PNF - Capítulo 30 - PARTE I

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Nota do estagiário: o itálico no começo do capítulo é uma voltinha ao passado, turobom? Todos os sentimentos e emoções são daquela época. Depois voltaremos com a programação normal.

***

[Miguel]

Um mês.

Fazia exatamente um mês em que eu havia sido deixado ali pelos meus pais somente com um aceno de despedida e uma promessa de que nada me faltaria e que seria o melhor pra mim. Mas não estava sendo, tudo me faltava, e eu não estava me referindo a nada material.

Minha ficha começava a cair de que tudo aquilo era real e eu não me sentia muito bem com o fato de saber que não podia fazer nada contra isso. Quando chegamos ali, um mês atrás, minha tia já estava ciente da situação e nos esperava sair do táxi que pegamos no aeroporto e nos ajudou o com as malas que eu trazia. Não foram muitas coisas, na verdade, eu não consegui reunir nem metade daquilo que queria ou precisava e, embora meus pais tenham garantido que eu poderia comprar tudo que quisesse, sabia que sentiria falta das minhas coisas. Dito e feito, agora, eu não só sentia falta dos objetos, como também do meu quarto, do Brasil, da minha vida... e do Rodrigo.

Era tentar querer enganar a mim mesmo se eu dissesse que não. Eu sentia falta da forma como ele falava besteira a todo o momento tentando ser engraçado, da risada que ele mesmo dava por isso e até do jeito que ele era comigo. Era idiotice, eu sabia, e sabia também que se houvesse a mínima chance de eu voltar pra casa e continuar minha vida normalmente, essa chance seria tirando da cabeça tudo que me remetesse a ele e mostrando aos meus pais que eles estavam enganados quanto a mim. Eu precisaria esquecê-lo, de qualquer maneira... esquecer de toda a forma o pouco que vivemos – e o quanto eu me senti bem com ele –, esquecer o que secretamente eu imaginava para nós dois e definitivamente esquecer e camuflar de vez o fato de que eu havia descoberto que meninos me atraiam bem mais que meninas.

—Um real por seus pensamentos. – Neguei com cabeça, afastando os pensamentos ao ver a Clara chegando sorrateira na porta do quarto.

—Prefiro dólar. – Constei sorrindo a ela e me arrastando um pouco mais para o lado da cama para lhe dar espaço. – Vem cá.

Bati no espaço vago ao meu lado, indicando que era ali que ela deveria se sentar e assim ela o fez. Era sábado de manhã, o tempo, pelas cortinas do meu quarto, parecia estar bem nublado e eu torci para que não chovesse.

—Pensei que você estivesse acompanhado. – Ela comunicou, olhando pros lados e parecendo procurar algum vestígio de que alguém esteve ali.

—Não estou.

Decidira dar um tempo na minha quase relação com Emma, ao meu ver as coisas estavam indo rápido demais – ou sérias demais – e não era o momento, não pra mim. Relacionamentos nunca foram tão importante e uma prioridade pra mim, no começo, especialmente porque eu tinha uma filha pequena ao mesmo tempo em que tentava vencer na vida, depois, eu simplesmente deixava que as coisas rolassem até que inevitavelmente chegassem ao fim, porque sim, elas sempre chegavam. Digamos que eu não fazia nada pra causá-lo, mas também não fazia nada pra mantê-lo, e devo falar, na maioria das vezes eu até achava que era bem melhor assim. Porque relacionamentos só dão trabalho.

Abracei minha filha de lado, dando um beijo nos seus cabelos e puxando sua cabeça para que se deitasse em meus ombros. Entrelacei nossos dedos numa forma de carinho e ficamos curtindo o momento em silêncio, mas silêncio com a Clara não dura muito, especialmente quando ela vem até a mim com assuntos para tratar:

—Pai.

—Hum. – Prontamente respondi, esperando para o que ela iria falar.

—Lembra que você disse que iria conversar com seus pais... meus avós? – Começou cautelosamente.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora