[Miguel Sobral]
-E ele te deu isso do nada?
Perguntei levando mais uma garfada até a boca e instantaneamente fechando os olhos por isso, aquele creme do strogonoff parecia derreter na boca, misturando aos sabores... E nossa! Aquilo era tão bom! Provavelmente eu já tinha comido demais, mas é que era praticamente impossível parar de comer.
-É... antes de ir embora, eu elogiei a comida dele, daí ele agradeceu e disse que tinha sobrado e perguntou se eu não queria levar um pouco pra casa.
Clara deu de ombros, enquanto se sentava na minha frente e me observava comer como se entendesse o que eu estava sentindo.
-Isso é muito bom.
-Espera para experimentar a sobremesa.
-Seu sogro é um pouco estranho. - Disse, mas eu não reclamaria se ele quisesse mandar uma refeição inteira através da minha filha outras vezes.
-Ele é todo louco, mas da pra ver que ele é super legal e do bem, você precisa ver, pai. Disse que da próxima vez vai me fazer uma feijoada porque provavelmente eu nunca provei uma típica brasileira.
-Provavelmente não mesmo. Se acontecer, não esquece de me trazer um pouco. - Brinquei, mas falando sério.
-Sim, mas pra isso precisamos devolver as Tupperware dele. Ele disse que eu estava sob teste, se eu devolvesse, ele confiaria em mim pra sempre. Se não, ele iria amaldiçoar até a minha terceira geração.
Me contou sorrindo e eu concordei da mesma forma, fechando a vasilha com cuidado e deixando um pouco pra comer depois. Eu seria capaz de casar com alguém que cozinha assim, só pra comer bem desse jeito todos os dias.
-Foi tudo certo lá?
-Defina 'certo'. - Ela desconversou, e eu sabia disso, e eu a conhecia muito bem pra saber que ela estava tentando adiar a conversa.
-Clara Marie Sobral.
-Ele me beijou.
-O pai do Yuri?
Perguntei espantado, pronto pra levantar dali e cometer um assassinato com ocultação de cadáver se ela confirmasse. Já era difícil o suficiente ver que sua princesa estava crescendo e se interessando por sapos - são sempre sapos, nenhum ia estar a sua altura - da idade dela, imagina se velhos tarados entrassem na parada.
-Não. O Yuri mesmo.
-Foi a força?
-Não. Pai. - Ela me olhava indignada. - Eu quis. E ele também disse que gosta de mim.
Ser pai era difícil. Ser pai de menina era ainda mais difícil. Ser pai sozinho de uma menina então...
O fato era que eu tive que aprender a ser o que ela precisava ao longo do caminho, um pai, uma mãe e até um melhor amigo. E isso incluía ouvir coisas que nem sempre pais costumam ouvir com frequência. Como tipo, beijos em garotos. É claro que eu sabia que isso aconteceria - eu me conformei com isso no seu primeiro beijo ainda no colégio, quando ela chegara toda animada em casa - e também não seria o idiota machista que tenta fazer com que isso pareça errado, então, eu só a ouvi falar e procurava dar alguns conselhos.
-Bom, isso é bom, eu acho, porque a senhorita já gostava dele antes de vir pra cá, né. Tomara que dê certo, o Yuri parece ser gente boa, educado, gentil com você... da pra ver que foi bem criado.
-Sim, alias, o Rodrigo disse que precisamos marcar um jantar pra nós todos nos conhecermos.
Ela anunciou como se tivesse se lembrado disso agora, mas alguma parte do meu cérebro processou a frase fragmentada, onde um nome chamou mais atenção do que todo o resto.
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Por Nossos Filhos
Romance"-Quer saber... eu esperava que não, mas o tempo te fez um completo idiota. Seus pais finalmente conseguiram te tornar iguais a eles e a aquela briga idiota que nossas famílias tinham. Eu ainda tinha esperança, mas você não é mais o meu Miguel. Entã...