PNF - Capítulo 29 - PARTE I

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[Rodrigo Aguilar]

Caminhei a passos receosos em direção àquela mesa – eu ainda duvidava que o Miguel estivesse mesmo ali no restaurante e pedindo pra falar comigo – e em nenhum momento desviei meus olhos para qualquer outro lugar que fosse. Talvez com medo de que ele se transformasse em uma nuvem de fumaça e eu percebesse que tudo não passava de sonho, por falar em sonho, vieram alguns vislumbres estranhos em minha mente enquanto eu o encarava e a distancia entre a gente só diminuía. Estávamos na minha casa, sabe-se Deus como e porque, e alguma conversa sobre a Bisteca – minha cachorrinha – acontecia, enquanto estávamos deitados no... chão do banheiro? Isso não poderia ser mais estranho.

Inclusive é estranho até pra mim.

Por fim, acabei por dar fim de vez no espaço entre a gente e cheguei a sua mesa.

—Oi. Chamou? – Chamei a atenção, fazendo com que ele me olhasse e imediatamente largasse o garfo da sobremesa dentro do prato.

Uh! Eu poderia facilmente espetar esse garfo na sua mão, sair correndo e permanecer foragido por uma década. Porque sim, claro, ele iria me denunciar por isso.

Mas, ao invés de fechar a cara, me acusar de ser responsável pelo aumento do aquecimento global e todas as desgraças do mundo – sim, era isso que eu estava esperando – ele sorriu um pouco, minimamente, pra mim e confirmou com um aceno de cabeça.

—Sim, eu...

—Chamou o Chef? Eu sou o Chef. Aconteceu alguma coisa? A comida tá ruim... Achou um dente na comida?

—Um dente? – Ele perguntou confuso. – O que vocês andam fazendo pra perderem um dente na cozinha. Devo me preocupar?

Voltou a perguntar e sorriu. Sorriu. Aquilo era a porra de um sorriso, e era sincero, teve até direito a covinhas e tudo. Acho que o primeiro que ele deu em direção a mim depois da sua volta.

—É... é... hum, não. – Tá legal, talvez eu tenha me desestabilizado um pouco com isso. – Hum... Algum problema por aqui?

Perguntei me referindo ao seu chamado pra mudar de assunto e não deixar transparecer o quanto eu estava encabulado com aquilo.

—É... não. Eu estava trabalhando aqui perto e resolvi parar pra jantar... bom, na verdade... é... queria saber como você estava depois da noite... no casamento e tal.

Agora quem parecia encabulado era ele. Ué. Por que fazia tanta diferença pra ele saber como é que eu estava depois de uma noite de bebedeiras naquele casamento? Afinal, eu não fazia diferença pra ele, fazia? E por que ele se deu ao trabalho e vir me perguntar aquilo? Já que me viu a noite inteira e mal moveu uma palha pra ajudar.

Definitivamente o Miguel me deixava cada vez mais confuso.

—É... é... – Não gagueja, inferno. – Tô bem, eu acho. Foi imprudência demais eu beber e voltar dirigindo, mas ainda bem que não aconteceu nada.

Falei e vi seu rosto se contorcer em uma expressão que beirava a confusão, franzindo as sobrancelhas e semicerrando os olhos com aquilo que eu tinha acabado de falar, ele permaneceu assim por alguns segundos a fio para só então depois começar a falar:

—Voltar dirigindo?

—É. Eu não me orgulho disso, tá legal... se bem que eu nem me lembro direito o que aconteceu depois de um certo horário, mas aprendi a lição e nunca mais vou fazer isso.

—Você não se lembra...

Sussurrou e naquele momento e presumi que aquilo era mais pra si do que pra participar da conversa. Depois eu que sou o doido!

Por Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora