[Rodrigo]
—Hi my best friend.
—Hi mate, how are you? I'm so tired, I hope you're better than me.
—Ok, tá legal. Vamos voltar para o português.
Tem gente que não sabe nem brincar, já chega na ignorância, eu hein, maldito inglês fluente. Do outro lado da linha, pude ouvir a risada alta e debochada do Miguel ecoar por onde quer que ele estivesse e eu poderia ficar ainda mais bravo se não fosse pelo fato de imaginá-lo naquela situação. Eu gostava tanto de ouvi-lo dando risada, melhor que isso, só vendo-o dando risada. Aquela covinha...
—Ok. A que devo a honra da sua ligação? Aliás, você sabe que pode mandar mensagens, né, muito mais fácil!
Ele me disse ainda tentando controlar a risada e respirando audivelmente próximo ao telefone. Cruzei os braços e suspirei derrotado, eu realmente achei que iria ter que fazer uma explicação como aquela para um futuro filho, um futuro neto, não pra alguém da mesma geração que eu, mas comecei a lhe explicar:
—O problema é esse, Mig-Mig. Parece que hoje tudo é feito para facilitar a vida das pessoas, quando na verdade, só estão as distanciando. Hoje em dia ninguém mais ouve a voz da outra pessoa porque preferem mandar mensagem, hoje em dia ninguém mais se encontra porque existem grupos no whatsapp que, aparentemente, pode reunir todo mundo. Tudo está se tornando cada vez mais artificial... Você se lembra, na adolescência, quando eu precisava ligar pro fixo da sua casa e pedir pra quem quer que tivesse atendido passar pra você? Bons tempos. Então, não, não vou te mandar mensagem enquanto eu puder te ligar, obrigado.
Expliquei toda a minha indignação com algumas modernidades, eu realmente as odiava... exceto os memes. Eu amo memes.
—É... Tem razão, pensando assim, eu acho...
Ouvi concordar do outro lado, não sabia se por realmente ver sentido, ou se só pra me ver calar a boca, mas nem liguei.
—Mas não foi pra isso que eu te liguei.
Comentei casualmente, começando com o cuidado de sempre.
—Ah não? Eu realmente não iria estranhar se fosse. Ultimamente você vem me ligando com cada assunto.
Mas que filho da mãe! Tudo bem que nos últimos dias eu lhe liguei uma, ou duas – cinco vezes – para perguntar se ele havia bebido água o suficiente durante o dia, mas era bastante razoável pra mim. Eu prezo pela saúde do fígado, ué. Olhei ao meu redor, observando os funcionários alheios àquela minha conversa – e bem menos agitados do que estavam mais cedo – e relaxei pra poder falar o que eu quisesse. Estávamos ao final do nosso expediente no restaurante e só restavam mesmo um ou outro cliente que terminava sua refeição, logo poderíamos fechar e começar a dar início a limpeza.
—Te liguei porque quero te sequestrar essa noite. – Revelei cheio dos planos que fiz mais cedo.
—Sequestrar? Como assim?
—Sequestrar, ué. Te pegar e te levar para um lugar.
—Que lugar? – Perguntou curioso.
—Você nunca assistiu filmes, Miguel? A gente não fala pra onde vai levar a vítima do sequestro.
Que mundo ele vivia?
—Eu realmente cansei de tentar entender o que você fala, agora eu só sorrio e aceno... então... como vai funcionar isso?
Suspirou frustrado, aceitando a proposta e eu sorri achando ótimo, quanto mais ele se rendesse, melhor para mim.
—Tem como você vir até o restaurante daqui à uma hora mais ou menos?
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Por Nossos Filhos
Romance"-Quer saber... eu esperava que não, mas o tempo te fez um completo idiota. Seus pais finalmente conseguiram te tornar iguais a eles e a aquela briga idiota que nossas famílias tinham. Eu ainda tinha esperança, mas você não é mais o meu Miguel. Entã...