"Os dias turbulentos tendem a passar"
Não sei por quanto fiquei ali, naquele corredor gelado e silencioso, mas só despertei de minhas lembranças quando ouvi a voz de Ethan chamar pelo meu nome:
― Você está bem? – ele perguntou me encarando. Sua fisionomia estava cansada, mas ele parecia tranquilo.
― Estou – respondi ainda confusa – E o seu pai?
― Está na UTI, mas não corre nenhum risco mais sério. – ele disse sentando-se ao meu lado – Ele estava no bar do Stue, como eu imaginava, e bebeu apenas uma garrafa de cerveja. O suficiente para seu fígado não aguentar e entrar em colapso. Sorte que o dono do bar tem meu telefone e os paramédicos me ligaram assim que chegaram lá.
― Eu sinto muito. – foi tudo que consegui dizer – Você não quer que eu te leve para casa para poder tomar um banho e comer algo?
― Eu prefiro passar essa noite aqui. Amanhã eu vejo o que faço.
― Se quiser, eu posso te trazer algumas roupas. – eu disse solicita, pois sabia que ele não arredaria o pé daquele hospital tão cedo.
― Obrigado, Abby, mas realmente não precisa. Amanhã eu vou para casa tomar um banho e buscar os exames que os médicos pediram.
― Promete que se precisar de algo irá me ligar? – perguntei.
― Prometo. – Ethan respondeu após um suspiro cansado.
Suas mãos tocaram meu rosto e o seguraram sem força alguma – ele estava exausto, mas mesmo assim tentava sorrir. Eu me aninhei em seu ombro e senti seu cheiro amadeirado misturado ao seu suor e então sorri. Sorri, pois sabia que o estava ajudando; sorri porque ele precisava daquele conforto e somente eu, naquele momento, era quem poderia lhe dar. Sorri também porque as lembranças da noite em que perdi meus pais ainda assombravam minha mente e eu precisava esquecê-las por alguns segundos. Estar ao lado de Ethan naquele momento, era bom para ambos os lados e ele parecia também sentir isso.
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Os dias seguintes pareceram durar 48 horas, mesmo com a noite chegando mais cedo graças ao fim do outono que estava bem próximo. O Sr. Walker estava internado há duas semanas e Ethan tentava conciliar as visitas ao hospital com sua vida escolar. Eu o ajudava sempre que podia, levando-lhe as lições perdidas e até mesmo o almoço quando notava que ele havia se esquecido. Novembro estava quase terminando e o clima de Natal já começava a chegar. Uma árvore de natal foi montada na entrada do colégio e já havia guirlandas enfeitando todas as portas do corredor. Naquela mesma noite, após sair do trabalho decidi ir até o hospital. Comprei alguns donuts e já passava das 19h quando estacionei ao lado do prédio. Enquanto estava na recepção para pegar meu crachá de entrada, pude ouvir um médico conversando com uma enfermeira:
― O quê falta para o paciente do 42 ter alta? – a moça loira perguntou.
― Ele precisa passar na tesouraria para acertar as contas. – o médico respondeu.
― Certo. Vou informar isso ao filho dele. – a moça concordou e saiu andando pelo corredor com sua prancheta em mãos.
Eu me lembrava do número do quarto em que o pai de Ethan estava internado e era exatamente aquele: 42. Também sabia que nenhum dos dois teria condições de pagar por aquelas duas semanas de internação. Eles não tinham convênio médico para arcar com as despesas e a situação estava critica após o Sr. Walker perder o emprego.
― Onde fica a tesouraria? – eu perguntei a recepcionista.
Caminhando por aqueles corredores brancos e frios eu só pensava que finalmente eu os conseguiria ajudar. Ethan não havia aceitado o dinheiro do prêmio diretamente, mas agora ele teria que aceitá-lo indiretamente. Eu já havia transferido o dinheiro para minha conta bancária e com certeza seria o suficiente para pagar a conta do hospital. Bati na porta apenas uma vez e em alguns segundos um homem de cabelos negros a abriu me dando passagem com um sorriso receptivo:
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SETEMBRO (concluída)
Teen FictionAbby Stuart nunca foi muito fã de clichês, mas surpreendentemente, sua vida havia se tornado um daqueles clichês bobos de filmes. Perder seus pais em um acidente de carro, mudar de cidade e começar em uma nova escola - esses eram apenas alguns que a...