Miguel veio e colocou as minhas convicções lá no chinelo quando se trata de ser um pai responsável e preocupado.

—Ele tá bem. – Sorriu, me secando de um jeito um pouco obsceno eu diria, mas sem parecer ter ideia do que estava fazendo e aparentando se agradar com o que via. Tá calor aqui, né? Vou ficar sem calça mesmo pra ajudar, sendo assim, desfiz o caminho que já tinha feito com ela pelas minhas pernas e a deixei de lado, ficando apenas de boxer. – Sabe como eu sei? A Clara tá com ele.

Continuou informando com uma felicidade estampada no rosto, sorrindo, se aproximando e envolvendo meu corpo com os braços.

—Oh isso é bom. – Me contive quando já estava próximo a ele pra lhe dar um beijo. Eu deveria estar com um bafo de sete urubus mortos, por Deus!

—Uhum. – Concordou cheio de expressões e fechou os olhos por um momento quando eu passei a mão pelo seu rosto. – Hei, hum, enquanto você estava dormindo, deu tempo de passar no mercado aqui perto e comprar umas coisas pra você fazer o café da manhã. Ainda bem que o fogão tá aqui.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora