SETEMBRO (concluída)

.: Capítulo 22 :.

"É possível sentir falta do que nunca foi seu?"

Meus olhos estavam embaçados pelas teimosas lágrimas que ainda caiam, mas consegui chegar em casa sã e salva. Entrei pela porta como um foguete e passei pela cozinha sem olhar para os lados. Tia Steph estava na sala passando aspirador e chamou pelo meu nome quando me viu passar:

― Não estou com fome. – eu disse sem encará-la.

― Aconteceu alguma coisa querida? – sua voz era terna, o que fez com que mais uma lágrima caísse – Você está chorando. – aquilo era uma afirmação.

― Não foi nada. Um cisco talvez. – eu menti enxugando a lágrima intrusa. Eu estava cansada de guardar aquele sentimento. Precisava colocar para fora aquilo que estava me sufocando. Já não era mais um nó, o sentimento havia se transformado em um enorme monstro que me feria por dentro. – Por que homens são tão canalhas? – perguntei jogando minha mochila no chão.

― Ah, querida! Então é isso... – tia Steph desligou o aspirador e estendeu os braços – Venha aqui.

Me enfiei em seu abraço. Era quente e tinha aroma de rosas. Finalmente estava me sentindo segura. Eu não estava nos braços de minha mãe, porém estava sendo acolhida por alguém que também cuidava de mim.

― Essa é uma boa pergunta – ela começou a dizer – Não sei o que aconteceu e não precisa me contar se quiser, você é jovem e tem que viver sua vida ao máximo. – ela acariciava o topo de minha cabeça – Não se deixe abalar por qualquer garoto.

Eu realmente não quis lhe contar o que havia acontecido. Naquele momento eu estava vulnerável demais para relatar tudo e sofrer ainda mais. Não sei se era a TPM ou se eu realmente estava aflita por sentir algo mais forte por Ethan. Apaixonar-se não era minha intenção e nem minha maior prioridade naquele momento. Eu queria cantar, me divertir, dançar e aproveitar ao máximo todos os dias de minha vida. Uma coisa que eu havia aprendido com a morte de meus pais era que tudo podia se esvair de um dia para o outro. Você poderia sair de casa e nunca mais voltar – quem garantiria que aquele dia não seria o último? Eu estava realmente decidida a seguir o conselho de tia Steph e viver ao máximo cada segundo... Ethan Walker não ocuparia espaço algum em meu coração.

Naquela noite Elena e Leslie foram em casa e assistimos filmes e comemos muita pipoca com sorvete de chocolate. Aquele momento me ajudou a esquecer o que havia acontecido mais cedo na sala de música e nem ousei mencionar isso a elas – não gostaria de ter que contar os fatos e correr o risco de ter lágrimas caindo de meus olhos novamente.

Fizemos as unhas uma da outra e enchemos os cabelos negros de Leslie com tranças. Fazia tempo que eu não tinha uma noite de garotas como aquela. Para falar a verdade eu não me lembrava de ter noites como àquela no Kansas. Sempre tive poucas amigas e nossas noites do pijama se resumiam em ver desenhos animados e comer biscoitos feitos pela minha mãe. Cantei a música escolhida novamente e dessa vez eu mesma toquei o violão. Leslie garantiu que eu iria ganhar o concurso e Elena já se prontificou a ser minha assistente pessoal. O nervosismo estava aparente, pois faltavam poucos dias para o show de talentos – estávamos no último dia de setembro e a apresentação aconteceria em menos de duas semanas. Era impossível manter a calma afinal eu nunca havia me apresentado em público. Tinha medo de gaguejar, de travar no meio da música ou ficar rouca um dia antes, mas me esforçava para não ficar paranoica e enlouquecer antes da hora. O máximo que poderia acontecer era eu ser um desastre total e ser motivo de piada por toda a escola durante alguns meses, mas logo seria esquecida e tudo voltaria a ser como antes.

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Durante a última semana nos encontramos todos os dias para ensaiar e na sexta-feira encontrei no meu armário a lista da ordem de apresentações – eu seria a quarta participante a ser chamada. Nessa hora meu coração quase chegou à garganta e pude sentir minha respiração ficar mais pesada e lenta. Elena chegou até mim na mesma hora em que guardava o folheto em minha mochila: