.: Capítulo 11 :.

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"Tenho medos bobos e coragens absurdas."

Confesso que começar a fazer aquele trabalho foi mais interessante do que eu imaginei que seria. Ele não ficou pronto naquela noite e precisaríamos de mais uma reunião para acertar os últimos detalhes.

― Vá pela sombra! – ele disse apoiado na porta de meu carro antes de eu ir embora.

― E você pare de arrumar encrencas por onde passa. – eu pedi séria.

― Vou tentar. – ele respondeu sorrindo de lado.

A noite já havia caído e poucas estrelas começavam a aparecer no céu. Dirigi de volta para casa sentindo o perfume de Ethan ainda em minha blusa. Às vezes me pegava sorrindo sem querer. 

Quem realmente estava acabando comigo era ele.

Naquela noite dormi como um anjo e tive sonhos ótimos. Dormi tão pesado que quase perdi a hora para a aula de terça-feira. Era incrível como meu humor havia mudado naquela manhã; raramente eu acordava tão disposta como naquele dia. Eu tentava não pensar em Ethan, mas era praticamente impossível. Assisti todas as aulas daquela manhã com uma disposição de dar inveja e assim que cheguei em meu carro para ir embora, encontrei Beca, a garota do segundo ano que estava aos beijos com Ethan no Baile de Outono, encostada no capô:

― Olá Miss Kansas – ela disse com um tom irônico.

― Nós nos conhecemos? – perguntei com um tom irônico.

― Eu soube que você foi à casa de Ethan ontem ajudá-lo com um trabalho – ela começou a dizer parecendo não se importar com a minha pergunta ― E eu sei também que vocês, na verdade, não são amigos como ele me disse no baile.

― De onde você tirou isso? – eu estava confusa.

― Zoey me contou. – ela respondeu dando de ombros – Também me contou que já viu vocês dois juntos, se é que você me entende.

― Vocês duas são malucas. – eu tentei abrir a porta do carro, mas ela a segurou.

― Ethan Walker está muito bem comigo – ela fez questão de enfatizar essa última palavra – Fique fora disso, ok?

― Fique a vontade, querida. Ele é todinho seu. – eu respondi sem titubear – Agora você pode me dar licença? – eu pedi educadamente entrando no meu carro.

― Você não me engana, garota. – foi a última coisa que ouvi antes de sair da vaga.

●●●

A semana passou tão rápido que nem me dei conta de que a sexta-feira havia chegado. No trabalho eu notei uma movimentação estranha no salão dos fundos. Segui até lá e encontrei todas as crianças e Julieth admirando algumas fotos. Ao me aproximar consegui enxergar diversas imagens expostas nos murais – elas eram lindas. De repente me dei conta de aquelas eram as fotos que Ethan havia tirado no dia em que o encontrei ali pela primeira vez. As crianças estavam encantadas, assim como eu - ele tinha muito talento para fotografia. Olhei com mais atenção e percebi que não haviam créditos nas imagens, uma pena, pois ele era ótimo e merecia reconhecimento.

Naquela tarde, eu estava torcendo para que o final de semana não existisse, afinal de contas o sábado seria estranho, solitário e cheio de saudade. Eu não estava preparada para lembrar que amanhã faria um ano da morte dos meus pais – eu apenas queria que aquele dia vinte e seis de setembro não existisse em meu calendário.

Me despedi de Julieth e comecei a caminhar em direção ao ponto de ônibus – meu carro tinha resolvido não funcionar naquele dia também. No meio do caminho, ao atravessar a rua, dois carros se chocaram bem a minha frente. Com a pancada eu acabei me assustando e fiquei paralisada ali, observando a movimentação e a bagunça que começava a se formar. Eu também não estava preparada para ver uma batida de carro justo agora – aquilo me trazia péssimas lembranças.

SETEMBRO (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora