PNF - Capítulo 24

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[Rodrigo Aguilar]

Perdi o horário da missa!

Droga. Eu devo ter simplesmente desligado o despertador do celular e voltado a dormir, como já fiz algumas vezes, o que me deixava ainda mais puto. Os anos passavam, a tecnologia avançava e as pessoas ainda não tinham sido competentes o suficiente pra melhorar isso? Talvez um despertador que só parasse quando se convencesse que o dono estava acordado fosse uma boa, talvez.

Ainda tentei levantar rapidamente, tendo certeza de que minha alma ainda ficou na cama pela rapidez com que eu fiz, mas nada feito, nessa hora o padre já deveria estar dizendo o ultimo 'amém'. Fracassei. Sendo assim, optei por fracassar mais um pouco na cama, voltando a me deitar com calma pra não acordar a Bisteca que todas as noites arranhava a porta e chorava pra ir dormir comigo. Alias, a única que eu deixava dormir comigo por motivos de: eu não confiava bastante em humanos que pudessem me matar enquanto eu durmo. Qual é? Algo totalmente possível de acontecer.

Permaneci olhando pro teto, sentindo a maciez dos travesseiros – porque eu era enjoado demais pra usar somente um – e pensando na vida e que talvez devesse levantar e ser útil logo de uma vez. Dormi de novo em poucos segundos obviamente.

Acordei algum tempo depois, movido pela vontade de ir ao banheiro, então levantei e aproveitei pra tomar um banho também e fazer algo muito importante, como, pegar o celular e ver o que eu tinha perdido nas redes sociais desde que fui dormir. Escutei vozes do lado de fora do meu quarto, sorrindo e conversando sobre alguma coisa alegremente, então eu saí pra ver o que se tratava. Encontrei meu filho, obviamente, pois ele morava ali, junto com a namorada preparando algo na cozinha.

—Oi Clarinha. – Amém que eu me vesti antes. Ela me notou, sorriu e veio me abraçar com carinho. Nem parece que é filha de quem é... talvez não fosse mesmo, talvez tudo não passasse de uma conspiração do governo contra mim. O governo americano tem muito disso, né? Permanecerei atento. – Dormiu bem? O cabeçudo ronca muito, né?

Perguntei a ela que sorriu negando e voltando a se sentar enquanto via o Yuri virar uma panqueca na frigideira. Café da manhã tipicamente americano, huh? Esse já tá domado, acho é pouco.

—Na verdade eu não dormi aqui... eu só vim pra cá agora.

Esclareceu de forma calma, porem com uma expressão não muito amigável, talvez entristecida, mas que mesmo assim continuava bonita. Aquele ridículo pode ser ridiculamente ridículo, mas tinha uma filha muito bonita. Eu tinha criado uma espécie de carinho muito grande pela Clara, claro que por ela namorar meu filho e o fazer feliz, mas também por ela ser filha de quem era. Quão trouxa eu sou?

Mas era legal pensar que se um dia eu amei a arvore, eu podia amar o fruto que ela deu... não do mesmo jeito, claro.

—Então sentiu vontade de tomar meu café, né? O segredo é colocar uma colherzinha de canela no meio do pó antes de coar. – Expliquei. Eu pretendia guardar os segredos pra quando lançasse minha bibliografia, mas tinha muitas coisas a revelar ainda.

—Seu café é muito bom sim, mas é outra coisa. – Suspirou agora ajudando com as panquecas e me passando um prato.

—Ela tá fugindo de ter que tomar café da manhã com o pai dela e a namorada nova dele.

Yuri me explicou calmamente. Mas espera... é o que?

—É que eu mal a conheço e ela já está enfiada lá em casa como se morasse lá, tomando café da manhã e agindo como se fosse da família enquanto desfila com roupas inapropriadas.

Wow!

Imagens demais. Imagens demais! Cérebro, por favor, pare de imaginar. Coração, deixa de ser doido, não tem motivo pra bater descompassado.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora