"Gostoso mesmo é quando tudo acontece por acaso."
No domingo pela manhã, dediquei meu tempo vago em arrumar meu guarda-roupa. Prendi meu cabelo e me enfiei entre os cabides resolvendo tirar algumas peças que não me serviam mais para doação. Não fazia aquilo há um ano e estava evidente que já estava mais do que na hora. O celular tocou sobre a minha cama. Era Andrew:
― Ei Miss Kansas. Estou te atrapalhando? – ele perguntou animado.
― Claro que não. Pode falar. – eu respondi me deitando na cama.
― Vai ter um show de rock no Slims e achei que você iria gostar de ir. Convidei toda a galera e até agora todos confirmaram. Como descobri que você adora música não pensei duas vezes em te convidar. – ele disse enquanto mastigava alguma coisa.
Eu precisava mesmo me distrair.
― Estarei lá. – afirmei – Onde e que horas?
― Fica no Tenderloin às 20h. – ele respondeu – É um bairro próximo ao centro, um pouco barra pesada, mas nada absolutamente assustador. Dê seu nome para o segurança na porta que ele não irá encrencar com a sua idade. – Andrew disse confiante.
― Combinado. – eu respondi com a voz oscilante. Existiam muitos bairros barra pesadas no Kansas, só que lá as coisas eram resolvidas de outro jeito. Mantive-me segura e confirmei minha ida. Nada estragaria meu final de semana.
Às 19h30 comecei a me arrumar. Não sabia ao certo qual roupa usar em um show de Rock, afinal eu nunca havia frequentado um. Escolhi uma calça jeans escura e uma blusa regata cinza, por cima vesti meu colete preto acinturado e calcei sapatilhas. Acho que estava razoável. Peguei as chaves do carro e desci as escadas encontrando minha tia e Ralf na cozinha:
― Volto antes da meia-noite. Qualquer coisa estou no celular.
― Boa noite, querida. – tia Steph respondeu com um aceno.
Sem perguntas, sem questionamentos. Ralf estava mesmo mudando o coração de minha tia. Atravessei a cidade e assim que virei uma esquina tive certeza de que havia chegado ao Tenderloin. Andrew havia sido modesto ao dizer que o bairro era barra pesada. As calçadas estavam tomadas por mendigos e mulheres vestindo apenas micro saias e sutiãs e quase se atiravam na frente de meu carro, talvez esperando que um homem abrisse o vidro e as convidasse para um passeio.
Segui em direção ao número indicado no GPS e logo parei em frente a um prédio de tijolos vermelhos com um letreiro em neon que dizia Slims. Tive medo de não encontrar meu carro na volta, mas eu não tinha escolhas, precisava estacioná-lo por perto. Para minha sorte a calçada em frente ao bar estava lotada de pessoas formando uma fila para entrar e me senti um pouco mais segura ao descer do carro. Achei uma vaga a poucos metros da porta e após conferir por três vezes se havia trancado o Challenger segui em direção à fila.
― Quem estiver com o nome na lista, favor se dirigir até aqui. – um homem negro de cabelos raspados berrou. Ele segurava uma folha amarelada nas mãos.
Lembrei-me do que Andrew havia dito e segui até ele. Não estava muito confiante que aquilo iria dar certo, mas resolvi arriscar. Tinha 50% de chances de ouvir um sim. Aproximei-me do homem e percebi o quanto ele era alto – uns dois metros pelo menos. Ele me encarou com a cara fechada e após me medir da cabeça aos pés perguntou meu nome.
― Abby Stuart. – eu respondi tentando manter a voz calma.
Ele analisou a folha amarela e permaneceu em silêncio. Ele brincava com um palito de dentes na boca e tinha uma tatuagem estranha no pescoço.
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SETEMBRO (concluída)
Novela JuvenilAbby Stuart nunca foi muito fã de clichês, mas surpreendentemente, sua vida havia se tornado um daqueles clichês bobos de filmes. Perder seus pais em um acidente de carro, mudar de cidade e começar em uma nova escola - esses eram apenas alguns que a...