.: Capítulo 32 :.

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"Os dias turbulentos tendem a passar"

Não sei por quanto fiquei ali, naquele corredor gelado e silencioso, mas só despertei de minhas lembranças quando ouvi a voz de Ethan chamar pelo meu nome:

― Você está bem? – ele perguntou me encarando. Sua fisionomia estava cansada, mas ele parecia tranquilo.

― Estou – respondi ainda confusa – E o seu pai?

― Está na UTI, mas não corre nenhum risco mais sério. – ele disse sentando-se ao meu lado – Ele estava no bar do Stue, como eu imaginava, e bebeu apenas uma garrafa de cerveja. O suficiente para seu fígado não aguentar e entrar em colapso. Sorte que o dono do bar tem meu telefone e os paramédicos me ligaram assim que chegaram lá.

― Eu sinto muito. – foi tudo que consegui dizer – Você não quer que eu te leve para casa para poder tomar um banho e comer algo?

― Eu prefiro passar essa noite aqui. Amanhã eu vejo o que faço.

― Se quiser, eu posso te trazer algumas roupas. – eu disse solicita, pois sabia que ele não arredaria o pé daquele hospital tão cedo.

― Obrigado, Abby, mas realmente não precisa. Amanhã eu vou para casa tomar um banho e buscar os exames que os médicos pediram.

― Promete que se precisar de algo irá me ligar? – perguntei.

― Prometo. – Ethan respondeu após um suspiro cansado.

Suas mãos tocaram meu rosto e o seguraram sem força alguma – ele estava exausto, mas mesmo assim tentava sorrir. Eu me aninhei em seu ombro e senti seu cheiro amadeirado misturado ao seu suor e então sorri. Sorri, pois sabia que o estava ajudando; sorri porque ele precisava daquele conforto e somente eu, naquele momento, era quem poderia lhe dar. Sorri também porque as lembranças da noite em que perdi meus pais ainda assombravam minha mente e eu precisava esquecê-las por alguns segundos. Estar ao lado de Ethan naquele momento, era bom para ambos os lados e ele parecia também sentir isso.

●●●

Os dias seguintes pareceram durar 48 horas, mesmo com a noite chegando mais cedo graças ao fim do outono que estava bem próximo. O Sr. Walker estava internado há duas semanas e Ethan tentava conciliar as visitas ao hospital com sua vida escolar. Eu o ajudava sempre que podia, levando-lhe as lições perdidas e até mesmo o almoço quando notava que ele havia se esquecido. Novembro estava quase terminando e o clima de Natal já começava a chegar. Uma árvore de natal foi montada na entrada do colégio e já havia guirlandas enfeitando todas as portas do corredor. Naquela mesma noite, após sair do trabalho decidi ir até o hospital. Comprei alguns donuts e já passava das 19h quando estacionei ao lado do prédio. Enquanto estava na recepção para pegar meu crachá de entrada, pude ouvir um médico conversando com uma enfermeira:

― O quê falta para o paciente do 42 ter alta? – a moça loira perguntou.

― Ele precisa passar na tesouraria para acertar as contas. – o médico respondeu.

― Certo. Vou informar isso ao filho dele. – a moça concordou e saiu andando pelo corredor com sua prancheta em mãos.

Eu me lembrava do número do quarto em que o pai de Ethan estava internado e era exatamente aquele: 42. Também sabia que nenhum dos dois teria condições de pagar por aquelas duas semanas de internação. Eles não tinham convênio médico para arcar com as despesas e a situação estava critica após o Sr. Walker perder o emprego.

― Onde fica a tesouraria? – eu perguntei a recepcionista.

Caminhando por aqueles corredores brancos e frios eu só pensava que finalmente eu os conseguiria ajudar. Ethan não havia aceitado o dinheiro do prêmio diretamente, mas agora ele teria que aceitá-lo indiretamente. Eu já havia transferido o dinheiro para minha conta bancária e com certeza seria o suficiente para pagar a conta do hospital. Bati na porta apenas uma vez e em alguns segundos um homem de cabelos negros a abriu me dando passagem com um sorriso receptivo:

SETEMBRO (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora