[Miguel Sobral]
Eu não me considerava um cara que costuma fugir das coisas. Claro que não. Era só olhar pra minha vida e pra minha filha pra ver que no momento certo, eu havia enfrentado o que me foi imposto. Assumir um filho quando se tem 17 anos, não tem muita experiência da vida e está assustado com tudo o que tinha acabado de acontecer, apesar de não ter feito mais que minha obrigação, foi um ato de coragem. Sim, eu tentava acreditar nisso.
Mas, claro que ás vezes, eu me pegava pensando se não estaria errado com esses pensamentos. Tinha sim algo que eu havia fugido, ou pelo menos evitado, por todos esses anos e, ao olhar pra um ensaio pré-wedding de um casal que me contratou, ficava difícil negar. Uma a uma, eu passava as fotos recém tratadas, tentando identificar algum erro que pudesse consertar e olhava pros seus sorrisos felizes só pelo fato de estarem ali juntos.
Casamento.
Não foram muitas oportunidades, confesso, quando se tem mil coisas pra se virar sozinho e uma filha pra criar, não sobra muito tempo pra nada, mas ainda sim, não consigo dizer exatamente o que acontecera com as poucas chances. Entre uma namorada aqui, outra ali, casos onde elas não lidavam bem com a existência da minha filha, outros em que Clara não se dava bem com nenhuma delas, eu fui permanecendo solteiro. Talvez não fosse a hora mesmo, ou talvez, estava predestinado a nunca acontecer. E eu não conseguia me decidir se aquilo era bom ou ruim.
O tempo responderia, pensei.
Terminei de tratar o resto das fotos, deixando-as do jeito que eu imaginei no dia em que a tiramos lá no parque e as salvei, no dia certo eu as mandaria para o casal. Era por isso que eu havia escolhido fotografia, pra eternizar e ajudar os sonhos se tornarem mais bonitos. Ver o sorriso no rosto dia após dia das pessoas que me contratavam e saber que seria lembrado e faria parte, nem que fosse mínima, nas boas lembranças delas, não tinha preço.
—Eu acordei agora, mas já estou com sono.
Caminhando pelo corredor, ao sair do quarto que eu separei somente para o meu trabalho, encontrei a Clara no meio do caminho ainda de pijama e com cara de sono.
—Eu estou acordado desde a sete e não estou reclamando. Isso é culpa da internet... você não larga esse celular e perde a hora de dormir. – Falei enquanto a via bocejar.
—Pai, tudo pra você é culpa da internet. Se eu ficar gripada você vai dizer a mesma coisa.
—Volta a dormir, vossa alteza.
Ignorei a calunia que recebi, caminhando até a cozinha a procura urgentemente de mais uma xícara de café pra aguentar o resto do dia, ou pelo menos até a hora do almoço.
—Não posso. – Ela respondeu acompanhando meus passos. – Preciso ver as coisas do curso, e também, hoje é a minha primeira aulinha pro Enzo. Ele é tão fofo pai, vai ser difícil conseguir ensinar alguma coisa sem querer morrer de tanta fofura.
Sorri compreendido e finalmente me lembrei de que era hoje que ela começaria a dar aulas particulares de inglês a um garotinho que estava com dificuldades e a família podia pagar por isso. Uma ideia genial já que seu inglês era perfeito e uma boa maneira de ganhar dinheiro com isso, tive que revirar os olhos e reconhecer o Yuri acertou em sugerir a ela, eu nunca teria pensado.
—Quer que eu te leve?
—Não. – Negou. – O Yu vai comigo porque é caminho.
—Yu, sempre o Yuri. – Revirei os olhos novamente em descontentamento mais uma vez. – Quando sai o casamento?
Perguntei, pois ultimamente só se ouvia e via esse menino por aí, tudo era ele e ele sempre estava tão disposto a ajudar.
—Logo, logo. – Sorriu satisfeita. – Você só precisa aceitar o convite que o pai dele fez pra jantarmos todos juntos. Aí nós nos conhecemos e viramos uma família já que somos só eu e você, o Yuri, o pai e a mãe dele.
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Por Nossos Filhos
Romance"-Quer saber... eu esperava que não, mas o tempo te fez um completo idiota. Seus pais finalmente conseguiram te tornar iguais a eles e a aquela briga idiota que nossas famílias tinham. Eu ainda tinha esperança, mas você não é mais o meu Miguel. Entã...