.: Capítulo 9 :.

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"E depois da tempestade..."

Por incrível que pareça acordei cedo naquela manhã de domingo. Não havia conseguido dormir tão bem como desejava e minhas olheiras confirmavam isso. Não desci para tomar café, atitude que fez minha tia bater em minha porta:

― Não vai tomar café, querida?

― Não estou com fome, tia. Mais tarde eu desço para comer algo. – respondi ainda na cama.

― Tudo bem! – ela respondeu e ouvi seus passos descerem as escadas.

Tomei um banho morno para esfriar as ideias e logo que saí do boxe ouvi meu celular apitar. Era Elena:

E. "Estou entediada! O que acha de vir aqui em para a gente fofocar?"

Se eu ficasse a tarde inteira em meu quarto, certamente iria ficar entediada também e acabaria pensando em coisas que me deixariam desanimada. Então não pensei duas vezes em responder a mensagem de Elena:

A. "Chego ai em meia-hora.".

●●●

Elena morava em um bairro ao lado do meu e cheguei um pouco antes do combinado. Assim que entrei seguimos para a cozinha. Sua casa era enorme e muito bem organizada; o que não combinava muito com ela. Seus cabelos alaranjados estavam presos em um rabo de cavalo e ela vestia algo parecido com um pijama:

― Quer sorvete? – ela perguntou abrindo a geladeira.

― Sim. – respondi me sentando em frente à ilha de mármore – Sua casa é linda! – eu disse olhando em volta.

― Minha mãe iria adorar ouvir isso – ela respondeu – Foi ela quem arquitetou e decorou a casa inteira.

― Sua mãe é arquiteta? – perguntei pegando a colher que ela me entregava.

― Sim. – ela deu uma colherada no pote bem nossa frente – E a sua?

Eu não estava preparada para responder aquela pergunta. Elena me pegou de surpresa e eu não a culpo por isso – eu nunca havia mencionado o acidente envolvendo meus pais.

― Meus pais... Morreram em um acidente de carro. – eu respondi quase sussurrando.

Elena tirou a colher da boca e me encarou com olhos assustados:

― Meu Deus, Abby. Eu sinto muito! – ela gaguejou.

― Tudo bem – eu disse – Você não sabia.

― Eu jamais podia imaginar isso... – ela ainda tentava encontrar as palavras.

― Vai fazer um ano na semana que vem. – eu resolvi abrir o jogo de uma vez. Elena sempre me ouvia e me aconselhava. Já estava na hora dela saber de tudo.

― Por isso você se mudou para cá. – ela afirmou chegando a uma conclusão.

― Sim. – eu balancei a cabeça – Moro com a minha tia Steph. Ela não estava em casa quando você foi lá.

― Eu não consigo me imaginar no seu lugar. – Elena admitiu ainda abalada – Mesmo com tudo isso você ainda consegue ser uma garota incrível e alegre.

― A vida precisa continuar não é mesmo? Minha mãe sempre me dizia isso. – eu tentei sorrir.

― Agora eu sou muito mais sua fã, Abby Stuart. – ela abriu um sorriso reconfortante. Era bom ter Elena como amiga. Eu havia tirado a sorte grande.

Nunca fui de ter muitas amigas no Kansas. Eu só via as garotas que estudavam comigo no colégio mesmo; nunca frequentamos a casa uma da outra. Minha amiga mesmo sempre foi uma vizinha chamada Lucy. Nós crescemos naquele bairro, mas não estudávamos na mesma escola. Lembro-me que sempre brincávamos na casa da árvore feita pelo pai dela em seu quintal. Era extremamente divertido! Ela se mudou um ano antes do acidente e nunca mais tive notícias suas. "Seria legal reencontrá-la um dia." – eu pensei.

― Mas me conte! O que aconteceu no baile ontem depois que eu fui embora? – perguntei mudando de assunto.

― Era isso mesmo que eu queria saber, Miss Kansas... Por que você foi embora tão cedo? O melhor do baile ainda nem tinha começado.

― Eu estava começando a ficar com dor de cabeça... – eu menti.

― Abby, eu te conheço a pouquíssimo tempo, mas eu já saquei o que acontece quando você mente. – Elena disse me fazendo lembrar de Ethan dizendo que eu não sabia mentir – Você olha para baixo sempre que isso acontece. – Elena admitiu sorrindo em seguida.

Meus olhos realmente me entregavam.

― Ok! – eu levantei os braços em sinal de rendição – Edgar tentou me agarrar e Ethan veio me defender. Eles acabaram discutindo e quase não saíram na porrada porque, por algum milagre, o Ethan achou melhor não brigarem.

― Então foi por isso... – Elena deu um pulo da cadeira em que estava sentada – Algum tempo depois que você foi embora, eles dois se engalfinharam perto do banheiro. Se não fosse pelo professor Hopinks, acho que Ethan teria desfigurado o rosto de Edgar.

― Não acredito. – eu disse fechando os olhos – Ele não fez isso! – eu bati no balcão de mármore.

― Acho que a letra E te persegue, Miss Kansas. – ela tentou brincar, mas parou de sorrir quando viu minha fisionomia carrancuda – Eu estaria muito feliz se dois garotos brigassem por minha causa. – ela sussurrou dando de ombros.

― Não sei se foi mesmo por mim que eles brigaram, Elena – eu exclamei.

― Como assim? – ela quis saber.

― Na hora em que Ethan veio me defender, Edgar estava bêbado e acabou mencionando o pai de Ethan no meio da discussão. – eu expliquei.

― Nossa! Ele pegou realmente pesado. – Elena voltou a se sentar – Agora tudo faz mais sentido ainda.

― E o que aconteceu com eles? – foi minha vez de perguntar.

― Os dois estão suspensos das aulas até terça-feira. – ela respondeu fazendo uma careta.

Como o Ethan era estúpido. Prefere sair no tapa ao assistir as aulas! Vai ver ele já está acostumado a passar por isso, afinal ele era o recordista de suspensões do colégio.

Naquela tarde, Elena também me contou que ela e Tom estavam cada vez mais próximos e que ele já a havia convidado para ir ao cinema no próximo final de semana. Eu fiquei muito animada por ela – as coisas estavam começando a dar certo para o seu lado.

― Estou adorando seguir seus conselhos, Abby. Obrigada, mais uma vez. – ela disse assim que nos despedimos. 

SETEMBRO (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora