.: Capítulo 34 :.

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"O fim de um novo começo"

Já passava das 13h quando chegamos ao hospital central. Identificamos-nos e subimos para um andar diferente do que estava acostumada a encontrá-los. O quarto 36 era no final do corredor e até chegar lá, sentia meu coração acelerado e cada vez mais angustiado. Eu só me tranquilizaria quando visse que todos estavam bem.

Ao entrar uma claridade muito forte invadiu minha vista. Uma grande janela iluminava todo o cômodo e após me acostumar com ela, encontrei o olhar que tanto esperava rever. Ele sorriu para mim e me encarou caminhar até ele em silêncio. Ethan estava na cama reclinada, vestindo aquela roupa branca e com o cabelo mais bagunçado do que o normal. Sua fisionomia estava cansada, mas um sorriso sereno não saia de seu rosto. Senti uma enorme vontade de abraçá-lo, mas me contive, pois não queria machucá-lo. Cheguei até ele e toquei sua mão – seu aroma inesquecível invadia cada parte do meu corpo e uma sensação maravilhosa de alívio tomou conta de mim. Não resisti e lhe dei um beijo. Um beijo rápido, mas o suficiente para me acalmar ainda mais.

― Senti tanto a sua falta. – ele disse ainda com a voz fraca.

― Eu também. – respondi tocando seu rosto – Está sentindo dor? – poderia parecer uma pergunta idiota, mas eu precisava saber para poder abraçá-lo em breve.

― O efeito da anestesia já começou a passar, então estou sentindo algumas fisgadas, mas nada muito doloroso. – ele respondeu apontando para uma região um pouco abaixo do seu peito.

― Fico feliz que esteja bem, querido. – foi a vez de tia Steph se pronunciar. Eu havia esquecido completamente de sua presença – Como está o seu pai?

― Pelo que me falaram ele precisa ficar mais tempo em observação para ver se a nova parte do fígado se adapta normalmente. Mas ele está acordado e respondendo muito bem a todos os exames. – Ethan concluiu.

― Ótimo! Bem, vou deixar vocês a sós. – tia Steph me encarou com um sorriso maternal – Estou na cafeteria, querida.

Acenei com a cabeça e a vi se retirar. Ethan me encarava em silêncio e mais uma vez eu tentava ler, em vão, seus pensamentos. As olheiras fundas em seu rosto denunciavam o quão horrível foram aqueles últimos dois dias.

― Desculpe não estar por perto. Eu devia ter ligado para saber como... – comecei a dizer e fui interrompida.

― Você não deve pedir desculpas. Tudo aconteceu muito rápido. É melhor você se sentar. – ele apontou com o queixo para a poltrona ao lado da cama.

Sentei-me ainda segurando sua mão e fiz um sinal para que ele continuasse:

― Depois que você foi embora, naquela tarde que você pagou a conta do hospital, começaram a fazer alguns exames no meu pai antes dele ter alta e logo detectaram que algo em seu fígado estava errado. Um inchaço ou algo do tipo devido à cirrose hepática que ele adquiriu durante todos esses anos de muita bebida. Tentaram novamente a hemodiálise, mas não adiantou nada. A única alternativa seria um transplante de emergência, porém ele não resistiria a tempo de esperar um doador falecido, então precisavam de um vivo, com o fígado saudável e com o mesmo tipo sanguíneo e eu me ofereci como doador. Fizemos mais alguns exames e eu estava dentro de todas as exigências, marcaram o transplante e cá estamos nós. – ele sorriu cansando.

Tudo realmente aconteceu muito rápido. Em dois dias tudo praticamente havia se resolvido e todos pareciam bem. Aliviei meu coração ao saber que mesmo que eu tivesse ligado no dia seguinte para saber de notícias, não conseguiria falar com Ethan devido a todo o procedimento antes do transplante. Eu estava ainda mais aliviada ao vê-lo ali sorrindo, mesmo depois de todos os acontecimentos. Lembrei-me de que havia trazido algo a ele e comecei a procurar em minha bolsa:

― Toma! É para você. – eu disse lhe entregando uma caixa de bombons sortidos – Eu sei que você não poderá comer agora, mas o que vale é a intenção. – eu sorri. – Lembro-me de que há uns meses atrás, alguém me deu bombons no dia mais difícil da minha vida. – eu disse me referindo a ele – Lembro-me também que essa mesma pessoa me disse que os bombons serviriam para adoçar meu dia e, bem, realmente funcionou.

Ethan sorria enquanto apoiava a caixa em seu colo. Seus olhos me encaravam em silêncio e notei que uma lágrima tímida caia de seu olho esquerdo. Eu nunca o havia visto chorar – na verdade eu imaginava que isso jamais acontecia – e não fazia ideia do que fazer naquela situação. Decidi respeitar e deixá-lo colocar para fora os sentimentos que deviam estar o atormentando. Ainda de cabeça baixa ele se afastou um pouco para o lado, dando-me espaço para sentar junto dele naquela minúscula cama. Eu entendi o recado e logo me sentei ao seu lado. Sua respiração estava calma e o cheiro de álcool hospitalar com o aroma de sua pele trazia uma sensação tranquilizante em meu corpo.

― Posso te ajudar em algo? – perguntei depois de um tempo.

― Sim. – ele respondeu – Cante para mim. – ele pediu agora me encarando.

Aquele pedido havia me pegado de surpresa e fiquei por alguns segundos sem reação. Meu coração acelerou e minhas mãos começaram a suar. Ele já havia me visto cantar três vezes – no luau, na festa de Andrew e no show de talentos – mas eu nunca havia cantado apenas para ele:

― Você está me pedindo um show particular? – eu brinquei tentando não demonstrar nervosismo. – Cobrarei muito caro por isso.

― Eu não vejo a hora de poder pagar essa dívida. – ele respondeu dando, finalmente, aquele sorriso torto que eu tanto esperava.

Ethan estava de volta.

― Que música você gostaria de ouvir? – perguntei ainda me preparando psicologicamente.

― Qual é a sua favorita? – ele rebateu a pergunta.

Pensei por alguns segundos e logo a imagem de meu pai veio em minha memória. Comecei a cantar sua música favorita. A música que ele cantava quase todas as noites para eu dormir quando era criança: I don't want to miss a thing do Aerosmith.

O trecho que dizia:

"Deitado perto de você, 

sentindo seu coração bater e me perguntando o que você está sonhando, 

querendo saber se é a mim que você vê."

era a parte que mais se encaixava naquele momento. Aquele momento que eu gostaria de eternizar e guardar para sempre em um potinho.

― Sua voz é linda!

― Não se acostume com isso, Ethan Walker.

― Meu nome completo fica extremamente sexy quando dito por você, Abby Stuart. – Acho que já disse isso antes.

― Mas eu jamais me cansarei de ouvir.

Foi ali, naquele momento em que eu tive a absoluta certeza de que o meu agora poderia durar para sempre. 

FIM!


SETEMBRO (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora