PNF - Capítulo 18

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[Miguel Sobral]

-E ele te deu isso do nada?

Perguntei levando mais uma garfada até a boca e instantaneamente fechando os olhos por isso, aquele creme do strogonoff parecia derreter na boca, misturando aos sabores... E nossa! Aquilo era tão bom! Provavelmente eu já tinha comido demais, mas é que era praticamente impossível parar de comer.

-É... antes de ir embora, eu elogiei a comida dele, daí ele agradeceu e disse que tinha sobrado e perguntou se eu não queria levar um pouco pra casa.

Clara deu de ombros, enquanto se sentava na minha frente e me observava comer como se entendesse o que eu estava sentindo.

-Isso é muito bom.

-Espera para experimentar a sobremesa.

-Seu sogro é um pouco estranho. - Disse, mas eu não reclamaria se ele quisesse mandar uma refeição inteira através da minha filha outras vezes.

-Ele é todo louco, mas da pra ver que ele é super legal e do bem, você precisa ver, pai. Disse que da próxima vez vai me fazer uma feijoada porque provavelmente eu nunca provei uma típica brasileira.

-Provavelmente não mesmo. Se acontecer, não esquece de me trazer um pouco. - Brinquei, mas falando sério.

-Sim, mas pra isso precisamos devolver as Tupperware dele. Ele disse que eu estava sob teste, se eu devolvesse, ele confiaria em mim pra sempre. Se não, ele iria amaldiçoar até a minha terceira geração.

Me contou sorrindo e eu concordei da mesma forma, fechando a vasilha com cuidado e deixando um pouco pra comer depois. Eu seria capaz de casar com alguém que cozinha assim, só pra comer bem desse jeito todos os dias.

-Foi tudo certo lá?

-Defina 'certo'. - Ela desconversou, e eu sabia disso, e eu a conhecia muito bem pra saber que ela estava tentando adiar a conversa.

-Clara Marie Sobral.

-Ele me beijou.

-O pai do Yuri?

Perguntei espantado, pronto pra levantar dali e cometer um assassinato com ocultação de cadáver se ela confirmasse. Já era difícil o suficiente ver que sua princesa estava crescendo e se interessando por sapos - são sempre sapos, nenhum ia estar a sua altura - da idade dela, imagina se velhos tarados entrassem na parada.

-Não. O Yuri mesmo.

-Foi a força?

-Não. Pai. - Ela me olhava indignada. - Eu quis. E ele também disse que gosta de mim.

Ser pai era difícil. Ser pai de menina era ainda mais difícil. Ser pai sozinho de uma menina então...

O fato era que eu tive que aprender a ser o que ela precisava ao longo do caminho, um pai, uma mãe e até um melhor amigo. E isso incluía ouvir coisas que nem sempre pais costumam ouvir com frequência. Como tipo, beijos em garotos. É claro que eu sabia que isso aconteceria - eu me conformei com isso no seu primeiro beijo ainda no colégio, quando ela chegara toda animada em casa - e também não seria o idiota machista que tenta fazer com que isso pareça errado, então, eu só a ouvi falar e procurava dar alguns conselhos.

-Bom, isso é bom, eu acho, porque a senhorita já gostava dele antes de vir pra cá, né. Tomara que dê certo, o Yuri parece ser gente boa, educado, gentil com você... da pra ver que foi bem criado.

-Sim, alias, o Rodrigo disse que precisamos marcar um jantar pra nós todos nos conhecermos.

Ela anunciou como se tivesse se lembrado disso agora, mas alguma parte do meu cérebro processou a frase fragmentada, onde um nome chamou mais atenção do que todo o resto.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora