"Decifra-me."
Os dois últimos dias daquela semana passaram tão rapidamente que só notei quando cheguei em casa na sexta-feira. A escola fluía bem, a não ser pelo fato de eu estar evitando, ao máximo, estacionar próximo a parada de motos. Encontrei uma vaga do outro lado do estacionamento, ao lado de um pessegueiro, o que proporcionava uma sombra deliciosa. Naquela noite estava exausta e com meu caderno de capa amarela nas mãos, adormeci. Sonhei que corria de algo ou alguém, tanto faz, afinal não pude ver seu rosto. O que mais me impressionou foi o fato de eu sentir, de alguma forma, os olhos de Ethan me fitando, como se eu soubesse que era dele que eu fugia.
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Acordei no sábado sentindo uma enorme dor no pescoço. Afastei meu caderno e me levantei, sentindo o vento frio entrar pela minha janela, graças a uma pequena fresta entreaberta. Tentei ouvir qualquer ruído vindo do andar inferior, mais nada ouvi, talvez minha tia não estivesse em casa. Por um lado isso era bom, por outro nem tanto. Teria que preparar meu café da manhã e, confesso que, não estava muito animada com aquilo. Na minha antiga casa, no Kansas, acordava sempre com o cheirinho de panquecas feitas pela minha mãe, ouvia o barulho da TV ligada e sabia, sem mesmo ver, que meu pai estava lá embaixo lendo o jornal em sua poltrona favorita. Suspirei ao me lembrar daquilo. Saltei da cama em disparada para o banheiro e logo em seguida comecei a arrumar algo para comer. Minha tia não estava em casa e havia deixado um bilhete dizendo que estava na casa de sua amiga Abigail e que voltaria somente para o almoço. Em uma tigela despejei uma boa quantidade de Froot Loops e em seguida um pouco de leite. Esse seria meu café da manhã! Já na sala zapeie por alguns canais e nada encontrei, que ótimo! Meu sábado prometia fortes emoções.
Na parte da tarde, após o almoço, estava na cozinha quando ouvi a porta da sala se abrir. Era minha tia, soube pelas fortes batidas de seu salto sobre o assoalho. Ela sorriu ao me ver na cozinha, lavando a louça, e senti que estava feliz por não ter que se preocupar com isso. Pegou um copo e o encheu de água e depois me encarou, encostada no balcão central da cozinha:
― O que vai fazer hoje? Não acredito que vá ficar em casa em pleno sábado à noite.
Pra falar a verdade, não havia pensado nisso. Sequei minhas mãos no pano ao lado da pia e sorri meio sem jeito, sabendo que ela estava com a razão:
― Ainda não surgiu nada para fazer. – dei de ombros – Quem sabe mais tarde...
― Nenhum namoradinho? Nenhuma paquera? – ela perguntou.
Não! Ela não poderia estar me falando sobre garotos. Aquilo mais parecia uma conversa entre uma mulher e uma menina de 12 anos. Certamente ela havia se esquecido que eu já havia crescido. E então me perguntei: Será que minha tia realmente me conhece?
― Nem um, nem outro! – afirmei tentando parecer simpática – Seu prato está no forno.
Subi para meu quarto no mesmo instante que ouvi meu celular dar um sinal de mensagem. Corri até ele e lá estavam duas mensagens, uma de Elena e outra de Andrew:"Luau hoje à noite na Baker Beach. Você vai né? Nos encontre lá às 21h. Beijos, E."
"Sim, eu sei que a Elena já te avisou, mas só pra garantir. Te esperamos na Baker Beach hoje à noite, Miss Kansas. Beijos, A."
Lembrei-me da voz de Ethan ao me convidar para o tal luau e imaginei que, sem sombra de dúvidas ele estaria lá. Suspirei e decidida, resolvi ir também. Não iria deixar de viver por causa de um garoto. Cada um com sua vida, cada um com seus problemas.
A noite não estava tipicamente quente como era de seesperar, tampouco fazia frio. Vesti um short jeans soltinho, uma blusa brancasem muitos detalhes, um cardigan marfim com as mangas dobradas e para arrematar,calcei as sandálias que ganhei de minha mãe em meu último aniversário juntas.Prendi meu cabelo em um coque frouxo e não usava nada, além de rímel e blushrosado. Desci as escadas ouvindo a TV ligada e algumas vozes. Já na ponta daescada, pudê ver que minha tia estava na mesa de jantar com mais duas mulheres,jogando cartas e tomando cervejas.
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SETEMBRO (concluída)
Teen FictionAbby Stuart nunca foi muito fã de clichês, mas surpreendentemente, sua vida havia se tornado um daqueles clichês bobos de filmes. Perder seus pais em um acidente de carro, mudar de cidade e começar em uma nova escola - esses eram apenas alguns que a...