PNF - Capítulo 41

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[Rodrigo Aguilar]

Vamos lá, cadê você? Me espremi no meio das pessoas que pareciam despreocupadas, transitando de um lado pra outro vagarosamente sem se importarem com mais nada e tentei ver além do que meus olhos podiam. Aeroportos não costumavam ser mais caóticos? Ou era somente meu desespero que fazia com que tudo se tornasse um borrão em câmera lenta?

Para todos os lados que eu olhava as pessoas não pareciam se importar nenhum pouco com a minha pressa, enquanto andavam tranquilamente em busca dos seus voos ou se despedindo de alguém. A minha vontade era gritar um alto e sonoro: 'sai da minha frente porra' tamanha irritação e desespero, mas incrivelmente, o bom senso ainda não tinha resolvido me abandonar e eu agia com sanidade. Ainda. Mas não poderia prometer nada daqui pra frente.

Antes de sair apressado de casa, onde tinha ouvido a noticia de que o Miguel estava indo embora, eu ainda pude ouvir a Clara me explicar que não havia voo direto para cidade onde eles moravam e que provavelmente ele iria pegar um pra Miami primeiro, então, era isso que eu sabia e era pra lá que seguia.

Assim que processei aquilo que acontecia, eu sequer pensei duas vezes antes de tomar a decisão de vir atrás dele e nem que fosse para jogar umas verdades na cara dele. Ele precisava ouvir.

Não estava certo o que ele estava fazendo, não estava certa a forma como ele pensava e por fim, não estava certo ele fazer aquilo comigo. Ele não podia fugir assim e dar as costas pra pequena, porem verdadeira, história que tivemos, ou tentamos voltar a ter. Ainda mais depois de todos aqueles anos!

Não. Eu não ia deixar sem nem ao menos jogar tudo o que eu precisava pra fora.

Por isso que eu me apressei um pouco mais, fazendo a varredura no local outra vez e tentando a todo custo encontra-lo em meio às pessoas. Logo a minha tentativa deu resultado, em meio aos olhares pra toda direção que eu lançava, acabei por avistá-lo ao longe se dirigindo ao seu portão de embarque.

—Mig, espera. – Gritei pouco me importando com as pessoas ao redor e o que elas iam pensar.

Chamei atenção de alguns sim, mas também chamei a dele, que no mesmo instante olhou para trás e me encontrou. Seu rosto foi tomado pela surpresa e, enquanto eu me aproximava, ele olhava para todos os lugares, menos pra mim.

—Rodi.

"Voo 1488 em direção à Miami, embarque portão 5. Primeira chamada"

—Eu não acredito que você está indo embora assim. – Me aproximei por completo, ignorando a voz robotizada que anunciava seu voo e parei diante dele. – Sem nenhuma despedida descente. Não acha que merecemos pelo menos isso?

Minha voz era duro e eu também lhe dava um olhar duro.

—Rodi, não... não complica mais do que já é complicado.

Ele suplicou, olhando em meus olhos e deixando claro o quanto falava sério e estava determinado a isso, ali, eu percebi que tudo que eu fizesse ou falasse não seria levado em consideração por isso fui obrigado a baixar a guarda.

—Complicado o que? Se você tá preferindo fugir de mim... fugir de nós.

Levantei a voz inconscientemente, mesmo sem ter a intenção de iniciar uma briga pública e chamar ainda mais a atenção das pessoas ao redor, e sustentei seu olhar firmemente. Travamos uma batalha silenciosa de olhares, seria muito fácil abrir a boca e despejar tudo àquilo que eu sempre senti e ainda sentia por ele ali, seria muito fácil depois implorar que ele ficasse e não me deixasse outra vez, mas eu não o fiz.

"Voo 1488 em direção à Miami, embarque portão 5. Segunda chamada"

—É necessário. – Foi só o que ele disse, baixando o olhar e recuando.

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora