PNF - Capítulo 08

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[Rodrigo Aguilar - São Paulo, 1998]

Segredos. Todos têm segredos, uns mais chocantes e comprometedores, uns mais bobos e outros que ninguém pode saber pelo bem da pessoa que o guarda. Tipo o Batman.

Eu era o Batman, caso alguém queira saber, mas shiuu... É segredo!

Na manhã do dia seguinte – depois de eu ter passado a noite anterior todinha procurando algum vestígio que estivesse fora do lugar pros meus pais não saberem que eu dei um festa sem permissão – foi feliz a níveis que eu não consigo descrever. A minha manhã teve o estado de espírito das bailarinas e assistentes do Faustão, alias, por que elas sempre estavam sorrindo? Isso deveria dar uma dor nos músculos da bochecha no final do dia, né. Enfim... Eu acordei sem precisar que minha mãe danificasse suas cordas vocais pra fazer com que pelo menos eu me mexesse, dei bom dia pros pássaros que cantavam na minha janela e até tomei um banho.

Um banho.

Na escola não foi diferente, meu nível de felicidade, coincidentemente, aumentou quando vi um certo alguém chegar de carro com o pai, enquanto eu cumprimentava todos no portão. Não tenho muito orgulho de falar que assim que o carro sumiu de vista, eu havia seguido ele pela escola igual um segurança, e assim que pude, dei o meu bom dia mais que especial e pude ver seus olhos tão castanhos brilharem e seu sorriso bonito se formar.
Durante as aulas – já que eu dispensei meu antigo lugar lá no fundo – nós pudemos conversar um pouco e pode ser que quando eu perguntei se ele estava bem, eu me referia a algo mais profundo do que o simples fato de estar bem. E, assim que ele entendeu e confirmou, eu consegui ficar ainda mais feliz por ele não ter criado paranóias na cabeça depois do beijo.

E eu? Transbordei sorrisos que eu não consegui conter, deixando claro que estava feliz não só pela situação, mas também por ele ter conseguido aceitar aquilo como normal, porque era normal. Eu nunca tive problema de fato com gostar de pessoas, certo que eu tive que aprender a lidar com tudo sozinho há pouco tempo e ainda ninguém sabia, mas realmente nunca me incomodou. E eu queria que ele se sentisse da mesma forma, do jeito que é pra ser, sem ficar pensando que há algo errado.

Talvez, eu disse só talvez, eu tenha ficado bastante tempo o encarando, enquanto o professor passava algo na lousa e explicava e ele ouvia atentamente e escrevia no caderno. Deus, eu estava tão apaixonadinho! Mas ele ainda não era nada meu – porque eu me negava a ser aquela pessoa que da um beijo e já acha que vai casar – mas era inevitável fantasiar coisas na minha mente que funcionava a mil por hora.

Ele ainda não era nada meu. Ele não era meu namorado, não era, não era, não era mesmo.
Ah, nossos filhos seriam tão lindos e bem educados!

Não tivemos tempo de repetir ou tentar nada naquele curto espaço de tempo entre uma aula e outra e as muitas pessoas na nossa volta, mas nos olhamos por algumas vezes e até roçamos o dedo mindinho um no outro enquanto assistíamos a uma aula sem que ninguém visse.

Agora, depois daquela manhã linda – em minha opinião – cheia de pássaros e borboletas repousando no meu estomago, eu estava em casa tentando desesperadamente que meus pais me livrassem de um compromisso nada legal.

—Por que eu tenho que ir?

Perguntei pela nonagésima quarta vez, usando todo meu lado de adolescente birrento e fazendo caretas de tédio a todo instante. Minha mãe, com toda calma e paciência do mundo, visto que ela já tinha explicado isso noventa e três vezes, tratou de me responder:

—Drigo, é importante pro seu pai, então é importante pra nossa família também, por isso precisamos estar juntos.

—Mas, veja bem. – Comecei, levando a mão até o queixo e fazendo expressão de quem pensa muito. – Amanhã eu tenho aula, provavelmente isso vai acabar tarde e eu vou ficar com sono pra acordar tão cedo. Ficando com sono eu não rendo nada no colégio e posso até repetir.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora