"Tão longe e tão perto."
― Eu cansei dos jogos de Ethan. – eu assumi após respirar fundo. Precisava colocar aquilo para fora antes de ser engolida pelo meu orgulho – Não quero sair ferida desse jogo maluco.
― Você só vai se machucar se um dia se apaixonar. – Elena disse e logo parou – A não ser que isso já tenha acontecido. – ela me encarou séria, talvez preocupada.
Eu soltei outro suspiro. Nem eu mesma sabia o que estava sentindo. Eu não sabia dizer o que era aquele incômodo, aquela sensação estranha que oscilava em meu peito. Eu não sabia se já havia me apaixonado – paixonites de criança contam? Por que se contarem, eu já havia me apaixonado perdidamente pelo meu primeiro professor de Educação Física. Ele era alto, moreno e lembro-me que tinha um sorriso que eu adorava. Eu devia ter uns treze anos quando isso aconteceu, mas no fundo eu sabia que aquela paixão não iria para frente. Já havia me apaixonado por Rick, meu primeiro namorado, mas nós sempre fomos muito mais amigos do que namorados para falar a verdade. Daquela vez, com Ethan, a sensação era bem diferente. Eu estava sentindo coisas que nunca havia sentido antes. Medo, vontade de correr e ao mesmo tempo vontade de ficar, sentia raiva na mesma medida em que sentia desejo de tê-lo em meus braços, sentia seu perfume em meus cabelos sempre que me afastava, desejava vê-lo em meus sonhos e torcia para que ele aparecesse em minha casa de surpresa. Eu peguei o copo de soda de Elena e deu um gole rápido só para molhar a garganta e tirar o nó que se formava nela.
― Eu não estou apaixonada por Ethan. – eu respondi pausadamente. Nem eu mesma acreditava naquelas palavras, mas torci para que Elena e Leslie acreditassem.
― Querida, eu não quero te desanimar, mas correm boatos de que Ethan não tem coração... Se é que você me entende. – Leslie disse com a voz terna e delicada – Zoey e Beca estão ai para provar isso.
― O apelido Sr. Encrenca não é por acaso. – Elena concordou.
― Eu estou bem! – eu arrumei os cabelos – Isso não vai me abalar. – afirmei disposta a enfrentar aquele sentimento e não me deixar levar pelas palavras ditas por Ethan. Eu não estava ali para me apaixonar. Eu queria apenas terminar o colégio, conseguir um emprego e começar uma faculdade bem longe dali.
Andrew e Tom voltaram e me entregaram minha garrafa d'água. Eu bebi praticamente a garrafa inteira recuperando o fôlego segundos depois. Agradeci ao ver que Leslie, após um sorriso cúmplice em minha direção, mudou de assunto me dando chances de respirar fundo e esquecer nossa conversa – pelo menos por enquanto.
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Já passava das 23h30 quando sai em direção à calçada. Para minha felicidade meu carro ainda estava estacionado no mesmo lugar em que eu o havia deixado. Despedi-me de todos ainda do lado de dentro da casa de shows e procurava a chave do Challenger quando ouvi um assobio vindo em minha direção:
― Ei, gata. Está sozinha? – um homem vestindo jaqueta de couro e botas de motoqueiro veio em minha direção. Eu havia me esquecido completamente de que estava em um dos bairros mais perigosos de São Francisco. Eu o ignorei e continuei a procurar a chave. Bela hora para ela sumir. Os passos do grandalhão se aproximavam e eu apenas conseguia pensar em entrar no carro e sumir dali. Olhei para a porta do Slims e tentei calcular a distância – provavelmente uns dez passos e eu conseguiria correr para dentro novamente – Eu perguntei se você está sozinha! – ele exclamou e um cheiro forte de álcool chegou até minhas narinas. Suas mãos pesadas estavam em meu braço me apertando com força.
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SETEMBRO (concluída)
Teen FictionAbby Stuart nunca foi muito fã de clichês, mas surpreendentemente, sua vida havia se tornado um daqueles clichês bobos de filmes. Perder seus pais em um acidente de carro, mudar de cidade e começar em uma nova escola - esses eram apenas alguns que a...