[Rodrigo]
—Pra onde você vai?
—Aiii que susto filhodaputa!!
Pulei devido ao susto, dando alguns passos pra trás, me desequilibrando nos meus tênis jogados pelo chão, com a voz que surgiu do nada ali no meu quarto. Minhas mãos estavam ocupadas tentando lidar com os botões da camisa que eu vestia e por pouco eu não vou ao chão. Na soleira da porta do meu quarto, com metade do corpo encostado nela, o Yuri sorria divertido pelo meu susto e reação, e esperava por uma resposta minha. Eu estava tão concentrado naquilo que não o vi se aproximar, nem mesmo percebi que provavelmente já fazia algum tempo que ele estava ali sorrateiramente, o que aumentou ainda mais a minha vergonha, pois eu sou do tipo que costuma fazer caras e bocas enquanto me visto na frente do espelho.
Me arrumar pra sair e tomar uma cerveja que fosse com o Miguel estava se saindo uma tarefa muito mais complicada do que eu queria e pretendia. Nada estava bom, tudo estava demais e exagerado, e, se aquela já era a terceira camisa que eu experimentava, isso não era problema de ninguém.
—Desculpa, sua mãe não é puta... Na verdade, esse xingamento é escroto demais pra se fazer a uma mulher, seja pelas atitudes ou pela profissão, nenhuma mulher dever classificada como puta. – Corrigi, até mesmo me policiando pra deixar claro que aquela não foi minha intenção.
Somos criados e ensinados desde pequenos a diariamente reproduzir discurso machista, homofóbico e racista como se fosse normal, ou pior, em espécie de piada, algo totalmente desprezível, e que deveria ser extinto de vez da sociedade. Por isso, mesmo que aos poucos e um exercício diário meu, eu sempre procurava eliminar isso dos meus discursos e dos discursos das pessoas que estavam próximas a mim.
—De boa, pai, é só um xingamento que todo mundo usa, não precisa problematizar. – Ele revirou os olhos, entediado como sempre fazia. Eu provavelmente 'problematizo' com ele desde os dois anos de idade, quando começou a falar algumas palavrinhas. – Mas você não respondeu, onde vai assim todo arrumado?
—Você acha que tá bom?
Perguntei, avaliando eu mesmo o resultado, não que importasse muito minha aparecia nesse encontro, não importava mesmo, mas eu queria estar bem comigo mesmo.
Nem eu mesmo acredito nisso.
—Tá gatão. É algum encontro? – Ele quis saber, entrando um pouco mais no quarto e me encarando.
—Não. Claro que não.
—Ah, então você decidiu que ia tirar um dia de folga do restaurante, tá se arrumando há exatamente uma hora e meia – Ele fingiu olhar num relógio inexistente no seu braço. – Pra sentar comigo e a Bisteca na sala e assistir televisão?
—Eu disse que não é um encontro, não que eu vou ficar em casa, você que deduziu isso.
Dei de ombros e resolvi ignorá-lo, dando mais uma olhada no espelho e passado por ele pra chegar até ao guarda roupa onde eu guardava meus perfumes.
—Você não vai falar nada mesmo, né?
'Estou indo tomar alguma coisa com seu sogro e bater um papo, pois eu vi que conseguiríamos nos darmos bem apesar do namorinho da adolescência que tivemos, apesar de você e a filha dele estarem namorando' não parecia uma boa explicação a dar, não no momento, por isso só neguei e dei a ele um sorriso debochando da sua curiosidade.
—Espero que seja uma paixãozinha nova, você precisa, já que faz tempo que tá sozinho... deve ter até teia de aranha aí.
Falou rindo, apontando descaradamente pras minhas partes baixas e gargalhando cada vez mais com aquilo que tinha falado. Será que ainda dá tempo de devolver lá na maternidade? Procurei algo pra jogar na cara daquele ridículo, mas já era tarde demais, pois ele já havia saído do quarto as pressas e ainda rindo.
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Por Nossos Filhos
Romance"-Quer saber... eu esperava que não, mas o tempo te fez um completo idiota. Seus pais finalmente conseguiram te tornar iguais a eles e a aquela briga idiota que nossas famílias tinham. Eu ainda tinha esperança, mas você não é mais o meu Miguel. Entã...