PNF - Capítulo 36

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[Rodrigo]

Os humilhados serão exaltados

Eu não sabia muito bem o porquê de estar com aquela passagem da bíblia na minha cabeça desde a hora que abri os olhos, mas, parando pra pensar, não é que fazia extremamente sentido?

Sorri grande olhando para o teto descascado do quarto e imaginei que uma nova pintura seria necessária, mas quem se importa? Coisas mais importantes estavam acontecendo, muito mais importantes no meu ponto de vista, fodam-se o resto.

Virei então para o lado tomando cuidado pra não me movimentar muito – se bem que meu colchão é de molas ensacadas – e deixando que meu sorriso somente aumentasse. O Miguel ainda continuava dormindo ao meu lado do jeito que acabou adormecendo na noite anterior. Nós tínhamos ido pro quarto e ali continuamos a conversar sobre bobagens até que eventualmente, no meio de uma frase minha, eu percebi que ele havia acabado por pegar no sono. De roupa mesmo, do jeito meio torto que ele estava e sem nem perceber. Pode ser que eu tenha ficado mais alguns minutos encarando aquela cena antes de ir dormir também, mas ninguém pode provar.

Meu momento de ser exaltado finamente havia chegado e parecia que as coisas entre a gente estavam funcionando como um reloginho suíço, cujo qual eu nunca nem vi na minha vida por motivos de pobreza. Onde eu estava mesmo?

Uh!

Nossa relação estava caminhando com total cumplicidade e crescendo igual minha barriga quando paro de fazer dieta, e isso era bom, não a barriga, mas o fato de finalmente Miguel e eu estarmos juntos. Eu já não conseguia esconder minha felicidade, às vezes eu tinha vontade de compor uma musica, plantar uma arvore e dançar na chuva tudo ao mesmo tempo, claro, ou seja, muito surtado fora de mim. Ele finalmente tinha se dado uma chance, dado a gente uma nova chance e a história de nós dois que foi interrompida sem deixar que mais nada o impedisse. Ele também tinha guardado nossa aliança de adolescente, um sinal de que os sentimentos dele não eram tão diferentes dos meus e relação a nós dois.

Estávamos namorando? Só Deus sabia. Mas não ia ser agora que eu ia me prender a rótulos, né mesmo?

Depois de um tempo, levantei a fui ao banheiro escovar os dentes, arrumar os cabelos e tirar as remelas dos olhos antes que ele acordasse. Eu parecia aquelas mulheres que não querem que o homem as veja logo depois de acordar, então ela acorda antes que ele e se enche de maquiagem, mas quem liga?

A que ponto cheguei.

Voltei pro quarto poucos minutos depois, limpinho e cheiroso e consegui ver a tempo ele começar a abrir olhos meio desorientado e se sentar na cama.

—Oi.

—Bom dia pudinzinho.

—Eu acabei dormindo, não foi? – Perguntou bocejando.

—Você apagou mais rápido que celular descarregado.

Bocejei também, apenas porque eu não consigo ver alguém bocejar e não bocejar também e caminhei o espaço que faltava em direção a cama.

Mas, mal deu tempo para que eu deitasse de bruços perto dele, e eu o vi se esquivar de mim e levantar rapidamente, mesmo que ainda meio zonzo e se afastar.

—Ei!

—Preciso lavar o rosto e escovar os dentes, seja lá como. – Explicou, indo em direção ao banheiro do quarto.

—Tem uma escova nova na primeira gaveta.

Falei mais alto para que ele pudesse ouvir mesmo já estando com a porta quase fechada, mas logo me arrependi, isso poderia soar mal, não? E eu logo tive a certeza quando a porta voltou a se abrir e ele colocou apenas a cabeça pra fora.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora