PNF - Capítulo 28

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[Rodrigo Aguilar]

Papel e caneta na mão – e uma garrafinha de água se você exagerou na noite de ontem e está de ressaca igual a mim.

Em uma panela cozinhe o miojo somente com água ou suas lágrimas – deixando mais que três minutos, porque, convenhamos, eles não são suficientes para deixá-lo cozido – e depois escorra a água. Em outra panela, você adiciona uma quantidade razoável de creme de leite, o pozinho de tempero do miojo, cebola, cebolinha ou ervas de sua preferência e deixe ferver por alguns segundos. Em seguida jogue o macarrão em cima deste molho e mexa bem até misturar tudinho. Desligue o fogo, cuidado pra não incendiar a casa, podendo até mesmo comer na panela pra não sujar prato.

Voilá! Temos um miojo gourmet. Fácil, né? Você pode também...

—Rodrigo, você tá ouvindo o que eu estou falando?

—Óbvio.

Que não.

Que culpa eu tenho se gosto de fingir que estou apresentando um programa de culinária, assistido pelo mundo inteiro, enquanto cozinho?

—O que você quer, trem?

Questionei a Fernanda, apagando o fogo e a encarando. Levei um pouco de susto quando vi que seus cabelos agora estavam vermelhos, ruivos, sei lá, e mais forçados do que eu tentando caber em calça de quando era mais magro.

—Avisa o Yuri que eu vim aqui ver ele? E fala pra ele passar lá em casa...

—Blá blá blá ele não aparece mais lá, blá blá blá whiskas sache. – Interrompi, pois já tinha decorado aquele discurso como um ator que decora suas falas para a novela. – O moleque viveu 17 anos da vida contigo, deixa ele ficar um pouquinho comigo agora.

E era verdade. Por mais que eu tenha sido um pai presente – do tipo ir vê-lo todos os dias – ele sempre morou com a mãe até seus 16 anos. No seu aniversário de 17, ele me pediu de presente que pudesse morar comigo, com medo da minha resposta, mas esperançoso e aquilo de certa forma mexeu comigo, pois eu nem fazia ideia desse seu desejo. Sendo assim, naquele mesmo dia, um ano e meio atrás, eu tratei de pegar as coisas dele, mesmo com os protestos da Fernanda, e desde então ele morava comigo.

—Mas ele tá bem?

Ela me perguntou, me olhando de baixo pra cima, porque era baixinha demais pra me olhar nos olhos. Parecia um Smurf. Eu estou rindo, mas é com respeito.

—Melhor que eu e você. Você precisa conhecer a namorada dele. – Filha do meu primeiro namoradinho, acrescentei mentalmente, pois não havia uma maldita hora em que eu não me lembrasse disso. – É importante pra ele.

Avisei porque, ei, eu era um bom pai, sempre colocando os interesses e vontades do meu filho na frente e sabendo identificar seus sentimentos. Da vontade, né, pais ausentes?

—Vou fazer isso. – Me confirmou e eu esperava mesmo que ela fizesse isso e não ficasse com aquela frescura de ciúmes da namorada do filho. Alias, por que algumas mães têm disso? Não faz sentido. Alem do que, se as mulheres se unissem e deixassem a rivalidade de lado, já teriam dominado o mundo. – Bom, já que ele não está aqui eu vou embora, tá?. E vê se toma um banho e melhora. Você tá com uma cara horrível.

Como essa imunda ousa?

Tá, tudo bem, tá legal. Eu não ia bancar o narcisista incorrigível – e chato –que fica se enaltecendo toda hora, aquilo não era comigo. Eu deveria estar mesmo com uma cara horrível depois da bebedeira de ontem e a ressaca que sentia me consumindo inteiro.

Parando pra pensar, eu realmente não deveria ter bebido tanto naquele casamento, mas qualquer um que já começou a beber por algum motivo, se viu na difícil tarefa de parar depois. Foi que aconteceu comigo. E o meu motivo naquela hora era toda aquela velha merda de sempre. E ter o Miguel me ignorando e rejeitando até mesmo o pedido de desculpas que eu pretendia fazer, só piorou as coisas.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora