Capítulo 12

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Mais que merda, Hinata! Por que você só faz burrada?

Desperto com um sobressalto e olho para o lado. O loiro esvoaçante está ali, dormindo pesadamente, o braço direito enrolado firme em minha cintura. Ele me aperta como se quisesse me fundir ao seu corpo.

Suspiro, frustrada. Não posso deixar que isso se transforme numa bagunça maior do que já é. A minha vida já é um caos só por ser minha, e eu, como boa idiota que sou, sempre dou um jeito de piorar.

Me desvencilho com cuidado do seu abraço e me levanto. A cabeça lateja como se alguém tocasse tambor dentro dela. Ressaca. É claro. Ela sempre aparece de manhã, mas eu, teimosa, nunca aprendo.

Caminho até o banheiro e encaro meu reflexo no espelho. Os cabelos estão uma bagunça, a boca inchada, e o pescoço... coberto de marcas roxas. Perfeito. Realmente digno de mim.

- Você tá um caco, Hinata - escuto sua voz rouca atrás de mim, quase ao pé do ouvido. Sinto seus braços me envolverem de novo, com força. - Nunca imaginei que fosse tão fogosa na cama.

Ele sorri. Eu o encaro pelo espelho, com um olhar que certamente mataria se pudesse. Ele apenas ri e beija meu pescoço, onde provavelmente foi ele mesmo quem deixou metade das marcas.

- Olha... acho melhor a gente conversar - digo, me desvencilhando de seu toque e virando para encará-lo. A expressão dele muda no mesmo instante.

- O que foi, Ameixa? Vai dizer agora que foi um erro? Que a gente estava bêbado e tudo não passou de um momento?

Ele me encara fundo. Eu não sei o que dizer. Minha mente está um borrão. Eu estou um borrão. Que raio passou pela minha cabeça?

- Eu não quero que isso afete a nossa amizade, Deidara. Eu realmente não quero. Você é a única pessoa que me entende, em quem eu realmente confio - sento na tampa da privada, passo as mãos pelos cabelos, tentando conter as lágrimas. Mas é inútil. Elas vêm, com força. - Eu sinto muito. De verdade... sinto muito mesmo.

- Eu não! - ele grita, alto, me fazendo estremecer. - Eu não sinto! E não vou fingir que não gostei do que aconteceu, porque seria hipocrisia. Você pode estar se sentindo culpada, mas pra mim... Hinata, você é especial.

- Eu gosto de você, Deidara. De verdade. Mas não desse jeito.

Os olhos dele dizem algo que eu não sei nomear. Algo entre mágoa e esperança. Me sinto a pior pessoa do planeta.

- Eu sei - ele diz, por fim, com um meio sorriso que mais parece uma dor disfarçada. - Mas eu não vou desistir de você.

- Acho melhor você ir embora - falo no impulso. A verdade é que não quero continuar essa conversa. Estou destruída por dentro, e ele dizendo essas coisas só piora.

- Tudo bem - ele diz, me encarando. - Mas não pense que isso muda o que eu disse. Eu vou conquistar você, Hinata. Eu juro.

E então ele sai, me deixando sozinha no banheiro, no meio da minha própria confusão.

- E essa é a história por trás da tão famosa pintura "Mona Lisa" - finalizo minha apresentação e ouço os aplausos. Volto para o meu lugar, e sinto o peso de um olhar insistente.

É Deidara. Ele não parou de me encarar por um segundo sequer.

Já se passaram quatro semanas desde... aquilo. E desde então, venho o evitando como posso. Não porque o odeio, mas porque não sei lidar. Só quero evitar o assunto. Evitar ele. Evitar mim mesma.

Me sinto uma merda, a pior amiga possível. Depois que ele saiu do meu apartamento, minha cabeça virou um labirinto sem saída. Fiquei me perguntando por que deixei tudo chegar a esse ponto. Eu sabia. Eu sabia que isso podia acontecer. E mesmo assim...

Nem sei como consegui fazer essa apresentação hoje. Sério.

Deidara ainda me olha. A todo instante. E, sim, isso me incomoda. Muito.
Ainda não consigo acreditar que ele se confessou. Justo comigo. Comigo, Hinata - a melhor amiga dele desde sempre.

- Hinata, a gente pode conversar?

Me assusto ao ouvir sua voz. Ele está parado ao meu lado.

- Não acho uma boa ideia - digo, tentando soar firme. Respiro fundo e começo a guardar meus materiais. - Eu vou indo.

Tento passar, mas ele segura meu braço com firmeza.

- Eu preciso falar com você. Agora - sua voz é grave, decidida.

- O que você quer? - grito, sem querer. Me surpreendo com o tom. Ele também.

- Só conversar - sua mão relaxa. - Eu não aguento mais você me evitando.

- E o que você quer que eu faça, hein? Aja como se nada tivesse acontecido? Como se a gente não tivesse transado? Como se eu não tivesse dormido com meu melhor amigo?

- Eu só quero que você fale comigo! Que me trate como uma pessoa normal, droga!

Ele senta numa das cadeiras da sala. O sinal toca, anunciando o fim das aulas e o fechamento da faculdade.

- O que eu te disse aquele dia... não foi mentira. Eu gosto de você, e entendo que talvez você não possa me retribuir agora. Mas isso não justifica me tratar como se eu tivesse feito algo horrível.

- Não é só por causa disso - digo, olhando nos olhos dele. - Eu estou confusa. Atordoada.

- Não me deixa de lado, Ameixa... você é a única pessoa que realmente me entende.

- E você também é muito importante pra mim, Deidara... mas como amigo.

- Eu já entendi isso, ok? - ele segura minha mão. - Mas eu não vou desistir de te conquistar.

- Deidara...

- Então... amigos de novo? - me interrompe, balançando nossas mãos e sorrindo com aquele jeito sapeca de sempre.

- Sim - digo, e ele me puxa para um abraço apertado.

- E então, vai fazer o quê nesse fim de semana? - pergunta ainda me apertando.

- Provavelmente vou ficar em casa, assistindo séries - sorrio, aliviada.

- Que careta, Ameixa - diz, rindo. - Você vai comigo encontrar a Konan e o Yahiko no cinema.

- Espera... eu não tô a fim de ir - digo, puxando minha bolsa de volta.

- Por quê? - pergunta, desconfiado.

- Na verdade... tô com uma cólica infernal.

- Tá mentindo! - ele segura meu rosto com as duas mãos.

- Não tô, não! Quero deitar e me lamentar por ter perdido algo que talvez nunca tive - brinco, fazendo cara de drama.

- Hinata... nesses três anos eu aprendi que você é uma péssima mentirosa. Mas tudo bem, vou deixar passar. Não quero que a gente brigue de novo.

- Obrigada - digo, sorrindo.

A parte da cólica é, de fato, uma mentira. Mas ainda não me sinto pronta para voltar a agir como se nada tivesse acontecido. Preciso de um tempo. Apesar de me sentir mais leve depois de finalmente ter "me acertado" com o loiro esvoaçante, minha consciência continua me torturando.

Ah, Deus... como eu sou estranhamente horrível!

- Bom, eu já vou. Se não, perco a sessão - ele diz, saindo da sala e me deixando sozinha.

- Divirta-se... - sussurro tão baixo que é provável que ele nem tenha ouvido. - Bem... você mesma quis ficar sozinha nesse fim de semana.

Saio da faculdade. O céu já está escuro. Provavelmente são umas oito da noite. O trânsito de Nova York está mais calmo, mas as ruas seguem vivas, cheias de gente indo e vindo.

Em momentos assim, sinto falta da minha antiga casa na Inglaterra. A paz. O silêncio. Papai no escritório escrevendo outro livro, Hanabi no quarto vendo desenhos, e eu... tocando piano diante da lareira enquanto a neve caía lá fora.

- É, Hinata... você é uma completa tonta.

𝓕𝓸𝓽𝓸𝓰𝓻𝓪𝓯𝓲𝓪Onde histórias criam vida. Descubra agora