[Miguel Sobral]
Mudo a estação das rádios mais uma vez, negando com a cabeça por ainda não ter achado nada que me agrade e por fim resolvo desligar o rádio. O sinal verde demora pra abrir e quando o faz, não perco nem mais um segundo pra seguir com meu caminho.
Chegar cedo na profissão a qual eu trabalho é uma das principais regras a serem cumpridas, você simplesmente não pode chegar depois que todo mundo já chegou e ocupou o espaço, ou, os ângulos que seriam melhores pra você. Isso dificultaria muito obter fotos e vídeos com o máximo de qualidade esperado e que mostrem os melhores momentos do evento, por isso, eu sempre permanecia atento ao horário. Consequentemente também, nós sempre éramos um dos últimos a sair, atentos a tudo e qualquer momento que precisasse ser eternizado. Mas eu não reclamava, era um bom trabalho e fotografar casamentos, dentre todas as outras coisas que eu fotografava, era uma das coisas que eu mais gostava. Quase sempre envolvia muita emoção da parte dos noivos e dos convidados e era isso que eu gostava de capturar, por isso aceitei de imediato quando a noiva, amiga de uma das pessoas que eu já havia trabalhado, me ligou.
Assim que cheguei ao Maison Saint Germain, local onde seria realizada a cerimônia, pode ver poucas pessoas ali e a maioria se identificava como da organização do casamento. Me identifiquei também e logo entrei, tendo que fazer duas viagens devido aos meus equipamentos, os que eu iria usar e os reservas caso acontecesse algum imprevisto. Nunca se sabe.
Me certifiquei que o casamento aconteceria na parte externa do local, sendo agraciado somente com as luzes artificiais, velas e a pouco claridade natural que ainda tinha e me preparei pra isso. Depois de analisar o local, eu gostava de fechar os olhos e imaginar como ficaria melhor cada imagem a ser tirada e qual seria o melhor ângulo para que elas se destacassem, e assim fiz. Fotografia ia muito alem de só fotografar, trazia a mim uma espécie de sentimento que eu não sabia explicar, eu coloca toda a minha alma nisso.
Deixei dois tipos de lentes devidamente separadas, as que eu sabia que com certeza iria precisar, e mais uma de alcance diferenciado caso eu quisesse modificar. Meu trabalho começaria em breve, ao julgar pela movimentação e o considerável numero de convidados já presentes, então, me preparei para fazer o que sabia fazer de melhor. Muita gente acha fotógrafos são pagos pela fotografia, e está bem longe de ser somente isso, fotógrafos são pagos para não serem vistos, ao mesmo tempo em que capturam momentos que mais ninguém viu.
Sendo assim, eu dei inicio então aos meus trabalhos, passando por cada parte do ambiente muito bem decorado e focalizando com minha lente alguns dos momentos. Os padrinhos e o noivo, juntamente com sua mãe, paravam próximo ao arco de flores colocado antes da passarela de flores e no inicio do tapete vermelho para que eu fotografasse-os, seguindo seu caminho logo depois ao som dos violinos. Logo não tardou em anunciarem que a noiva entraria, mais cedo fiz com ela um ensaio com o vestido do casamento e todas as madrinhas se preparando para tal, então não me surpreendi quando ela entrou muito bonita e irradiando felicidade.
Apesar de estar muito envolvido e concentrado com o estava fazendo, às vezes eu me sentia estranhamente sendo observado, talvez porque tinham muitas pessoas por ali e elas me olhavam, mas em um determinado momento a sensação começou a se tornar estranha. Segui assim por algum tempo, já que não poderia parar por uma coisa boba, dando continuidade às fotos ao decorrer do evento, até que ouço uma voz me interromper:
—Tira uma foto minha? – Interrompi a câmera que eu levara até meu rosto e que tinha a intensão de registrar uma das daminhas com as bochechas sujas e me virei em direção à voz. Era quase que natural alguém pedir para que eu tire alguma foto, afinal, eu estava ali pra isso e depois os noivos que escolhiam quais iam para o álbum, mas eu não esperava que fosse ele que estivesse me pedindo. – Tô bonito?
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Por Nossos Filhos
Romance"-Quer saber... eu esperava que não, mas o tempo te fez um completo idiota. Seus pais finalmente conseguiram te tornar iguais a eles e a aquela briga idiota que nossas famílias tinham. Eu ainda tinha esperança, mas você não é mais o meu Miguel. Entã...